Luanda - A UNITA, maior partido da oposição em Angola, tem-se afirmado nas últimas décadas como uma alternativa democrática, promotora de liberdade, inclusão e respeito à pluralidade de pensamento. Contudo, os acontecimentos recentes, os bastidores e as decisões internas do partido revelam uma realidade oposta e preocupante: a consolidação de uma cultura de intolerância, perseguição e purga silenciosa de quadros que ousam pensar diferente.

Fonte: Club-k.net

É cada vez mais evidente o revanchismo pós-congressos e Militantes que apoiam ou concorrem em listas que não vencem são sistematicamente afastados dos espaços de decisão e esvaziados das suas funções, numa verdadeira caça às bruxas que nada se coaduna com um partido que se diz republicano e plural. O caso da JURA — braço juvenil do partido — é paradigmático. Após a eleição do deputado Nelito Ekuikui como Secretário-Geral da juventude, era expectável que os demais concorrentes, como o jovem Lucombo, fossem integrados ou valorizados em sinal de unidade. Não só não o foram, como estruturas relevantes como as Brigadas de Mobilização Especiais (BME) foram desmanteladas, extinguindo-se um dos instrumentos de maior eficácia durante a campanha de 2022.

Quadros como António Marques, Edmeu Kiame, Tomás Paulo, Ginga Savimbi e Ana Karina — jovens que deram tudo pela causa, arriscaram a vida e estiveram na linha de frente — foram empurrados para as margens do partido. Pior ainda: em vez de serem acarinhados como exemplos de militância, tornaram-se alvos de campanhas difamatórias nas redes sociais, como tem sido o caso brutal de Ginga Savimbi, por ter decidido, com coragem, abandonar a UNITA. Este não é um ato de traição, é um grito de alerta.

O autor deste artigo também conhece o preço da crítica interna. Ao optar por uma visão mais livre e analítica da vida partidária, viu-se atacado por militantes e figuras conhecidas como Hitler Samussuko, não por ofender o partido, mas por desafiar o conformismo e defender um modelo mais transparente, mais tolerante e mais inclusivo.

Há, ainda, um paradoxo difícil de justificar: nomes estranhos ao percurso do partido, com histórico em outras formações políticas e com pouca ou nenhuma militância, são hoje alçados a cargos de grande relevância, enquanto veteranos e jovens promissores são descartados sem cerimónia. Qual a lógica por trás disso? Será que, para ascender na UNITA, é preciso deixar de ter opinião própria e limitar-se à bajulação dos superiores?

É chegada a hora de uma reflexão profunda. A intolerância e as intrigas internas podem destruir não só o capital humano do partido, como também a confiança do eleitorado jovem, que esperava encontrar na UNITA um espaço diferente, acolhedor das diferenças e promotor de uma nova ética política.

Se a UNITA quiser, de facto, governar Angola um dia, precisa antes aprender a governar com justiça o seu próprio seio. O que hoje se apresenta como firmeza e fidelidade ao líder, pode ser amanhã a causa do êxodo silencioso dos seus melhores quadros. A história tem exemplos suficientes, não é necessário repeti-la.

Falar é Traição, Discordar é Crime, Perder é Pecado.

Se és Jovem e Pensas, Pensa Duas Vezes Antes de Ficar.

Nota final: À jovem Ginga Savimbi, minha total solidariedade, a tua coragem é o reflexo de uma juventude que recusa ser silenciada. E à UNITA, o apelo é simples: ou reforma-se por dentro, ou continuará a ver o seu futuro político sangrar pelas feridas da intolerância.

Emerson Sousa
Analista Político e Colunista.