Luanda - A recente condecoração do cronista e autor Sousa Jamba pelo Presidente da República no Jubileu da Independência reabriu velhas fissuras na oposição. Entre aplausos, recusas e silêncios constrangedores, a reacção de alguns sectores da UNITA revela mais do que simples diferenças de opinião: Revela um partido dividido entre a reconciliação e o ressentimento.

Fonte: Club-k.net

Sousa Jamba deu corpo ao seu pensamento em letra viva a propósito da distinção que lhe foi atribuída e das reacções que a mesma suscitou.“Aceitar uma medalha não é renunciar à consciência” é o título do artigo em que Jamba presta os esclarecimentos que se impõem face às críticas de que tem sido alvo por ter aceite a condecoração. No mesmo texto, enaltece a atitude de Jardo Muekalia, que também acolheu a distinção do Estado angolano.

A ligação visceral de ambos à UNITA dispensa apresentações. Nem Jamba nem Muekalia hesitaram em aceitar uma das mais altas honrarias da República. Fizeram muito bem.

Muitos dos seus “compagnons de route”declinaram a distinção, invocando razões diversas. Algumas sensatas, outras extravagantes. Mas todas respeitáveis. É um direito que lhes assiste. Direitos não se discutem: Respeitam-se. Ponto final. Parágrafo.

As condecorações do Estado revelaram não apenas memórias do passado, mas também fracturas do presente. Entre aceitação e recusa, ergue-se um retrato desconcertante da UNITA em 2025.

O facto de alguns militantes terem rejeitado o louvor público da Presidência da República é revelador de clivagens internas profundas e mal disfarçadas. Clivagens que escapam ao controlo de Adalberto Costa Júnior, expondo os limites da sua liderança num partido onde o passado continua a disputar o presente.

Trata-se de um divisor de águas que é evela quem, dentro da UNITA, está disposto a trilhar um caminho de reconciliação prática e quem prefere permanecer preso ao ressentimento histórico.

A rejeição da condecoração expõe divergências estratégicas reais no seio da UNITA.
Destapa uma crise de autoridade moral e política mal contida.
Mostra a ausência de consenso sobre o verdadeiro sentido da reconciliação nacional.
Revela a existência de alas dialogantes e outras, ideologicamente mais rígidas. Intransigentes.

As distinções funcionaram como um teste de coerência e lealdade — à República, à direcção da UNITA e aos ideais de Justiça e Reconciliação.

A direcção da UNITA falhou ao não estabelecer uma posição clara e unificada sobre as condecorações presidenciais. O desalinho interno ficou mais exposto.
A República premeia. A UNITA divide-se.

A recusa de alguns militantes em partilhar o palco simbólico deste capítulo da História republicana revela quem (ainda) não está pronto a virar a página dos tempos tenebrosos da guerra.
Quem continua a exigir Justiça pelos dias sombrios de violação dos Direitos Humanos de ambos os lados da barricada.

Moral da história: Há militantes da UNITA que ainda recusam sentar-se à sombra da mulemba, comer o funge com carne assada e, no fim, encarar com honestidade a pergunta inevitável: Por que morreram os nossos mortos, afinal? Resposta:
Morreram por um futuro adiado. Por promessas traídas. Por ideais corrompidos.

Enquanto essa pergunta doer mais do que qualquer resposta, Angola vai continuar a ser um País em guerra consigo mesma. A guerra já cessou nas matas. Mas a contagem de espingardas, essa, continua. Na mentalidade de muitos.