Luanda - Quantas vezes já nos perguntámos, com indignação ou frustração, “como é possível que aquele idiota seja rico?” A pergunta, embora vulgar, carrega uma reflexão importante sobre as relações entre honestidade, conhecimento e prosperidade. Vivemos numa sociedade onde ainda se romantiza a ideia de que o conhecimento académico — ou científico — é a principal ou única via para o sucesso económico. Contudo, essa visão está longe da realidade.

Fonte: Club-k.net

Conhecimento Científico vs. Conhecimento Social

Há uma distinção fundamental entre dois tipos de saberes: o conhecimento científico (formal, técnico, académico) e o conhecimento social (habilidade de se relacionar, comunicar, influenciar e aproveitar oportunidades). Ser um excelente estudante ou profissional, dominar fórmulas matemáticas, teorias económicas ou regras gramaticais, não garante prosperidade. A sociedade contemporânea valoriza, muitas vezes, mais quem sabe lidar com pessoas do que quem domina livros.


Robert Kiyosaki, no seu famoso livro Pai Rico, Pai Pobre, explica com clareza essa dicotomia. Para ele, o sistema educacional tradicional ensina-nos a sermos bons empregados, mas raramente nos ensina a gerir dinheiro, empreender ou construir riqueza. Segundo Kiyosaki, o “pai pobre” era honesto, trabalhador e muito instruído academicamente, mas vivia preso à instabilidade financeira. Já o “pai rico”, com pouca formação formal, compreendia a linguagem dos negócios, dos activos e dos contactos — e era próspero.

Prosperidade Não É Recompensa da Honestidade


A honestidade é uma virtude inegociável, mas não é um bilhete automático para a prosperidade. Há muitos honestos pobres e muitos desonestos ricos. Isso não significa que se deve abandonar a integridade — longe disso — mas sim compreender que prosperar exige mais do que moralidade: exige estratégia, visão, coragem e, acima de tudo, capacidade de gerar valor no mercado.


O próprio Robert Kiyosaki afirma: “Não é o quão inteligente você é, mas quão bem você pode usar o conhecimento e as pessoas à sua volta.”

O Papel do "Vivo" e o Valor do Networking

No contexto africano, e particularmente nas sociedades como a angolana, é comum ouvirmos que “aquele é vivo” — expressão que, muitas vezes, não tem conotação negativa. O “vivo” é aquele que sabe onde estar, com quem falar, que cria oportunidades mesmo sem ter conhecimento técnico profundo. Essa pessoa entende de networking, sabe como se conectar, unir talentos e transformar ideias em capital. E sim, prospera.


No entanto, ser “vivo” por si só não basta. O verdadeiro segredo está em associar-se a pessoas com conhecimento técnico ou científico. O indivíduo que domina o conhecimento social e cria pontes entre especialistas pode transformar essas conexões em riqueza real. Ele funciona como catalisador, enquanto os técnicos funcionam como os agentes de execução.


Um exemplo clássico dessa lógica é Ray Kroc, o homem que transformou o McDonald's numa das marcas mais poderosas do mundo. Os irmãos McDonald eram os criadores originais da ideia e tinham o conhecimento técnico do funcionamento da cadeia de restaurantes. Mas foi Ray Kroc quem, através da sua visão e habilidades sociais, garantiu os direitos da marca e construiu o império global — usando o conhecimento dos outros.


Autores Que Sustentam Essa Visão

Malcolm Gladwell, em Outliers, demonstra que o sucesso não depende apenas do talento ou conhecimento, mas também das oportunidades, do ambiente e das redes de contacto.


Napoleon Hill, no clássico Think and Grow Rich, diz que a riqueza nasce de ideias bem conectadas e executadas por mentes alinhadas. O princípio do “Mastermind” (grupo de cérebros associados) reforça que o sucesso é colectivo, e o social é chave.


Thomas Stanley, em The Millionaire Next Door, mostra que muitos milionários não têm grandes formações académicas, mas dominam finanças pessoais, disciplina e relações estratégicas.

Conclusão: A Fórmula Real da Prosperidade

Portanto, sejamos claros: prosperidade não é directamente proporcional ao conhecimento académico. O sucesso é resultado de uma fórmula mais complexa, onde o conhecimento científico precisa andar lado a lado com o conhecimento social. Aqueles que conseguem unir os dois — ou cercar-se de quem complemente o que lhes falta — são os verdadeiros candidatos à prosperidade.


Honestidade é uma base, mas não uma escada automática. Ser “vivo”, inteligente socialmente, rodeado de gente competente, é o verdadeiro trampolim para a riqueza. Em vez de criticarmos quem prospera com pouco estudo, talvez devêssemos perguntar: com quem essa pessoa anda e o que está a fazer com o que sabe?