Luanda - Em Angola, criar um partido político tornou-se um passatempo tão popular quanto o futebol de rua. Já não se trata de construir um projecto de sociedade ou defender uma ideologia consistente – isso é coisa do passado! Agora, a política nacional funciona como um reality show onde cada ex-governante ressentido decide fundar o seu próprio partido para provar que ainda está "no jogo".

Fonte: Club-k.net

O caso mais recente é o do partido Cidadania, liderado por Júlio Bessa, ex-MPLA, ex-ministro das Finanças e agora exilado do "sistema". O novo partido é, evidentemente, uma plataforma revolucionária... de autopromoção! E, como todo partido de um homem só, já começa com uma nobre causa: trazer de volta a família do ex-presidente José Eduardo dos Santos. Porque, claro, quando se pensa em "mudança", a primeira prioridade é garantir um regresso triunfal dos ex-governantes que passaram décadas no poder. Faz todo o sentido, não?

E vejam só a justificação! Segundo Bessa, "José Eduardo dos Santos ainda não está enterrado" espiritualmente porque a família não fez o luto completo. Certamente, esta deve ser a questão mais urgente da política angolana! Enquanto o povo luta contra a inflação, o desemprego e os serviços públicos em colapso, os grandes pensadores da nossa nação decidiram que a prioridade é uma sessão colectiva de terapia para a aristocracia política.

Mas não sejamos injustos. O partido Cidadania não está sozinho neste universo de partidos "personalizados". Já vimos ex-governantes, ex-generais, ex-empresários e até ex-revolucionários a fundar os seus próprios "movimentos" sempre que a fila do poder lhes parece demasiado longa. É o novo modelo de empreendedorismo político: se não fores nomeado, cria o teu partido e vê se alguém te leva a sério.

Assim, seguimos com a incrível tradição de alternâncias sem mudanças, onde os protagonistas são sempre os mesmos, apenas com novas siglas para os seus egos. Ideologia? Para quê? Quem precisa de um projecto de sociedade quando se pode simplesmente criar um partido político para continuar a discursar sobre o passado?

As eleições aproximam-se e, com elas, um novo desfile de ex-qualquer-coisa transformados em líderes de ocasião. Quem sabe qual será o próximo? Um partido do antigo motorista de um ministro? O Partido Nacional dos Assessores Esquecidos? O Movimento dos Ex-Nada? Fica o suspense.

No final, o povo angolano continua a assistir a tudo isto, já sem paciência para novos rótulos com os mesmos ingredientes. Mas não faz mal. O importante é que os políticos se divirtam.