Luanda - Num mundo cada vez mais moldado pela sofisticação digital e pela velocidade da inovação, o conceito de poder militar tem sido profundamente reformulado. A supremacia bélica do século XXI não se mede apenas pela quantidade de tropas, tanques ou caças disponíveis, mas sobretudo pela integração de tecnologias de ponta no seio das estruturas de defesa. A verdadeira potência militar, como afirma Colin S. Gray (2007), “reside na capacidade de adaptação e inovação estratégica diante das mudanças tecnológicas que transformam a guerra”. Isso significa que investir em tecnologia passou a ser sinónimo de assegurar a soberania, garantir a segurança e preservar a paz nacional.

Fonte: Club-k.net

Angola, como Nação soberana e geoestrategicamente posicionada na África Austral, não pode ignorar esta nova realidade. A história recente do País, marcada por décadas de conflito armado, coloca sobre os ombros do Estado angolano a responsabilidade de consolidar uma paz duradoura. Contudo, como bem sublinha Joseph Nye (2011), “o poder suave precisa ser sustentado pelo poder duro”, ou seja, a diplomacia e a cooperação regional devem ser apoiadas por uma estrutura de defesa moderna e tecnologicamente capacitada.

1. A Guerra no Século XXI: O Campo de Batalha é Digital

A geopolítica contemporânea demonstra que as guerras deixaram de ser travadas apenas com armas e tropas no terreno. As batalhas mais estratégicas ocorrem agora no ciberespaço, nas redes de informação e nos sistemas de controlo remoto. Países como os Estados Unidos investem anualmente centenas de biliões de dólares em pesquisa militar avançada. A Agência de Projectos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA), por exemplo, tem sido pioneira na criação de tecnologias disruptivas como a Internet, drones e robôs militares.

A China, por sua vez, implementou a doutrina da “Guerra Inteligente”, que aposta fortemente em inteligência artificial, vigilância por satélite e armamento hipersónico. A Rússia, ao mesmo tempo, tem dado destaque à guerra electrónica, com unidades especializadas capazes de neutralizar redes de comunicação inimigas. Já em África, o Egipto e a África do Sul estão entre os poucos países que começaram a desenvolver programas próprios de inovação militar. O Egipto lançou, com apoio internacional, programas de vigilância com drones e reforço da defesa cibernética. A África do Sul, que possui uma das indústrias militares mais desenvolvidas do continente, destaca-se na produção de veículos blindados e sistemas de comando digital.

 

2. O Desafio Angolano: Modernizar para Proteger

Angola enfrenta o duplo desafio de preservar a paz e, simultaneamente, preparar-se para os riscos da nova era militar. A protecção das fronteiras deixou de ser apenas uma tarefa territorial; agora exige a salvaguarda de espaços digitais, redes de comunicação e sistemas sensíveis de informação. As Forças Armadas Angolanas (FAA) precisam de entrar na era da transformação digital com uma visão integrada, capaz de absorver tecnologias como sensores inteligentes, radares de longo alcance, drones de reconhecimento, satélites de comunicação e ferramentas de inteligência artificial.

Segundo o Professor e estratega militar brasileiro Nelson Werneck Sodré (2000), “uma Nação soberana precisa dominar a ciência e a tecnologia para garantir a independência da sua defesa e a eficácia das suas políticas militares”. Assim, é imperativo que Angola forme engenheiros militares, analistas de cibersegurança, técnicos em guerra electrónica e investigadores em inovação militar. O investimento deve começar pelas escolas militares, academias técnicas e centros de excelência nacionais.

 

3. Soberania e Inovação: Caminhos para a Autonomia Estratégica

No campo da Defesa Nacional, investir em tecnologia significa investir também na independência industrial. A criação de uma Base Industrial de Defesa (BID) em Angola é um passo estratégico para reduzir a dependência externa e gerar conhecimento interno. Exemplos disso são países como Israel, que transformou a necessidade de defesa em motor de inovação nacional, criando o famoso Iron Dome, sistema de intercepção de mísseis, desenvolvido por engenheiros locais. Nações como o Brasil também têm investido em parcerias entre universidades, empresas e forças armadas, dando origem a laboratórios conjuntos de pesquisa em armamento não letal, ciberdefesa e robótica.

Angola pode trilhar caminho semelhante, desenvolvendo polos tecnológicos militares, incentivando startups de segurança digital e promovendo a incubação de ideias inovadoras dentro do sector da Defesa. O Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) e a Estratégia de Defesa Nacional devem alinhar-se com estas metas, priorizando a ciência, a pesquisa aplicada e a produção nacional de componentes militares estratégicos. Como destaca o académico queniano Calestous Juma (2016), “o progresso de uma Nação depende da sua capacidade de usar a ciência e a tecnologia como ferramentas de transformação estrutural”.

 

4. Conclusão: A Paz como Fruto de uma Defesa Tecnológica

Num mundo em que a guerra de informação, os ataques cibernéticos e a espionagem digital podem comprometer a soberania de um País em segundos, investir em tecnologia deixou de ser um luxo ou uma opção – é uma urgência estratégica. Angola precisa consolidar as suas Forças Armadas como instrumento de dissuasão e defesa inteligente, investindo fortemente em conhecimento, inovação e tecnologia militar. A paz duradoura será garantida não apenas pela ausência de conflitos, mas pela capacidade do Estado de prevenir, detectar, reagir e neutralizar ameaças de forma autónoma e eficaz.

Como afirma Klaus Schwab (2020), fundador do Fórum Económico Mundial, “a Quarta Revolução Industrial não está a mudar apenas a economia, mas também a forma como fazemos guerra”. E, nesse novo paradigma, quem não dominar a tecnologia será inevitavelmente dominado por ela.