Luanda - Enfim, a democracia angolana deu mais um passo triunfal rumo ao teatro político de excelência: o Presidente da República, João Lourenço, dignou-se a receber, entre o lusco-fusco da tarde e o mistério da noite, o líder da UNITA, Adalberto da Costa Júnior. Uma audiência! Um feito histórico! Uma verdadeira sessão solene de "ouve e cala", como manda a tradição.
Fonte: Club-k.net
Segundo o presidente da UNITA, falou-se de democracia, economia, questões sociais… aquelas coisinhas menores, que só afectam os milhões de angolanos que ainda confundem promessas com progresso. O importante é que foi falado. E ouvir é meio caminho andado — ou, pelo menos, é o que se faz quando se quer parecer democrático sem realmente o ser.
Mas imaginem, só por um segundo, se a oposição tivesse mesmo voz activa nas decisões que moldam o destino do país. Que pesadelo! Imaginem a UNITA ou qualquer outro partido a participar na elaboração do Orçamento Geral do Estado, na assinatura de contratos milionários com a China ou nos acordos estratégicos com petrolíferas internacionais. E se — ousadia das ousadias — pudessem fiscalizar efectivamente os actos do Executivo?
Seria um ataque directo à cultura política vigente, onde mandar sozinho é de estabilidade, e ouvir o outro é apenas um ritual exótico para enganar a comunidade internacional.
Por isso, celebremos a audiência simbólica, esse gesto magnânimo que nada muda, mas que dá óptimas fotos para as redes sociais e manchetes para os jornais públicos. A democracia está viva — em modo vitrina, embalada para exportação e só com data de validade até às próximas eleições.