Luanda - Meus caros compatriotas, que tempos gloriosos vivemos! Norberto Garcia, numa epifania matinal na rádio MFM, iluminou-nos com uma verdade incontestável: João Lourenço será lembrado como o grande libertador do povo angolano! Sim, senhor! Quem diria que, depois de décadas de amarras invisíveis, o nosso povo finalmente poderia gozar do luxo de pensar (com moderação, claro) e decidir livremente (dentro dos limites previamente estipulados)?

Fonte: Club-k.net

Que alegria saber que, sob a liderança visionária do nosso Presidente, as liberdades individuais floresceram como nunca! Agora, podemos falar abertamente nas ruas—desde que ninguém esteja a gravar. Podemos expressar opiniões políticas—desde que sejam as correctas. Podemos até mesmo protestar—desde que não incomodemos ninguém no poder. Ora, se isto não é democracia no seu estado mais puro, então eu não sei o que é!

 

E as instituições? Ah, que espectáculo de transparência e independência! Os tribunais nunca estiveram tão livres para tomar decisões ousadas… a favor do Estado. A imprensa goza de uma liberdade inédita… para reproduzir discursos oficiais com a maior fidelidade. E os partidos da oposição? Estes, coitados, continuam livres para sonhar com um dia em que a liberdade que têm no papel se traduza em algo palpável.

 

Mas não sejamos ingratos! Se há algo que João Lourenço nos ensinou, é que a liberdade deve ser administrada com cautela. Um povo muito livre pode começar a pensar demais, e sabemos que isso pode ser perigoso. Por isso, devemos agradecer pela democratização estratégica: um bocadinho aqui, um retoquezinho ali, mas sem exageros!

 

Portanto, caros angolanos, celebremos este legado de ouro! E, quem sabe, no próximo mandato, possamos até conquistar um novo direito revolucionário: o direito de discordar sem consequências! Aí sim, Norberto Garcia poderá voltar à rádio e dizer que João Lourenço não apenas deu mais liberdade ao povo, mas deu-lhe também a ousadia de usá-la.