Luanda - A política angolana, cheia de manobras e jogadas de bastidores, parece mais uma partida de xadrez. De um lado, João Lourenço e Fernando Garcia Miala, estrategistas do MPLA, arquitetam novas fórmulas para manter o controle. De outro, a UNITA, liderada por Adalberto Costa Júnior, resiste, fortalecida pela Frente Patriótica Unida (FPU), um fenômeno que abalou as estruturas de poder nas últimas eleições. No meio desse embate, surge Abel Chivukuvuku e o PRAJA-Servir Angola, a peça que o MPLA acredita ser a chave para desestabilizar a oposição.
Fonte: Club-k.net
Não é a primeira vez que Abel Chivukuvuku ocupa o centro do palco político. Com a CASA-CE, em 2012, ele conseguiu posicionar-se como a terceira força política do país, um feito significativo. Porém, a ascensão de João Lourenço à Presidência em 2017 marcou o início de sua queda. O Tribunal Constitucional, ferramenta do regime, bloqueou suas tentativas de transformar a coligação em partido político. A CASA-CE foi esvaziada, e Chivukuvuku parecia destinado ao ostracismo político.
Adalberto Costa Júnior, numa jogada de unidade e estratégia, estendeu-lhe a mão em 2021. Era um gesto de sobrevivência mútua: Chivukuvuku precisava de legitimidade e espaço, e a FPU ganhava força simbólica ao reunir figuras da oposição em torno de um objetivo comum – o fim da hegemonia do MPLA. Contudo, ao conquistar a legalização do PRAJA-Servir Angola, Chivukuvuku revelou novas intenções: transformar a FPU em uma coligação de facto, com símbolos e identidade própria.
Essa proposta, porém, encontra na UNITA uma muralha intransponível. Fundada em 1966, a UNITA não é apenas um partido; é um legado histórico, forjado em meio à perseguição, à guerra e à resistência. Seus símbolos não são negociáveis. A tentativa de diluir essa identidade em um novo projecto político é vista como uma ilusão, talvez até como uma armadilha. Para os militantes da UNITA, o sacrifício da sua história seria inaceitável – uma traição à memória de Jonas Savimbi e à luta de gerações.
João Lourenço, em sua tentativa de minar a oposição, aposta na divisão. A pressão para que o PRAJA-Servir Angola abandone a FPU é uma estratégia clara: desarticular a unidade que se mostrou tão eficaz nas urnas. No entanto, o MPLA subestima a força histórica da UNITA e a habilidade de Adalberto Costa Júnior em liderar a oposição. A Frente Patriótica Unida não é apenas uma estrutura política; é um fenômeno que nasceu do desejo de mudança, um grito colectivo contra 50 anos de poder absoluto.
Jonas Savimbi, em suas reflexões finais, advertiu os militantes da UNITA sobre as manobras do MPLA. “O combate é e será entre o MPLA e a UNITA”, disse ele, apontando para a criação de “partidecos” como uma estratégia de engano. Mais do que isso, Savimbi aconselhou: apostem naquele que o MPLA não gosta. João Lourenço e sua máquina de propaganda têm provado, dia após dia, que não gostam de Adalberto Costa Júnior. Ele é a personificação da ameaça ao regime, um líder que representa a possibilidade real de alternância de poder.
A jogada de João Lourenço e Miala, centrada em Chivukuvuku, pode ser engenhosa, mas não é infalível. A UNITA, com sua história, sua base sólida e sua liderança determinada, continua sendo o pilar da oposição. O MPLA pode tentar dividir, mas a essência da Frente Patriótica Unida é a união pela mudança. E nessa partida de xadrez, o xeque-mate ainda está longe de ser decidido.
Por Hitler Samussuku