Cairo -O presidente do Egito, Hosni Mubarak, renunciou ao cargo nesta sexta-feira, após 18 dias de protestos contra o seu governo, transferindo o poder ao Exército. O líder de 82 anos estava no poder desde 1981 e enfrentrava protestos diários por sua renúncia desde o dia 25 de janeiro.

 

Fonte: Band.com.br

Notícia foi celebrada nas ruas do Egito

http://theislamicstandard.files.wordpress.com/2011/01/hosni-mubarak-worried.jpg?w=450&h=301O  anúncio da renúncia foi feito pelo vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, horas depois de ser divulgada a notícia de que Mubarak e sua família tinham deixado a capital do país, Cairo, em direção à cidade egípcia de Sharm el-Sheik.



"Nessas circunstâncias difíceis pelas quais o país está passando, o presidente Hosni Mubarak decidiu deixar a posição da presidência", disse Suleiman. "Ele encarregou o conselho das Forças Armadas a dirigir as questões de Estado."



Reunidos na Praça Tahrir, que virou símbolo dos protestos, centenas de milhares de manifestantes explodiram em gritos de emoção com a notícia. Enquanto a multidão gritava "O Egito está livre!", também era possível ouvir carros buzinando em celebração.



O oposicionista Mohamed El Baradei, Prêmio Nobel da Paz de 2005 e ex-chefe da Agência Internacional de Energia Atômica, reagiu à informação dizendo: "Este é o melhor dia da minha vida. O país foi libertado."



Na noite de quinta-feira, Mubarak provocou revolta ao anunciar que delegaria mais poderes a Suleiman, sem renunciar ao cargo de presidente. Em pronunciamento, Mubarak reiterou que permaneceria no poder até setembro, quando estão previstas as próximas eleições. "Satisfeito com o que ofereci à nação em mais de 60 anos", afirmou Mubarak, em referência a todo o seu período na vida pública, "anuncio que vou continuar nesse cargo e assumir minhas responsabilidades."



Porém, na manhã desta sexta-feira, o Exército divulgou um comunicado prometendo implementar uma variedade de reformas constitucionais em uma declaração em que o tom de comando era claro. O comunicado foi divulgado após uma reunião do Conselho Superior das Forças Armadas do Egito, presidida pelo ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantaui.



No texto, os militares prometeram suspender o estado de emergência que vigora no país há 30 anos  "assim que a crise acabar" e garantir uma eleição presidencial "livre e justa" em setembro. As Forças Armadas também fizeram um apelo para que os manifestantes "voltem ao trabalho e à vida normal".



18 dias de crise




No dia 1º de fevereiro, quando a onda de protestos completou uma semana, Mubarak anunciou que não concorreria à reeleição nas eleições presidenciais marcadas para setembro.




O anúncio não foi suficiente para encerrar os protestos e milhares de manifestantes continuaram lotando a praça Tahrir, no centro do Cairo, exigindo a renúncia imediata do líder.



Nos 18 dias de crise, Mubarak anunciou outras medidas: nomeou um vice-presidente pela primeira vez desde que chegou ao poder; pediu que seu gabinete renunciasse e nomeou novos ministros; criou comissões para propor reformas constitucionais, garantir sua implementação e investigar as mortes nos protestos; e definiu um aumento de 15% nos salários dos servidores públicos.



Nenhuma delas foi considerada suficiente pelos manifestantes. Na terça-feira, os protestos ganharam novo ânimo com um discurso do chefe de mercado do Google para Oriente Médio e África, Wael Ghoneim, um dos líderes do movimento. Nesta sexta-feira, os manifestantes convocaram uma mobilização em massa para em pelo menos seis locais do Cairo. Milhares também participaram de marchas em cidades como Alexandria e Suez.



Trajetória



Hosni Mubarak assumiu a presidência do país após a morte do presidente Anwar Sadat, em 1981. Sadat foi assassinado por militantes islâmicos durante uma parada militar no Cairo. Mubarak, sentado ao seu lado, teve sorte em escapar ileso.



Desde então, já sobreviveu a pelo menos seis tentativas de assassinato - na mais séria, o ataque ao carro presidencial logo após a chegada de Mubarak à capital da Etiópia, Addis Abeba, em 1995, para participar de uma cúpula de países africanos.



Além do talento para se desviar dos tiros, o ex-comandante da Força Aérea também segurou com força as rédeas do poder, assumindo um papel de aliado confiável dos Estados Unidos e combatendo um poderoso movimento de oposição em casa.




Nascido em 1928 em uma pequena cidade na província de Menofiya, perto do Cairo, Mubarak manteve sua vida particular longe do domínio público. Ele é casado com Suzanne Mubarak - de ascendência britânica, formada na American University, no Cairo - e tem dois filhos, Gamal e Alaa.




Mubarak não fuma, não bebe e é conhecido por levar uma vida regrada e saudável, com uma rígida rotina diária que tem início às 6h. No passado, amigos e colaboradores próximos reclamavam da rotina do presidente, que começava com uma sessão na academia ou um jogo de squash.



Apesar da falta de apelo popular, o militar criou uma reputação de estadista internacional com base na questão que resultou na morte de Sadat: a busca da paz com Israel.



Estado de emergência



Na prática, desde que assumiu o poder, Hosni Mubarak comandou o Egito como um líder militar e com base em uma lei de emergência que dava ao Estado o direito de prisão e de coibir direitos básicos. O argumento do governo era que o controle total era necessário para combater militantes islâmicos, cujos ataques têm como alvo, com frequência, o lucrativo setor de turismo egípcio.



Sob a liderança de Mubarak, o Egito viveu um período de relativa estabilidade doméstica e desenvolvimento econômico, o que levou a maioria da população a aceitar sua monopolização do poder. Mas, nos últimos anos, o presidente vinha sofrendo pressões para que a democracia fosse incentivada no Egito. As pressões vêm do próprio país e também dos Estados Unidos.



Muitos dos que reivindicavam reformas políticas duvidavam da sinceridade do líder veterano quando ele dizia ser favorável a uma abertura do processo político. Desde 1981, Mubarak venceu três eleições como candidato único, mas o quarto pleito convocado por ele - em 2005, após um empurrão firme dos Estados Unidos - teve as regras alteradas para permitir candidaturas rivais.



Críticos dizem que a eleição foi manipulada para favorecer Mubarak e seu partido, o Partido Nacional Democrático (NDP, na sigla em inglês). Eles acusam o líder egípcio de ter comandado uma campanha de supressão a grupos de oposição, entre eles, especialmente, o movimento Irmandade Muçulmana.


*Com BBC, AP e informações do The New York Times