Porto - Já lá vão dois anos desde que um trio de jornalistas da “velha guarda” – para nós que abraçámos esta nobre profissão apenas no ano 2000, quando o país ainda estava imerso na guerra civil – decidiu dar o corpo, a alma e o tempo para lançar a primeira edição do jornal Pungo a Ndongo, que, para os menos familiarizados, significa “Pedras Altas” em português corrente.

Fonte: Club-k.net

Com uma dose saudável de audácia, este trio, composto por: Filipe Eduardo (com quem tive o prazer de trocar impressões num convívio de jornalistas em 2012), Ireneu Mujoco (que conheço desde os tempos do ‘malogrado’ jornal "O Independente", no São Paulo, e depois ao longo desta longa jornada profissional) e Júlio Gomes (com quem partilhei a redacção do falecido jornal "Agora" em duas ocasiões, de 2002 a 2003 e depois de 2005 a 2007), resolveu arrastar [pelo menos o nome] as lendárias pedras de Pungo a Ndongo até à cidade capital [Luanda].

Lembro-me de ter recebido este novo rebento jornalístico pelas mãos de Júlio Gomes, a quem tenho um carinho especial desde os dias do saudoso "Agora", de Aguiar dos Santos, via WhatsApp.

E, desde então, meus caros, este trio de veteranos apaixonados – que só respiram jornalismo – conseguiu, contra todas as probabilidades, produzir 100 edições consecutivas, enfrentando as habituais dificuldades (falta de apoio financeiro e outras delícias) que o mercado jornalístico angolano reserva para os aventureiros da imprensa privada.

Confesso que, com décadas de experiência que carrego desde o falecido jornal "Actual", de Leopoldo Baio, até à revista ANIESA, onde fui director até no ano transacto, sei bem que produzir uma edição de jornal ou revista não é (e nunca será) tarefa fácil.

Cada edição é um desafio colossal, que exige uma paciência de santo e uma inteligência de mestre até que o produto final esteja pronto. Queimei os primeiros 11 anos da minha juventude nos fechos de jornais. Primeiro como jornalista, depois como designer gráfico e, finalmente, acumulando as duas funções – tudo para ganhar mais uns trocos [dinheiro, claro].

Esta minha paixão insana pelo jornalismo custou-me quase tudo – perdi namoradas por falta de tempo e não tive sequer oportunidade de aprender a dançar kizomba, muito menos kuduro – preferindo passar mais tempo com os kotas nas redacções ou a fazer reportagens.

Como dizia, cada fecho de edição é uma vitória. Agora imagine, caro leitor, 100 edições!? Isso merece uma celebração daquelas que Henrique Miguel “Riquinho” costumava oferecer nos bons tempos da saudosa Casa Blanca.

Obviamente, este trio de “troca-letras” vai comemorar à moda de Malanje [por que será? Ora, é só prestar atenção ao nome do jornal para encontrar a resposta], com comes e bebes. É uma pena que não poderei participar, pois estou do outro lado do Atlântico por motivos académicos.
Outrossim, não sou de meter a foice em seara alheia, mas, já que a direcção deste jornal fez questão de sublinhar, no convite que me enviou, que tecesse alguns comentários, vou aqui dar o meu tiro: Parem, por favor, de demonizar a direcção e os membros do partido UNITA. Isso não valoriza nem enobrece a imagem do jornal.

Em todas as edições produzidas até agora, há sempre uma, duas ou mais páginas criticando, às vezes sem razão, os dirigentes deste partido. Cada ataque dirigido à UNITA parece sugerir que há um “desacerto” (ou negócio) mal resolvido entre a direcção deste jornal e o partido liderado por Adalberto Costa Júnior.

Sinceramente, não sou contra publicações (desde que tenham cabeça, tronco e membros) sobre este partido histórico. Mas, às vezes, como já constatei em inúmeras edições, algumas dessas denúncias são vazias e sem fundamento. Portanto, não mereciam sequer ocupar uma coluna, quanto mais meia página deste jornal.

Além disso, a direcção deste jornal deveria prestar mais atenção à revisão das peças jornalísticas. Acredito que, por cansaço ou esgotamento, os editores deixam passar gralhas [erros básicos] que poderiam ser eliminadas logo na primeira leitura.

A boa notícia é que, nos últimos meses, este jornal se renovou e passou a trazer em cada edição um suculento tema da semana. Eu sou fã de boas reportagens e tenho toda a paciência do mundo para lê-las até ao último parágrafo. Afinal, ler uma boa escrita não tem preço.

Por isso, digo de boca cheia: a culpa não é vossa. Como disse desde o início, não é fácil produzir uma edição de um jornal. Agora imagine 100? É obra!

Abraço a todos.

*Jornalista, Jurista, Defensor dos Direitos do Consumidor e Activista dos Direitos Humanos