Luanda - O Presidente da República de Angola e concomitantemente da União Africana, João Lourenço, através de uma informação amplamente anunciada pela página da Presidência da República, salta do barco do conflito do leste da República Democrática do Congo (RDC), um mês depois da sua tomada de posse como presidente da maior organização política do continente.
Fonte: Club-k.net
Antes deste anúncio, o presidente João Lourenço, já mostrava intenção de deixar a mediação face aos fracassos recorrentes e o pouco interesse das partes envolvidas, sobretudo Paul Kagame, presidente da República do Ruanda, quem insistentemente enviava o seu ministro dos Negócios Estrangeiros, numa reunião que havia obrigação da sua presença.
O lance que lesionou o campeão da paz e da reconciliação do continente africano, foi a ida de Tshissekedi e Kagame a Doha, capital do Qatar, no mesmo dia em que Luanda preparava-se para auscultar às delegações da RDC e do M23, que, pela primeira vez, fariam parte das negociações directas em função das expectativas criadas e a propagação da informação por parte dos órgãos de comunicação social.
O encontro falhado do dia 18 do mês em curso, março de 2025, era visto como um golo de placa que o presidente da União Africana devia marcar, se tivesse acontecido, pois desde que foi designado como campeão da paz em 2022, pela UA, em Malabo, Guiné Equatorial, o antigo grupo do Congresso Nacional para Defesa dos Povos (CNDP), nunca tinha feito parte das negociações com o seu adversário e a diplomacia angolana estava quase a concretizar o objectivo na semana finda.
Ao sair da mediação, acredito que o presidente da República, deixa os seus créditos em mãos alheias, como sói dizer-se, pois que, um dos seus trunfos do sucesso da a aceitação da sua candidatura à chefia da União Africana, foi sem sombras de dúvidas, o conflito cíclico da RDC.
A República Democrática do Congo, não representa somente para Angola uma zona de influência, mas também um espaço vital pra a segurança do país. Ou seja, todo conflito que venha surgir neste espaço geográfico, colocará em alerta as forças de segurança do nosso estado, Angola.
Esta saída inglória do presidente neste processo, é, sem dúvidas, a humilhação que lhe foi atribuída pelo Félix Antoine Tshissekedi Tshilombo, presidente da RDC e de Paul Kagame, respectivamente.
Vezes sem contas, abordou-se sobre a mão invisível que opera nos conflitos da RDC desde 1960, ano da sua independência, cuja capacidade dos autores ultrapassa o poder de Angola.
Durante o período em que o processo negocial esteve sob auspícios de João Lourenço, estabeleceu-se, várias vezes, cessar-fogo e ignorado pelo M23, pois replicava aos relatórios de Luanda e não reconhecê-los, porquanto não eram parte integrante do processo, o que levantava dúvida da presença do Ruanda nas mesas de negociações, uma vez que, quem está em conflito directo com a RDC, é justamente este movimento, o M23.
"Não existem soluções européias para problemas africanos, nem soluções do médio oriente para os problemas africanos"...é uma frase conhecidíssima que ampara muitas das vezes os incompetentes governos africanos. Ademais, inclusive muitos analistas buscam trazer esta narrativa para defender a letárgica União Africana.
Um dos níveis de Análise em Relações Internacionais, é analisar o comportamento de um estadista enquanto figura proeminente de um determinado estado, fazendo jus a esta ladainha. Como a União Africana pode resolver um problema africano tendo em conta a este princípio?
O actual presidente em exercício, prometeu reformular a organização que, na minha perspectiva, parece – me obsoleta em função da sua acção. Espera-se que dê sinais desta sua promessa, embora uma das características dos políticos africanos seja prometer. Aguarda-se com expectativa no cumprimento deste desiderato por parte de João Lourenço.
Para o bem do mandato de JLO na União Africana, apesar das dificuldades que tem enfrentado neste processo da RDC, seria melhor reconsiderar a sua posição, embora tenha feito um apelo aos seus parceiros regionais e não só, para se encontrar um outro medianeiro.
Segundo o comunicado, o presidente quer dar maior atenção aos outros problemas de África, mas o problema da RDC faz parte deste pacote. Outrossim, ele é também presidente da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos(CIRGL), uma das mais conflituosas do continente, cuja bandeira principal é outra vez a pátria de Mobutu.
É caso para dizer, se não quiser mediar este conflito como presidente da União Africana, poderá fazê-lo como presidente da CIRGL.
Os meninos do bairro dizem: "eweeeee quem te mandou agora aguenta"