Luanda - Moçambique, o país lusófono da costa oriental da África Austral realizou novas eleições a 9 de outubro. O país de Samora Machel e da escritora Paulina Chiziane tem a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) no governo há cinquenta anos. Este partido político chegou ao poder após a independência do país em 1975, liderado por Samora Machel, que morreu em 1986 num acidente de avião e foi substituído por Joaquim Alberto Chissano. Enquanto o regime comunista-leninista esteve no poder em Moçambique, liderado pela FRELIMO, a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), liderada por Afonso Dhalakama, lutou pela democratização do país nas florestas e na clandestinidade. Com a queda do bloco comunista devido ao fim da Guerra Fria, tiveram lugar em Moçambique negociações de paz entre a FRELIMO e a RENAMO, mediadas pelo Vaticano, estabelecendo-se assim a democracia no país através de um sistema multipartidário e de uma economia de mercado. Em 1994, realizaram-se as primeiras eleições multipartidárias neste país irmão, eleições em que participaram partidos como a RENAMO, a UD (União Democrática) e outros, tendo a FRELIMO saído vencedora e, com estes resultados, a FRELIMO agarrou-se ao poder até aos dias de hoje.
Fonte: Club-k.net
O governo da FRELIMO, segundo a oposição do país, tem sido marcado por acusações de corrupção endémica, perseguições, assassinatos de opositores e manifestantes, pobreza, narcotráfico, violência e atraso social. Um regime cleptocrático foi instaurado no país sob a capa de eleições em que ganha sempre o mesmo partido. Estas situações de injustiça sócio-política levaram ao crescimento de uma força jovem de contestação no país, que exigia a descentralização do poder de Maputo, a capital, para o resto do país, com a realização de eleições autárquicas. Em resposta a estas exigências populares, têm sido realizadas eleições autárquicas no país sendo as últimas ganhas maioritariamente pela RENAMO em todas as províncias do país, incluindo a capital, Maputo. Apesar desta retumbante vitória, não se permitiu ao partido vencedor exercer o governo nestas localidades.
A RENAMO, o maior partido da oposição no país, tinha nas suas fileiras Venâncio Mondlane, um engenheiro e banqueiro com um discurso muito crítico com o governo e bastante carismático, que, tendo tido divergências com a liderança deste partido, após as eleições autárquicas, saiu do mesmo e encorajado pelo povo, decidiu concorrer às eleições presidenciais como candidato independente, sendo apoiado pelo partido PODEMOS e por diferentes forças da sociedade civil moçambicana. Tendo em conta o historial de fraudes nos processos eleitorais neste país, Venâncio Mondlane e a sua equipa estabeleceram um sistema de escrutínio (computacional e logístico) baseado na compilação rigorosa das cópias das actas das mesas de voto de todas as assembleias de voto, e com base nos resultados do processamento destes dados, Venâncio Mondlane declarou-se vencedor destas eleições. Nos seus discursos nas redes sociais e em alguns canais digitais, indicou que qualquer declaração de vitória da FRELIMO liderada por Daniel Chapo em substituição do atual presidente em funções do país, Filipe Nyusi, seria considerada fraude eleitoral e, por isso, a população sairia à rua em manifestações exigindo o restabelecimento da verdade eleitoral. Vários observadores internacionais convidados para acompanhar as eleições em Moçambique, incluindo os da União europeia UE, alegam ter havido várias irregularidades durante a votação realizada no dia 9 de outubro neste país, tais como: votos previamente expressos a favor do partido no poder, nomes repetidos, pessoas falecidas nas listas, falta de transparência, tempo excessivo para a divulgação dos resultados (quinze dias) entre outras irregularidades pelas quais recomendaram à CNE (Comissão Nacional de Eleições) a publicação de todos os resultados online. Apesar destas declarações, o governo insiste que tudo correu bem.
Venâncio Mondlane e a sua equipa alegaram estar a receber ameaças de morte de elementos próximos ao partido no poder através de várias publicações nas suas redes sociais, ameaças essas que se materializaram no passado dia 19 de outubro, com os assassinatos no centro de Maputo do seu advogado e assessor jurídico e do seu aliado político do partido PODEMOS a tiro. Venâncio Mondlane não hesitou em culpar as forças de defesa e segurança do Estado por estes assassinatos. Mondlane diz que não teme pela sua vida, que não sairá do país para o exílio e que se o quiserem assassinar, sabem onde o encontrar. Aproveitou a oportunidade para mobilizar os seus seguidores a manifestarem-se nas ruas do país, exigindo justiça por estas mortes. Após tomar conhecimento do assassinato do advogado e assessor jurídico de Venâncio Mondlane, membros da Ordem dos Advogados de Moçambique deslocaram-se ao local onde foram encontrados mortos o seu colega Elvino Dias e o político Paulo Guambe, emitindo um comunicado de repúdio e consternação pelo sucedido.
A morte destes dois grandes aliados de Venâncio Mondlane não diminui a sua força, nem a sua determinação em relação à necessidade de mudança em Moçambique. Para o povo, Venâncio é o legítimo vencedor destas eleições, abrindo assim uma nova etapa na história política do país, marcada pela incompetência hegemónica da FRELIMO. Mondlane promete trazer a mudança que Moçambique precisa, resolver o eterno conflito em Cabo Delgado causado pela luta contra o jihadismo nesta zona, bem como acabar com a corrupção, a pobreza, a falta de oportunidades e devolver a esperança a Moçambique. Para sabermos os resultados finais destas eleições teremos de esperar até ao dia 25 deste mês, até lá...Manos e manas de Mozambique, estamos juntos.
Tukasi Pamosi. Tuala Kumoxi. Tuli Hamoya. Tuli hamuwika…
Estamos solidários com o povo de Moçambique. ¡Unidos venceremos!