Luanda - O saneamento básico! Esse conceito tão revolucionário e avançado que alguns países ousam oferecer a toda a população como se fosse um direito humano. Mas sejamos realistas: em Angola, água limpa, esgoto tratado e ruas sem lixo não são direitos, são verdadeiros luxos! Afinal, há coisas mais “importantes” a serem resolvidas, como a construção de estradas que nunca terminam, conferências internacionais que rendem belos discursos e, claro, a eterna justificação da falta de verbas.
Fonte: Club-k.net
Se Está Satisfeito com a Poeira e o Lixo, Para Que Mudar?
A Constituição da República de Angola (2010), no seu artigo 21, até diz que o Estado deve garantir o bem-estar da população. A Lei de Bases do Ambiente (Lei n.º 5/98) e a Política Nacional de Água (2002) reforçam essa ideia bonita de que todos deveriam ter acesso ao saneamento básico. Mas entre a teoria e a prática existe um fosso maior do que os esgotos a céu aberto que enfeitam os bairros periféricos das grandes cidades.
Enquanto metade do país ainda enfrenta dificuldades para ter água potável e saneamento adequado (INE, 2022), a outra metade agradece a sorte de viver perto de um poço duvidoso ou de ter dinheiro para comprar água engarrafada a preços exorbitantes. Afinal, beber água sem correr o risco de contrair cólera virou um privilégio exclusivo de quem pode pagar.
Cólera e Malária: Os Clássicos do Saneamento Precário
As doenças transmitidas pela falta de saneamento já fazem parte da identidade nacional. São como aquele vizinho chato que nunca vai embora. A cólera, por exemplo, aparece fielmente todos os anos, especialmente quando chove. O Ministério da Saúde (2023) confirma que os surtos são frequentes, mas claro, a culpa é sempre das chuvas, nunca da falta de investimentos na rede de esgoto.
A malária, por sua vez, continua a ser a campeã de mortalidade, com mais de 6 milhões de casos anuais (OMS, 2023). Mas, sejamos justos, pelo menos ninguém pode reclamar que não há programas de “combate ao mosquito”. Faltam saneamento e drenagem adequados, mas campanhas publicitárias para nos lembrar de não deixar água parada não faltam!
E a Covid-19? Ah, essa veio para mostrar que a higiene é importante, mas o acesso a água para lavar as mãos é um detalhe irrelevante. No meio da pandemia, muitas comunidades simplesmente não tinham água corrente. Mas é claro, a culpa foi do vírus, não da negligência estrutural.
Planeamento Urbano? Mas Isso Dá Trabalho!
Por que criar um sistema de saneamento adaptado à realidade cultural e urbanística de Angola se podemos continuar a improvisar? Lefebvre (2001) argumenta que as cidades refletem a dinâmica social e cultural dos povos. Então, talvez o nosso amor pelo improviso tenha transformado o saneamento básico numa questão secundária.
Afinal, é mais fácil construir urbanizações luxuosas para poucos do que resolver o problema dos esgotos para milhões. O crescimento urbano desordenado só preocupa quando atinge as zonas nobres. Enquanto isso, os bairros informais crescem sem planeamento e as pessoas que lá vivem aprendem desde cedo a conviver com valas a céu aberto e lixo acumulado.
Soluções? Só Para Quem Acredita em Contos de Fadas
Agora, se fossemos fingir que realmente queremos resolver o problema do saneamento em Angola, poderíamos pensar em algumas medidas, tais como:
Criar Conselhos Municipais de Saneamento (mas com cidadãos de verdade, não apenas políticos a preencher lugares de fachada).
Descentralizar a gestão, porque talvez o governo central não tenha o dom da omnipresença.
Usar tecnologia para transparência, mas isso daria muito na vista, não é? Melhor continuar sem prestar contas.
Educar a população, porque aparentemente, mesmo sem água nas torneiras, o problema está em não sabermos “como usá-la correctamente”.
Fortalecer a cooperação internacional, porque quando o dinheiro vem de fora, pelo menos há uma chance de que alguma coisa seja feita... ou desviado com mais classe.
Conclusão: O Problema Não É a Falta de Recursos, É a Falta de Vergonha
Saneamento básico não deveria ser um luxo, mas é. E continuará a ser enquanto as prioridades forem outras. O país que constrói projectos milionários para elites e ignora os bairros sem água e esgoto tratado está a dizer claramente quais são as suas reais preocupações.
O problema não é falta de dinheiro, é falta de vontade política. Porque, sejamos sinceros, quando há interesse, tudo se resolve num piscar de olhos. Enquanto isso, o povo continua a adaptar-se, porque se há uma coisa que os angolanos sabem fazer bem, é sobreviver ao descaso.