Luanda -  Volvidos 9 anos desde que foram assinados os acordos de paz do Luena, que marcaram o fim do conflito armado em Angola, muita tinta correu e muito esforço se empreendeu para que este bem precioso que se chama paz, fosse mantido e consolidado para o benefício do martirizado povo angolano, de Cabinda ao Cunene e do mar ao Leste.


Fonte: Club-k.net


Os caminhos da reconciliação nacional são mais longos do que muitos pensam e não se singem apenas na palavra, nos textos de comunicados, discursos entrevistas ou pequenas acções de marketing político, hoje bem aprimorado por qualquer gestor do poder neste planeta.


Afinal a reconciliação nacional é muito mais do que isso tudo, ou seja, são acções reais que marcam as vidas das pessoas, respondem às suas preocupações, resolvem os seus problemas mais básicos, tranquilizam os espíritos, enterram ressentimentos e ódios e geram bem-estar, tranquilidade, desenvolvimento humano, prosperidade e felicidade.

 

Os caminhos da reconciliação nacional em Angola, não começaram nem foram atingidos com os acordos do Luena, até porque estes acordos trouxeram desafios enormes para todos os angolanos para a concretização deste desiderato, sem o qual Angola não se vai reencontrar consigo mesma, nem com o destino que os seus filhos legítimos almejam.

 

A memória traz-nos uma data de acordos assinados desde o período da independência até ao calar das armas aos 4 de Abril de 2002, que nos mostram bem claro, que a reconciliação nacional está para lá de um simples acordo de cessar-fogo.

 

Basta ver que milhares de angolanos que deram o seu melhor nos exércitos então em conflito, continuam sem eira nem beira, levando na maior parte dos casos uma vida de animais selvagens e noutros enganados com promessas de uma vida digna longe de se atingir, se considerarmos que a esperança média de vida em Angola é de 45 anos. Os que foram cedo para a luta, queimam agora os últimos cartuchos, enquanto os que ainda têm alguma vitalidade correm todos os dias para ver se alguma migalha do palácio serve o seu estômago, a propina dos filhos e etc, etc.

 

Nesta altura em que são celebrados 9 anos desta paz jovem, muitas perguntas se levantam em volta dos seus reais benefícios, do cumprimento das tarefas e o alcance da reconciliação nacional, das responsabilidades dos actores políticos e sociais, do papel do estado e concomitantemente do futuro de Angola.

 

É este futuro que nos interessa, porque dizia Isaías Samakuva nas suas 10 teses para a Democracia que quem só fala do passado não tem programa para o futuro e porque do passado culpados fomos todos, vítimas fomos todos e responsáveis fomos todos. Citamos


Para o futuro de Angola, é importante referir que o mesmo só será risonho, se a reconciliação nacional for real, as responsabilidades de cada actor político e social forem cumpridas com rigor e o povo deixar de ter a vida que leva hoje, onde as suas reivindicações, petições e direitos são negados, alegadamente por causa do passado de guerra, enquanto a elite no poder e seus próximos andam nos melhores carros, escolas, hospitais, hotéis, praias, condomínios, shoppings, restaurantes, festivais, campeonatos, feiras e outros eventos como se estivessem noutra galáxia onde a guerra nunca terá passado. Mais do que qualquer intenção, discurso ou palavra, a reconciliação nacional deve ser um conjunto de realizações sérias e não de show off, que tenham impacto real e positivo na vida de todos os angolanos e amigos de Angola, sem discriminação de sexo, raça, idade, religião, filiação partidária ou outra.

 

A reconciliação nacional deve passar por políticas que primem pela valorização do homem, o construtor do futuro de Angola, sem comprar a sua consciência, a sua moral ou explorar a sua condição material e social. Deve passar pela justiça social, pela educação e saúde de qualidade para todo o cidadão, pelo emprego bem remunerado, pela liberdade de expressão, associação e manifestação, por uma imprensa livre, isenta e não manipulada, pelo respeito pelos direitos humanos, habitação para os que não têm, pensões para os ex-militares e outras camadas vulneráveis.

 

A reconciliação nacional deve acabar com a mendicidade nas ruas e as ajudas humanitárias com fins eleitoralistas, acabar com a corrupção e valorizar os camponeses e a sua produção, incentivar a cultura, os criadores e os promotores dos valores e da nossa identidade africana. Em fim, uma série de tarefas que afinal de contas são da responsabilidade de todos, eu, tu, ele, nós, vós, eles angolanos e amigos de Angola.

 

A reconciliação nacional não tem um calendário fixo, data de início e fim, tem sim um engajamento sério de todos para materializar as tarefas enumeradas e muitas outras, para nos contos da história, o passado não servir para falar de vencidos e vencedores, mas sim dos erros a evitar e dos caminhos a seguir na construção de uma Angola próspera, onde se possam rever todos os seus filhos.

 

Que o aniversário da paz desperte as nossas consciências para o que fizemos, o que fazemos e o que temos de fazer para alcançar uma reconciliação nacional genuína e garantirmos um futuro melhor para as gerações novas e vindouras.


Salve Deus a pátria nossa, salve Deus a nossa Angola.