Luanda - O dia 3 de dezembro de 2024 ficará marcado na história de Angola como a data da primeira visita de um Presidente dos Estados Unidos ao país. Embora esse momento represente um marco significativo nas relações bilaterais entre as duas nações, é essencial que Angola aproveite esta oportunidade histórica para implementar estratégias concretas voltadas à atração de investimentos sustentáveis, diversificação da economia e fortalecimento institucional. O impacto real dessa visita dependerá, sobretudo, das ações subsequentes que transformem promessas e acordos em resultados tangíveis para os cidadãos angolanos.

Fonte: Club-k.net

E é importante realçar que, a visita de Joe Biden a Angola não deve ser vista apenas como um gesto simbólico (tal como referem alguns analistas), mas como parte de uma estratégia mais ampla dos EUA para reforçar suas relações com a África. De lembrar que a administração Joe Biden tem priorizado o continente africano em questões como segurança energética, transição energética e redução da influência de rivais estratégicos, como China e Rússia (Climate Summit em 2021 e em COP27 no Egito, Joe Biden e sua administração se comprometeram a colaborar com nações africanas para financiar projetos de energia renovável e reduzir a dependência de combustíveis fósseis)1. Este reconhecimento por parte de uma potência global como os EUA demonstra que Angola está conseguindo atrair atenção e investimentos estratégicos.


No entanto, é normal que para muitos, o fato de Joe Biden estar em fim de mandato gere algumas incertezas, já que políticas podem mudar com uma nova administração. Em 20 de janeiro de 2025, os republicanos reassumirão a Casa Branca sob a liderança de Donald Trump.


Com Trump na presidência, a estratégia americana para a África pode sofrer alterações, dado que, historicamente, Trump demonstrou um menor interesse no continente africano durante seu primeiro mandato. A abordagem dele era mais transacional e menos focada em iniciativas multilaterais ou de longo prazo. Só a título de exemplo num dos seus discursos Trump utilizou a expressão “países de merda” ao se referir a alguns países africanos, o que deixou alguns líderes profundamente chocados tal como referiu Moussa Faki presidente da Comissão da União Africana ao dizer que “ as afirmações de Trump são de “exclusão” para com o continente africano” e lamentou ainda a decisão do chefe de Estado dos EUA na altura sobre a redução das contribuições para o orçamento das missões de manutenção de paz à escala mundial.2 Para muitos analistas esta forma de posicionamento de Trump, pode afetar o progresso de projetos como o Corredor do Lobito e a parceria estratégica com Angola e outros países africanos.


Contudo, é importante frisar que algumas iniciativas económicas e de segurança energética têm um caráter institucional e interesse estratégico que transcende administrações. Por exemplo o setor privado dos EUA, que tem grande influência sobre decisões económicas, pode continuar investindo em África, independentemente da mudança de governo principalmente na exportação de minerais como cobre e cobalto, essenciais para a transição energética global. Com a alta demanda por esses recursos, empresários podem ver oportunidades de longo prazo, mesmo em um ambiente geopolítico desafiador.


Só a título de exemplo, a China é atualmente o maior mercado de carros elétricos do mundo, dominando também a cadeia de suprimentos de baterias, especialmente no que diz respeito à mineração e processamento de minerais críticos como lítio, cobalto e níquel. Os EUA, preocupados com a dependência da China, procuram expandir suas próprias capacidades de produção e buscar parcerias internacionais. Angola e outros países africanos possuem reservas significativas de minerais essenciais para a fabricação de baterias. O Corredor do Lobito, por exemplo, facilita o transporte desses minerais para mercados globais, tornando-se uma peça-chave na estratégia dos EUA para diversificar as cadeias de suprimentos longe da China. É nesta lógica de estratégia geopolítica que acredito que este projeto é para continuar independentemente da administração em exercício.


Concluindo, para garantir que empresários do setor privado continuem a investir no Corredor do Lobito e em outros projetos estratégicos da região, independentemente de mudanças na liderança dos EUA, é fundamental que sejam asseguradas:

 Estabilidade política e segurança jurídica na região;
 Incentivos fiscais e financeiros para atrair capital estrangeiro;
 Infraestruturas robustas, que sustentem as operações logísticas e industriais;
 Parcerias estratégicas com governos, organizações internacionais e o setor privado.

Investigador em Economia da Energia e Docente Universitário Atentamente, subscrevo-me: