Luanda - Como se esperava, a defesa de Nerika Loureiro, acusada do homicídio do seu próprio marido, alegou insanidade mental da ré no julgamento iniciado na última quarta-feira, 16.
*Mariano Brás
Fonte Jornal A Capital
Não parece restar dúvidas de que Nerika Loureiro, a advogada de 32 anos de idade, seja culpada pela morte do seu esposo, Fortunato Loureiro, em Abril de 2009, num caso que ficou conhecido como “O Crime do Nova Vida” por conta do local em que se deu o homicídio. Resta, entretanto, saber se ela agiu em sã consciência. Esta é, ao menos, a estratégia a ser seguida pelos seus advogados de defesa, manifestada quando na última quarta-feira, no dia do início do julgamento, pediram ao juiz que suspendesse a sessão já que, no seu entender, a ré “não está nas suas condições facultativas”.
“Se tiver dúvidas, meritíssimo, pode fazer-lhe algumas e verá como ela tem problemas de insanidade”, declarou Sérgio Raimundo o advogado de defesa de Nerika.
A alegação do advogado, claro, não foi acolhida cm agrado, nem pelo representante do Ministério Público, muito menos pelos advogados de acusação, uma equipa encabeçada por Paula Godinho. Alfredo Martins, do Ministério Público, disse ser desnecessário que a ré seja submetida a novos exames. Recentemente, vários especialistas analisaram-na e, ao nível do Tribunal Supremo, ficou provado que ela goza de perfeita saúde mental. “Por este facto, dou por indeferida tal pretensão”, sentenciou.
Manuel Gomes, juiz presidente, não titubeou naquilo que entendeu ser o caminho mais acertado. Aceitou a sugestão de Sérgio Raimundo e ordenou a que dois médicos do Hospital Psiquiátrico sejam, então, nomeados pelo respectivo director com o propósito de avaliar o estado e Nerika. Mais orientou que os profissionais deverão prestar juramento para um trabalho são e isento de qualquer suspeita. Na sexta-feira, 18, enquanto se preparava o fecho da presente edição, o exame, assistido por representantes de ambas as partes, decorria conforme o orientando pelo juiz Manuel Gomes.
O juiz entendeu que o trabalho dos especialistas será, pois, uma a diligência complementar de prova, embora, como também reconheceu, já tenha sido decidido, em processo competente, a integridade mental da ré, “cuja sentença, há muito, transitou em julgado”. A lei, esclareceu, permite o julgamento de todos os elementos de prova para se esclarecer as circunstâncias que rodeou o crime. “Um dos elementos é, sem dúvidas, a indagação sobre a personalidade da ré, os seus antecedentes e estado psíquico”.
Quebrou-se, então, a expectativa ao redor de um julgamento que começou cerca de um ano e meio depois do crime de que é acusada a jovem advogada. Trata-se, mesmo, de um dos casos mais mediáticos, sobretudo pelo seu carácter passional. Nerika, agora com 32 anos, desferiu, segundo a acusação, 17 golpes de tesoura contra o seu marido, Lopo Fortunato Loureiro, supostamente enquanto este dormia, tendo morrido imediatamente.
A advogada, até então quadro da Sonangol, apareceu muito longe da imagem com que habituou os seus familiares. Trajava o uniforme da cadeia e tinha o cabelo penteado, embora sem os arranjos impostos pela beleza feminina. Parecia assustada, arregalava os olhos volta e meia. Para se movimentar, era suportada por duas funcionárias dos serviços prisionais. Tal era o estado de choque que a jovem mal conseguiu pronunciar uma palavra e, mais do que isso, mal se conseguia sentar sozinha.
Família descontente
A sala estava lotada por familiares e jornalistas., não fosse a intervenção policial, familiares de ambas as famílias, que no passado festejaram a união do casal, teriam se envolvido, agora, em violência. O desagrado partiu, sobretudo, dos familiares da vítima, que se mostraram descontentes face ao posicionamento do juiz.
Na opinião destes, a ré está a “simular” um estado de loucura para, então, conseguir a absolvição da justiça. “Ela não está doente, não está maluca”, comentou a senhora, visivelmente irrita. “É tudo mentira”, gritou.
“Então quem mata basta, depois, confirmar que é maluco para conseguir ser absolvido pela Justiça?”, interrogou-se uma irmã do falecido.
“Já perdi um filho, mas agora clamo por Justiça. Será que quem matou-me o filho não vai pagar por isso?”, questionou a mãe.
A advogada, entretanto, tranquilizou os familiares, dizendo que se estava apenas “no começo” e que o juiz tomou tal decisão “pelo bem da verdade”.