Luanda -  A liberdade só faz sentido quando tem como suporte as condições mínimas que garantem a dignidade humana. Num tempo em que prevalece o ter sobre o ser os valores que fazem um ser humano sentir-se livres, nem sempre estão garantidas e quase sempre são negadas a vastas camadas da população mundial.


Fonte: JA


Sem saúde não há liberdade. Tal como o direito à informação, o direito à saúde marca a diferença entre existir ou não existir. Sem informação não há vida. Mas viver sem saúde é uma calamidade. É neste ponto que queremos fazer algumas reflexões com os leitores.


Os angolanos lutaram denodadamente pela liberdade e triunfaram. Mas não é uma vitória qualquer. Venceram o colonialismo que é o mais hediondo crime que alguma vez se cometeu contra a Humanidade. O nazismo ou o apartheid são ramos da mesma árvore, que apresentam especial perversidade. Infelizmente, os países que durante séculos foram os mentores de semelhante barbaridade, ainda não tiveram a humildade ou a consciência de pedir desculpa por esses crimes. Não é pedir apenas desculpa aos povos colonizados. É a toda a Humanidade e muito particularmente aos seus próprios povos que vivem com essa marca aviltante colada à pele, sem terem culpa nenhuma.


Quanto mais não fosse por isso, devemos glorificar todos os povos do mundo que lutaram contra o colonialismo. E em Angola, temos todos uma dívida de gratidão, para com aqueles que participaram na luta de libertação nacional. São os nossos heróis que todos vamos honrar e admirar para sempre.


Conquistada a liberdade política, andamos há 35 anos a construir as condições que a suportam. E a saúde, está em primeiro lugar. Temos um enorme respeito pelos enfermeiros, esses heróis anónimos que levaram cuidados de saúde às populações de todo o país, desde os grandes centros às aldeias mais humildes. Depois da Independência e durante muitos anos, foram eles que continuaram a dar expressão a essa condição essencial de suporte à liberdade.


Hoje estamos mais à frente e temos equipas médicas espalhadas por todo o país, para minorarem o sofrimento dos enfermos, para salvarem, com um simples comprimido, a vida de uma criança. Ainda temos um longo caminho por desbravar nesta área, mas o que está feito é digno de nota. Não escrevemos isto movidos pela vaidade ou pela demagogia. A nossa afirmação é o reflexo de uma realidade que salta à vista de todos. Partimos do quase nada, descemos para o zero e hoje estamos muito à frente da cobertura herdada do colonialismo, onde vastas regiões do país estavam sem qualquer cobertura sanitária ou era garantida, à custa de enormes sacrifícios, pelas igrejas.


Para quem nada tinha na área da Saúde, hoje já temos números para mostrar que se reflectem nos índices de desenvolvimento humano e muito particularmente na esperança de vida e da diminuição, bem visível, da mortalidade materno-infantil.


Os nossos heróis de hoje são todos os que contribuem para que sejam criadas as condições que suportam e dão conteúdo à liberdade. Não apenas os médicos, enfermeiros e todos os trabalhadores da saúde. Mas também os professores que nas comunas e municípios ensinam as nossas crianças que, ao serem ensinadas, ficam menos vulneráveis às doenças. Falamos de milhares de técnicos, de activistas sociais, de agentes da Protecção Civil, das forças da ordem. Falamos de todos os que ajudam os nossos camponeses a produzir mais e melhor, para terem sempre que comer e assim serem mais saudáveis.


Falamos de Luís Gomes Sambo, nosso compatriota, especialista dos melhores e que está a levar a todos os países africanos a saúde, como parte essencial da liberdade conquistadas com as Independências Nacionais. Ele tem levado a mensagem dos cuidados de saúde primários a todos os recantos de África. E trouxe-nos as suas palavras sábias a Luanda, durante a Conferência Interministerial sobre Saúde e Ambiente. Nesse palco, onde estiveram peritos de 52 países africanos, ficou demonstrado que a Saúde é condição imprescindível para usufruirmos em plenitude da liberdade conquistada. Para isso, é preciso fazer uma aliança estratégica com o Ambiente. Temos de aprender a não delapidar os nossos recursos. E, sobretudo, temos de impedir que outros os delapidem.


Na Declaração de Luanda sobre Saúde e Ambiente aprovada em Luanda ficou igualmente demonstrado que a aliança estratégica da Saúde com o Ambiente vale pouco se a Educação não entrar em acção. E nada faz sentido se os Governos não afectarem recursos dos Orçamentos de Estado à Saúde, ao Ambiente e à Educação.


A Declaração de Luanda é a coroa de glória dos peritos e ministros que estiveram a trabalhar no Centro de Convenções de Talatona.


Mas é também a prova de que o Executivo anda à frente das decisões estratégicas agora aprovadas, porque há dois anos seguidos que reforça as verbas do Orçamento Geral do Estado para as áreas sociais e particularmente para a Saúde.


Uma das recomendações da Declaração de Luanda é a necessidade de levar às populações água potável. Angola tem há alguns anos o “Projecto Água para Todos” que merece figurar como o emblema de uma governação voltada para resolver os problemas nacionais.