Luanda - Uma vez mais, um importante grupo de Oficiais Generais das FAA, depois de ter cumprido com zelo e dedicação o serviço militar e ter sobrevivido às várias batalhas, foi lamentavelmente devolvido às suas famílias de mãos a abanar e de bolsos vazios. Isso não se faz. Em Angola, até dá a impressão de que uns são tratados como enteados e outros, como filhos – filhos com direito a tudo e mais alguma coisa; são mimados com regalias absurdas, mesmo sabendo que, para além de serem incompetentes no que fazem, nunca prestaram serviços relevantes à Pátria. Mas os considerados enteados, os militares, que cumpriram com competência as suas tarefas e arriscaram permanentemente as suas vidas em defesa da Pátria, na hora de dividir a riqueza nacional, não são tidos nem achados. Isso dói.

Fonte: Club-k.net

Infelizmente, por razões sobejamente conhecidas, os nossos militares evitam reclamar. Eles falam pouco. Preferem sofrer calados. Eu, voluntariamente e sem nenhum mandato para tal, vou me atrevendo a falar por eles, porque sinto que muitos deles não estão satisfeitos com isto. A única alegria que demonstram ter, é a de terem cumprido a missão de defender a Pátria-mãe. A missão foi cumprida e muito bem cumprida. Então, se a missão foi realmente cumprida, por quê que na hora de arrumar as botas e tirar a farda, a Pátria apenas lhe dá a Guia para a Caixa de Segurança Social das FAA e um “kadiploma”, sem nenhum cheque acompanhado? Não se trata de pagamento, mas sim, de reconhecimento. Um homem que, desde em 1974, não fez outra coisa a não ser cumprir ordens superiores; comandar Unidades Militares; defender a integridade territorial; participar de missão de manutenção de paz internacionais – não pode acabar dessa maneira. Isso é triste.

Não é justo, por exemplo, que quem tem a sorte de ir trabalhar para Sonangol, para Bodiva, ou para a AGT ou coisa parecida, depois de um ano, passa a ostentar um nível de vida superior a de um Oficial Superior das FAA, que é militar há mais de 45 anos! Peço imensas desculpas! Não consigo engolir isso, pois é inadmissível. O País é de todos; as riquezas são para todos; as regalias deveriam ser também para todos. Digo todos, mas principalmente para aqueles que no momento mais difícil responderam pronto ao chamamento da Pátria.

Ora bem, na qualidade de cidadão e contribuinte assíduo do Orçamento Geral do Estado, sinto-me no dever patriótico de ser uma das vozes daqueles que, por Lei, não têm voz. Sei que ninguém me escuta, mas vou continuar a apelar para que se faça um pouco mais no sentido de dignificar os combates da liberdade na hora de irem para a Reforma. Eles não podem acabar mal em tempo de Paz.

Voltarei...

Luanda, 28 de Agosto de 2024.
Gerson Prata