Quibaxe – A população do município do Quibaxe, na província do Bengo, expressa crescente insatisfação face à degradação das condições de vida e acusa a administração local de inércia e má gestão. A ausência de serviços básicos, obras paralisadas e acusações de favoritismo étnico estão entre os principais pontos de denúncia feitos por moradores locais à reportagem do Club-K.

Fonte: Club-k.net

Durante uma visita ao município, a equipa de reportagem encontrou uma realidade descrita pelos habitantes como "desoladora". Na sede municipal, o mato cresce à vista de todos, inclusive nas imediações do palácio da administradora. A ausência de iluminação pública mergulha a vila em escuridão total à noite, o que contribui para o aumento da criminalidade.

 

“Estamos entregues ao abandono total”, disse António Nvulo, jovem mototaxista da aldeia de Banza. Segundo ele, o gerador da vila tem operado de forma intermitente há mais de cinco anos, com longos períodos de inatividade, o que obriga a população a recolher-se mais cedo por medo de assaltos nas ruas sem luz.

 

Nesta época de cacimbo, a poeira levantada por motorizadas e viaturas acentua o desconforto, uma vez que as vias da sede continuam por asfaltar.

Obras paralisadas e promessas não cumpridas
Para os moradores, o Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) não passa de uma promessa vazia. "É uma propaganda cosmética para iludir o povo", disse um estudante do Instituto Politécnico local, que preferiu não se identificar.

Segundo ele, as obras do hospital municipal estão paralisadas há mais de uma década, apesar de já terem sido pagas duas vezes. A escola do bairro Cassumba Camabaia também permanece na fase da viga geral, apesar de constar como concluída no âmbito do PIIM.

Na ligação entre a sede municipal e a comuna do Coxe, três pontes foram pagas com recursos públicos, mas nenhuma delas chegou a ser construída. “A execução financeira está em 100%, mas a execução física é zero”, acusam os populares.

Município sem morgue há cinco anos
Outra situação que revolta os munícipes é a inexistência de uma morgue funcional. Há mais de cinco anos, o equipamento está inoperacional por falta de um gerador. Em caso de óbito, os corpos precisam ser levados até ao município do Piri — antigo estatuto de comuna — ou, em situações mais críticas, até à cidade de Caxito, a 200 km de distância.

“Estamos num município onde se gastam mais de 20 milhões de kwanzas para festas e músicos, mas não há dinheiro para reparar o gerador da morgue”, denunciou uma fonte da administração local.

O agricultor António Makuanda foi mais contundente: “Com este comportamento, parece que estamos a ser governados por enviados de Satanás. Não é aceitável tanta insensibilidade.”

Discriminação e perseguição étnica
Populares também acusam a administradora municipal, Fátima Ramos Sebastião, de inação e de promover divisões étnicas. Bernardo Kicuango, um dos líderes comunitários, afirma que a gestão da administradora está cercada por figuras que promovem perseguições aos cidadãos da etnia Hungu.

Entre os nomes apontados estão Belarmino, director da Educação, e o senhor conhecido como "Cabelo Branco", que, segundo os denunciantes, estariam envolvidos em exonerações motivadas por critérios étnicos.

Apelos à governadora
A revolta popular levou muitos moradores a exigir a exoneração da administradora Fátima Ramos Sebastião. "Ela praticamente se demitiu das suas responsabilidades. Pedimos à governadora provincial que venha remover o cágado que ela colocou na árvore", afirmou um morador, usando uma expressão popular para criticar a colocação de alguém fora do seu lugar.

“Se para os vivos ela não tem respeito, que ao menos respeite os mortos. O cemitério municipal está num estado lastimável. Que usem o dinheiro das festas para comprar medicamentos, terminar o hospital e reparar a morgue”, apelou outro cidadão.