Lisboa - O activista angolano dos direitos humanos Rafael Marques de Morais contou hoje ao PÚBLICO que na semana passada foi recebido no Departamento de Estado, em Washington, para tratar da corrupção no seu país e de outros temas que preocupam os Estados Unidos.


Fonte: PÚBLICO

No âmbito da sua luta contra a corrupção

Johnnie Carson, subsecretário de Estado norte-americano para os Assuntos Africanos, reservou na quinta-feira 45 minutos para ouvir daquele jornalista e activista, responsável pelo site “Maka Angola” (www.makaangola.com), as preocupações de vastos sectores da sociedade angolana sobre questões como as que levaram já as contas da embaixada de Luanda em Washington a serem congeladas.


Rafael Marques, que tem elaborado uma série de relatórios sobre o que se passa na indústria dos diamantes e sobre outros aspectos da vida do seu país muitas vezes associados a práticas corruptas, sublinhou ao braço direito de Hillary Clinton ser fundamental que exista diversidade de opiniões na sociedade angolana, que de modo algum deverá ser monolítica.


O jornalista, que se tornou famoso ao escrever em 1999 o artigo “O Baton da Ditadura”, disse ao PÚBLICO, ao chegar hoje a Lisboa, ter considerado que a audiência que lhe foi concedida no Departamento de Estado constituiu uma forma simbólica da Administração Obama incentivar o pluralismo de ideias e a liberdade de imprensa e de expressão, assim como o estabelecimento de um “espaço cívico e político mais abrangente”, na sociedade angolana.


O Governo do MPLA, que ganhou as legislativas de Setembro de 2008, com mais de 80% dos votos, tem cerceado cada vez mais, segundo os seus críticos, as vozes discordantes em Angola, prenunciando como que um regresso ao monolitismo político. “A legitimidade do acto eleitoral não deve abafar, desprezar ou subestimar o poder e o dever de cidadania que a Constituição confere a cada angolano. O povo votou para ser governado, não para ser subjugado”, afirmou Marques.


No entender deste, que em 2006 foi galardoado com o Prémio Coragem Cívica do Northcote Parkinson Fund, dos Estados Unidos, existe na América do Norte a capacidade de ouvir outros sectores angolanos, que não só o governamental, e o desejo de que eles possam “exercer o seu papel democrático”.


Para o activista, “o diálogo com a comunidade internacional deve criar elos de solidariedade para a defesa dos direitos universais e dos interesses comuns entre os povos”. E concluiu ter manifestado a Johnnie Carson “a firme ideia de que a realização da democracia e da transparência em Angola depende sobretudo da capacidade de organização dos próprios angolanos”.