Luanda - Ah, Norberto Garcia... esse verdadeiro bastião da pátria, muralha moral da Nação e agora, pasmem, porta-voz universal das desculpas alheias! Num gesto raríssimo — quase divino — de humildade e patriotismo exacerbado, o ilustre Diretor do Gabinete de Estudos e Análises Estratégicas da Presidência da República ofereceu-se como sacro redentor da ministra da Educação, Luísa Grilo, pedindo desculpas em nome dela. Um verdadeiro "Jesus Cristo institucional", levando nas costas não os pecados do mundo, mas os dislates de colegas de cargo.
Fonte: Club-k.net
Que gesto magnânimo! Que espírito de solidariedade entre pares! Um homem que entende que os seus amigos não erram, apenas “são infelizes” — como se governar um país fosse uma lotaria de emoções mal calibradas. Afinal, quem nunca teve um dia infeliz e acabou por dizer que milhões de angolanos espalhados pelo mundo não fazem falta? Isso é coisa que acontece, não é mesmo? Como tropeçar na rua ou esquecer o sal no funge.
Mas cá entre nós, esse pedido de desculpas tão viril e tão nobre, vindo de alguém que não é o autor da asneira, só revela uma coisa: Norberto é grande. Maior que o Estado. Maior que a Ministra. Maior que o próprio sentido de responsabilidade institucional.
É verdade, os homens falham. Os políticos, então, falham com categoria, com estrondo, com microfone e palanque. E quando falham, o que se faz? Pedem-se desculpas, claro! De preferência por intermédio de um colega empático e eloquente, que assuma o erro alheio como se fosse seu. E pronto, está tudo resolvido. É essa a cultura de responsabilidade que queremos cultivar em Angola: errar à vontade, e deixar que um amigo patriótico limpe a bagunça com palavras doces e promessas de arrependimento genérico.
Porém, só para refrescar a memória colectiva: em qualquer democracia funcional, quando um alto funcionário público desvaloriza publicamente a sua própria diáspora – que envia remessas, investe, carrega o nome do país, sofre racismo e xenofobia lá fora sem deixar de ser angolano – o mínimo exigido seria um pedido de desculpas próprio, firme e seguido de... demissão imediata. Isso mesmo. Exit. Kaput. Tchauzinho do cargo. Não é favor, é dever.
Mas em vez disso, temos Norberto, nosso paladino, transformando a gafe em poesia diplomática e a irresponsabilidade em oportunidade de mostrar o quanto é... generoso. Porque na Angola oficial, errar é humano... e manter o cargo é inalienável.
A ministra Luísa pode dormir tranquila. Norberto está cá para perdoar, limpar e brilhar. A responsabilidade política? Fica para a próxima legislatura. Ou para quando a sorte mudar.
Longa vida ao patriotismo performativo!