Luanda - O julgamento de William Tonet (WT) vai prosseguindo os seus trâmites numa senda mais ou menos recta. Interrompido por vezes, mutilado em ocasiões, por ausência dos generais ofendidos, no 13.07, realizou-se mais uma sessão, que conheceu um dos seus momentos altos, com a presença do general Zé Maria na sala de audiências, na sua qualidade de declarante ofendido, face a uma notícia publicada no F8, da autoria de um jornalista do F8, que não assinou e por este motivo, responde William Tonet, na qualidade de director, afinal o verdadeiro alvo a abater, por todos…


Fonte: Folha8

 Mais uma musculatura do General

Felizmente, o “reality show” de Zé Maria, não  se ficaria, pela exibição de uma verborreia em latim, muitas vezes, descontextualizada, passada durante as suas declarações em barra, quanto a uma eventual notícia bombástica referente ao caso em questão, isto é, à necessidade premente de condenar WT, a qualquer custo, pois trata-se no caso vertente de mais um arreganho de formalismo exacerbado do general de estimação do Executivo, que antes de entrar na sala de audiência, também se colocou na pele de juiz, fazendo justiça por mãos próprias, ou seja, “Abusus non tollit  usum” (o abuso não tira o o uso; não é por se abusar de um direito que se perde esse direito), sabe-o bem o general.


Vamos aos factos: Tendo-se apresentado fardado não a rigor, como gosta de impor aos demais, o general Zé Maria não se esqueceu de dar uma vista de olhos ao que se passava em seu redor e, a determinada altura, descobriu em pleno hall do Tribunal o capitão, Ângelo Joaquim Pedro, natural de Malanje, chefe da 2.ª Companhia do 4.º Batalhão do Corpo de Cadetes, no Instituto Superior técnico Militar, ISTM, rigorosamente uniformizado, mas que para a visão e show do general Zé Maria, não estava tão bem fardado como ele gostaria. E, como o mesmo estava com febre, decidiu usar a camisa com as mangas arreadas e, num dado momento, colocou as mãos nos bolsos. E foi aí que a porca torceu o rabo, em tão altíssimo foro, separados por uma distância o general, como se estivesse no quartel começa a gritar, para o capitão, que não lhe tinha notado: “TIRA AS MÃOS DO BOLSO”! “TIRA AS MÃOS DO BOLSO, SENHOR CAPITÃO. TENHA APRUMO DE UM SOLDADO”! Ao escutar estas ordens, nas suas costas, vira-se e apercebe-se tratar-se de um general.


 Mesmo contrariado, por não estar a infringir norma militar, obedece, mesmo sem conhecer de quem se tratava. Acto continuo, diante da plateia, continua o seu show: “ CAPITÃO, DOBRA AS MANGAS DA CAMISA”! “DOBRA AS MANGAS DA CAMISA”, tudo ordens  em voz alta, diante da mulher e outros cidadãos. Mas não satisfeito, mostrando a sua prepotência, abeira-se do capitão e à força, arranca-lhe o cartão de identificação, que este portava no peito, metendo-o no seu bolso, dando-lhe as costas. Com este acto, o juiz general militar, Zé Maria, que quer ser famoso como a Coca Cola colheu a condenação geral e a estupefacção do capitão Ângelo que não queria acreditar, no que se estava a passar. Mas o que teria feito ou não feito esse oficial das FAA? Ou, se nada fez de mal e se o que fez foi bem feito, que crime teria ele cometido? Nenhum! O crime é haver um general, que abusa do seu poder, com a mais ampla impunidade, pelo facto de trabalhar e depender directamente do Presidente da República, como fez alusão de dizer em audiência. Simplesmente, a camisa do capitão, é verdade, a sua camisa de mangas compridas estava como tinha saído da logística militar, de mangas compridas, que não contraria as normas militares.

 


 No entanto, o general, até tinha a sua camisa, mal colocada na calça, com um lado ligeiramente de fora, achou, que deveria apontar um alegado e irreparável desleixo do capitão Ângelo, que não cabia ao insigne general Zé Maria deixar passar impune.

 

Os funcionários do Tribunal e o público em geral presentes no Hall, assistiram assim a mais um lamentável e triste espectáculo do general Coca Cola, chefe dos Serviços de Inteligência Militar- SIM., proceder a um julgamento deste gabarito, visando condenar, sem provas, como de costume, um recalcitrante capitão, que estava acompanhado da sua esposa em estado de gravidez avançada, e os que estavam mais próximos ouviram-no fazer severas observações ao alegado desleixado membro da nobre casta castrense, passe o quase pleonasmo.


 «Levo a tua identificação e vai-te embora”, teria ele dito, ao que o capitão teria respondido qualquer coisa como um pedido de desculpa já depois de ter arregaçado as mangas da sua camisa. Mas não disse nada e os espectadores, subitamente interessadíssimos no que se estava a passar, ficaram à espera do segundo episódio, que, por felicidade de alguns aconteceu. O general Zé Maria avançou o seu braço comprido e a sua musculosa mão, agarrou a ficha de identificação do atónito, afónico e petrificado capitão, com a sua esposa ao lado sem saber onde se meter, e záz!, arrancou-a e meteu-a no bolso das suas pouco impecáveis calças.

 

Esta humilhação também atingiu a esposa do infeliz capitão, que por pouco não teve um colapso certamente atentatório à paz e sossego do seu bebé, ou, quiçá, um inopinado parto prematuro. E foi neste ínterim, que se decidiu recorrer ao juiz Manuel da Silva, que se encontrava na sala a conduzir a audiência, por sinal a interrogar, já, o arrogante e exibicionista general.

 

Confrontado com a informação recebida de um oficial do cartório, é aí, no ponto que parecia final deste entremez, contrariamente ao que se podia esperar, a cena não tinha chegado ao fim, porque o juiz, espantosamente, saiu da sua reserva e ousou mandar vir da sua autoridade e saiu-se com uma severa admoestação ao altíssimo general, defensor de um formalismo absoluto, e teria deixado subjacente que naquela sala de tribunal quem mandava era ele, e que o acto cometido pelo general Zé Maria, por mais general que fosse, ultrapassava o que se poderia admitir, num tribunal comum, propondo portanto que lhe fosse entregue o cartão de identificação do capitão e se fizesse uma fotocópia do mesma para o general poder ter em sua posse a cópia, mas não o passe original.

 

O que foi feito, perante o embaraço do general Zé Maria e a satisfação geral de todos os presentes. Para o capitão Ângelo Joaquim Pedro o que lhe aconteceu, foi uma surpresa, por isso disse: “ É assim que um general diz pretender um Estado democrático e de Direito? Não acredito! Como general ele deu um mau exemplo e foi o primeiro na minha vida que vi agir, pior que um soldado iletrado, com todo o respeito. Por outro lado, eu não ando mal uniformizado, por ser responsável, pelo que estranhei essa atitude, do general”.Quanto à prestação de declarações por parte do general, no processo do director do F8, nada há de relevante a assinalar, à parte uma autêntica façanha que não podemos fazer passar sob silêncio.

 

A certa altura, a propósito da sua presença naquele local o general, não deixou de pavonear a sua idade, dizendo, ser o mais velho na sala, pois tinha 65 anos. Autêntico despropósito, tal como as suas latinizadas tiradas. Depois disse que nunca tinha visto uma notícia daquelas, de que estaria sob custódia, na Polícia Judiciária Militar, nos quarenta anos de carreira de oficial militar, sem nunca ter um processo disciplinar e enfatizar, repetidamente, para que se lançasse nos autos, ter sido condecorado várias vezes.

 


Santa inverdade.


Zé Maria, fez parte de uma comissão que “condenou”, injusta, caluniosa e difamatoriamente, oficiais superiores do SIE, acusados de estarem a atentar contra o Presidente da República e as instituições do Estado e mais de um ano depois, alteraram o crime, para insubordinação militar. Isso é o quê? Honestidade? Adiante. Que nos cumprimentos do fim de ano de 2007, o Presidente da República ao saudá-lo lhe terá dito em tom jocoso: - “então o general não está preso, segundo o Folha 8”? Ao que disse, ter, também, respondido, jocosamente, a Eduardo dos Santos: - “estou a pão e água”.

 

Fantástico! O país tem 35 anos e meio e ele é general há 40 anos!!? Isto só em Angola. Outros considerandos para quê….Contentemo-nos com a Coca Cola e com esta triste imagem de alguns, afirmamos, alguns generais que trabalham e dependem, directamente do Presidente da República, terem este tipo de acções, que no final, maculam a sua imagem.