Windhoek - Esta a consumar-se as previsões segundo a qual o afastamento de Nzita Tiago da liderança da FLEC provocaria fricção entre os comandantes militares da guerrilha. Depois de o comandante militar da região do Miconje, Maurício Lubota “Sabata”, se ter mostrado solidário com o líder histórico, um outro comandante Gabriel Nhemba “Pirilampo” fez o mesmo.
Fonte: Club-k.net
Guerrilheiros foram a paris se reunir com o velho
No dia 4 de Agosto, Nzita Tiago fez uma comunicação interna nomeando novos chefes militares em substituição da equipa do Chefe de Estado Maior das FAC, Estanislau Miguel Boma. Indicou para o alto comando militar, 16 guerrilheiros, na sua maioria da nova geração. Na visão de Nzita, o comandante Gabriel Nhemba “Perilampo” passa a ser o novo Chefe de Estado Maior (CEM); Silvestre Luemba, o CEM adjunto. O veterano João Baptista Gimbi “Sem Familia”, passa a ser o chefe dos serviços de segurança em substituição de Carlos Moíses “Rotula” e Maurício Lubota “Sabata”, novo comandante da região militar norte. Os novos chefes militares foram nomeados sem terem sido consultados com excepção de “Perilampo”. Maurício “Sabata” soube apenas no dia 9 de Agosto.
Entre os comandantes militares, há hesitação em acatarem as ordens de Nzita Tiago. Maurício Lubota “Sabata” mostra-se sem espaço de acção. Esta rodeado de guerrilheiros fieis a Estanislau Boma. Mesmo que cumpra as ordens de Nzita, ficara isolado. A comunicação entre os comandantes passa por Estanislau Boma. O mesmo desvaloriza as nomeações feitas por Nzita. O seu grupo entende que vai ao desencontro do regulamento da guerrilha segundo a qual as mexidas no exercito, devem ser feitas após consulta do Alto Comando Militar.
Há também uma corrente de comandantes que se mostra compreensível a realidade do contexto e que manifesta vontade de falar com Nzita Tiago para considerar a reforma que recusa. Os militares entendem que Miguel Boma não o traiu e que não quer o seu mal. As estimativas indicam que Nzita Tiago não sobreviveria a um “braço de ferro” com Estanislau Miguel Boma, seu ex-chefe da segurança presidencial. Boma é um guerrilheiro treinado por Israelitas que formaram a guarda presidencial de Mobuto. Foi Boma que na década de noventa aconselhou o “velho” a deixar as matas e partir para Europa para cuidar da sua saúde. É um quadro militar introvertido a quem as tropas muito respeitam.
Em 1993, Nzita Tiago enfrentou problema idêntico com o seu então Chefe de Estado Maior, Víctor Jorge Gomes. (O militar havia lhe sugerido dialogo com as autoridades angolanas). Entraram em contradição e Nzita Tiago ordenou a sua prisão pondo-o num buraco prestes a ser fisicamente eliminado. Na altura, os principais rostos do alto comando militar, eram Macula, CEM adjunto e Lazaro, (numero três da hierarquia militar) que acabaram por abandonar a guerrilha. Boma foi o único que se manteve fiel ao “velho”. Antes da rotura que envolveu Macula e Lazaro, estes comandantes vacilaram a uma suposta ordem de execução de Víctor Jorge Gomes. Teriam mesmo precipitado a sua fuga para a FLEC-Renovada em 1995. Dois anos depois, Victor Gomes entregou-se ao governo angolano. Foi integrado e é hoje o segundo comandante provincial da policia em Cabinda.
A fuga dos três ex chefes militares foi crucial para o governo por em marcha a chamada “operação vassoura” (que começou a 11 de Outubro de 2002 e terminou no dia 11 de Outubro de 2004) que acabou com os principais santuários da guerrilha. Estanislau Miguel Boma, que ficou do lado do “velho”, reestruturou a resistência tornando se no pulmão da mesma. Por isso repete-se que Nzita não terá saída numa luta com Boma.
A crise que opõe Nzita e o grupo de Boma iniciou no primeiro trimestre do ano quando as autoridades angolanas teriam se aproximado a estes lideres guerrilheiros. Nos contactos secretos, o Vice-Presidente da FLEC, Alexandre Taty se predispôs em abordar Nzita Tiago para uma proposta de negociação para a busca de paz para o enclave. Com o consentimento do “velho”, uma delegação de guerrilheiros constituída por Alexandre Taty, Carlos Moises Rotula e José Manuel Vaz, director de gabinete de Boma deslocou-se secretamente a Luanda após garantias de segurança dadas por um interlocutor do governo em Brazaville. Viajaram com documentos de refugiados e em Luanda foi lhes facultado passaporte angolano que de seguida seguiram para paris, onde ficaram dez dias. Tiveram três encontros com Nzita Tiago.
Na tarde de 11 de Maio, o grupo reuniu-se com o velho (ver foto) e propôs alternativa para criar tréguas e criação de contornos diplomáticos para viabilizar um processo negocial credível como forma de sair da actual crise de isolamento. As partes teriam se incompatibilizado. Nzita rejeitou proposta de tréguas e os militares rejeitaram, o seu pedido de tomar parte de um encontro com três supostos oficias da segurança francesa destinada a abordar questões que entendiam estar fora dos seus objectivos.
No regresso as matas de Cabinda, a delegação do Vice-Presidente, Alexandre Taty apresentou, aos guerrilheiros, um relatório da viagem reportando que constataram na Europa, uma FLEC “fragmentada, sem comunicação entre si, sem acção diplomática, sem credibilidade e sem vontade de contribuir ou construir”.
Um mês depois o grupo optou por seguir o seu próprio rumo reformando Nzita Tiago e suspendendo as representações na Europa. Reiteraram poderes ao encarregado das missões da presidência, José Luis Veras para manter contactos exploratórios com as autoridades angolanas. (Veras tem procuração inicialmente assinada por Nzita Tiago). Na semana que os activistas cívicos foram julgados, Luis Veras deslocou-se a Luanda “protestar” as sentenças aplicadas aos seus conterrâneos. A FLEC teria antes recebido garantias de Luanda de que os presos de consciência teriam as suas liberdades devolvidas.
Entretanto, Nzita Henriques Tiago que discorda da reforma acusou publicamente os seus companheiros de traidores deixando no ar a impressão de que teriam ido a Luanda sem o seu consentimento. Alimenta o discurso de “Independência” para o Enclave. É mais favorável ao fogo das armas do que ao dialogo como fonte de solução para o conflito. A 28 de Maio, em resposta a rumores de um suposto aliciamento, o CEM Estanislau Boma fez uma exposição de esclarecimento em que responde: “Não se pode falar de fogo sem lenha”.