Luanda - A nomeação de um novo Director Provincial do SME em Luanda reacendeu um debate que já deveria ter sido resolvido há muito tempo: no Ministério do Interior (MININT), a hierarquia militar e a gestão pública são tratadas como se fossem a mesma coisa. Porque, afinal, quem precisa de formação específica em administração pública, planeamento estratégico ou políticas de segurança quando se pode simplesmente ostentar uma patente elevada e mandar em tudo?
Fonte: Club-k.net
A lógica é infalível: se alguém tem uma estrela ou um galão a mais, automaticamente sabe gerir pessoas, elaborar políticas, administrar recursos e modernizar serviços públicos. É mais ou menos como supor que um piloto de avião pode, sem problemas, gerir um hospital—afinal, ambos lidam com emergências, certo?
Promoções por Mérito (Ou Algo Parecido)
A progressão de carreira no MININT é uma obra-prima da engenharia burocrática. Quando surge uma vaga de direcção administrativa, a solução é simples: promove-se alguém dentro da estrutura militar. Para quê procurar um gestor qualificado quando se pode simplesmente inflacionar a hierarquia e manter tudo na mesma?
A regra é clara: se há necessidade de um novo director, ele não precisa entender de gestão pública, finanças ou modernização administrativa—precisa, sim, de uma patente compatível. O resultado? Se nos próximos cinco anos houver cinco novas direcções a preencher, serão cinco novas promoções a oficiais superiores, independentemente de competência técnica. E assim seguimos, inchando a estrutura, empilhando patentes e mantendo a aparência de ordem.
Enquanto isso, os verdadeiros especialistas, aqueles que passaram anos a estudar e a trabalhar na administração pública, assistem de fora, porque, bem… não têm patentes suficientes.
A Fórmula Secreta do MININT: Patente Acima de Competência
As boas práticas de gestão ensinam que funções operacionais e funções administrativas devem ser separadas. Mas o MININT tem uma abordagem inovadora: mistura tudo num só pacote e torce para dar certo. Assim, um comandante operacional, treinado para acções policiais e missões de segurança, é de repente colocado à frente de uma estrutura administrativa que exige conhecimento em gestão pública, direito administrativo, tecnologia da informação e políticas estratégicas.
O resultado é previsível: conflitos internos, decisões desastrosas, processos emperrados e um ambiente onde ninguém sabe exatamente quem responde a quem. Mas isso não parece ser um problema, desde que a hierarquia esteja intacta e os cargos continuem distribuídos de forma "equilibrada".
E os cidadãos? Ah, esses continuam a enfrentar as mesmas filas intermináveis, os mesmos processos burocráticos, a mesma eficiência lendária dos serviços públicos. Mas calma, tudo isso é apenas um detalhe no grande esquema das coisas.
Reformas? Sim, Mas Com Calma… Ou Nunca
Reformar esse sistema seria lógico, certo? Separar funções administrativas de funções operacionais, garantir que os cargos sejam preenchidos por mérito técnico e não por conveniência hierárquica. Mas quem realmente quer isso?
Mexer nessa estrutura significa contrariar interesses, desmontar esquemas e, pior, obrigar muita gente a provar que realmente sabe o que está a fazer. E isso, convenhamos, seria pedir demais.
Então, seguimos assim: mantendo a tradição, fingindo que está tudo a funcionar e promovendo quem precisa ser promovido—não por competência, mas porque a hierarquia assim o exige. O MININT segue sendo o mesmo grande teatro de sempre: muita farda, pouco resultado e um público cada vez mais descrente no espetáculo.