Luanda - O proprietário do Hotel Katyavala, general Lede, está a responder a um processo que segue os seus trâmites legais no Tribunal do Trabalho, em Luanda, por se recusar a pagar os ordenados da ex-directora e do ex-relações públicas internacionais da unidade hoteleira.
*Paulo Sérgio
Fonte: O Pais
O general na reserva e a ex-directora foram notificados a comparecer numa audiência de conciliação, realizada na sexta-feira, 8, mas o primeiro foi representado pela sua esposa, Milca Caquese, na qualidade de gestora do hotel, que se fez acompanhar pelo director de recursos humanos e o contabilista.
Segundo a queixosa, face à resistência dos representantes do general a assumir o compromisso de pagar os seis ordenados do casal, o representante do Ministério Público que presidia à audiência, orientou o advogado de defesa no sentido de redigir uma proposta, exigindo não só os salários, como também uma indemnização pelos constrangimentos que os seus clientes enfrentam.
Filomena Carreira contou que foi exonerada do cargo que exercia desde Dezembro passado, alguns dias depois de ter solicitado ao general que lhe pagasse os seus ordenados em atraso para ir a Portugal socorrer uma das suas filhas que padece de cancro.
No momento em que apresentou a preocupação, o general mostrou-se disponível para ajudá-la e criou uma comissão de gestão para dirigir o hotel na ausência da directora, liderada pela senhora Milca Caquesse, que acabou por demiti-la por e-mail.
“Fui informada que estava demitida através de um e-mail enviado pela segunda esposa do general, a senhora Milca Caquesse, por me ter recusado a justificar o facto de a minha secretária executiva auferir mensalmente 900 dólares”, declarou.
Depois de alguns dias, a ex-directora foi convidada pelo presidente do conselho de administração do grupo Gate-Acclo, general Lede, para participar numa reunião onde esteve presente a sua esposa e o advogado do grupo, identificado apenas por Ladeiras. Neste encontro, o general confirmou-a como directora e declarou que ela poderia ausentar-se do país e que receberia uma pequena soma monetária porque não estava em condições de pagar todos os ordenados em atraso.
Falsificação de processo
Já o relações públicas internacionais foi informado, na mesma ocasião, que não poderia acompanhar a sua esposa nem receber o seus ordenados atendendo a que tinha um processo-crime em andamento numa das unidades policiais da capital.
Filomena Carreira acusa o general de ter falsificado a existência de tal processo só para justificar o facto de não querer pagar ao seu esposo, argumentando ter descoberto que tudo não passava de uma mentira.
“O meu esposo estava a ser acusado de riscar um automóvel que se encontrava aqui nas imediações do hotel e chegou a ser barbaramente espancado por isso, mas eu apurei que não existia processo nenhum, através de uma das vizinhas que supostamente estava envolvida no caso”, explicou a senhora.
O casal vive há mais de 100 dias num dos pequenos quartos do hotel.
Foram proibidos de fazer as refeições no restaurante (passaram a recebela de forma alternada, dia sim, dia não) e são obrigados a lavar a roupa na casa de banho do compartimento. Para fazer uma refeição condigna, ambos passaram a depender da boa vontade de um amigo que, de vez em quando, os convida a ir jantar ou almoçar fora.
A ex-directora do Hotel Katyavala explicou a O PAÍS que está a mover o processo contra o general na reserva e o seu grupo empresarial por ter sido ele quem a contratou em nome do grupo que dirige.
Filomena Carreira desabafou que, quando assumiu a liderança do hotel, não havia registos de contabilidade nem sequer um escritório onde pudessem coordenar as actividades administrativas e financeiras.
Aumento dos lucros
Os ex-directores tiveram uma espécie de papel decorativo porque todas acções eram coordenadas a partir de um escritório externo, o que não é aceitável em nenhuma parte do mundo. “Na altura, o hotel tinha como único cliente a Clínica Girassol, que havia alugado 34 quartos , sendo que os demais estavam reservados para os clientes passantes”, explicou, acrescentando que “o general Lede recomendou-me, na ocasião, que encantasse a Clínica Girassol e trouxesse para o estabelecimento mais hóspedes passantes; assim fiz e aumentámos drasticamente o volume de receitas financeiras arrecadadas quinzenalmente”, frisou.
A nossa interlocutora disse que cumpriu a ordem do patrão ao conseguir atrair os funcionários da Banco Espírito Santo, do Banco de Poupança e Crédito e de outras empresas.
Baseando-se na qualidade do serviço que a unidade hoteleira passou a prestar, ela considera que o seu “consulado” teve não só benefícios financeiros para o dono do estabelecimento como para os próprios funcionários que passaram a ser mais valorizados, quer financeira como psicologicamente.
“Quando cheguei ao hotel encontrei todos os funcionários desmotivados porque tinham os seus ordenados em atraso, ganhavam mal, estavam mal formados para o serviço, eram desvalorizados e só tinham direito a uma caneca de chá e um pão seco por dia”, explicou a também activista humanitária com um semblante triste, acrescentando que “o senhor Lede chegou a mandar-me cortar o salário que eles tinham em atraso, mas recusei e consegui pagá-los”.
Ela e o seu esposo foram contratados em Dezembro, por intermédio de um amigo, para dirigirem o hotel. Na altura, o casal estava de malas feitas para trabalhar na província do Huambo, mas não conseguiram resistir à proposta que lhes foi apresentada pelo general e acabaram por aceitar o convite.
O PAÍS envidou todos os esforços para ouvir o general Lede, mas este, num tom ameaçador, recusou -se a prestar qualquer declaração acerca do assunto, alegando que só a directora do seu hotel é que poderia fazêlo. O que não aconteceu até ao fecho da presente edição.