Holanda - Durante o discurso de ano novo na Tanzania no dia 1 de janeiro de 1968, o célebre Julius Nyerere, então Presidente da Tanzania, afirmou (em inglês): "No nation has the right to make decisions for another nation; no people for another people". [em português: "Nenhuma nação ou povo tem direito a tomar decisões por outra nação ou povo].


Fonte: Facebook/Club-k


Kadhaffi foi transformado num "monstro",

excepto no própio continente africano

 

Estas são as palavras que sempre ecoaram na minha mente curiosa e atenta sempre que parei para pensar na situação da Líbia. Porque aparentemente, trata-se de mais uma invasão do ocidente para explorar os vastos recursos petrolíferos da Líbia e esta análise por si só não é errada; tem sido a análise mais conhecida e difundida entre os vários líderes de opinião africanos em África e fora da África. Mas, uma análise um pouco mais minuciosa podería levar-nos a uma conclusão um pouco diferente.


De facto, o que muita gente não sabe, é que o Ocidente já tinha antes do conflicto da Líbia vários contratos de exploração petrolíferos naquele país. Kadaffi estava disposto a melhorar cada vez mais a relação com o ocidente e o petroleo fazia parte do "menu" deste "namoro" que na altura aparentava ser cheio de amores com o ocidente. Uma leitura cuidadosa neste  http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-10751128 nos mostra isso mesmo.


O problema é que a maioria de nós avalia a situação da Líbia apartir do momento que a NATO decide intervír. Convém porém que todos saibamos que antes de Fevereiro de 2011 Kadaffi mantinha uma relação cada vez mais estreita com o ocidente, nomeadamente com a França, Italia, Espanha e estava a solidificar cada vez mais a sua relação com o Reino Unido, Alemanha e os EUA. O povo Líbio, em particular a juventude, a semelhança de muitos outros lugares do mundo, estava cada vez mais insatisfeita com o sistema político do seu país e apartír das redes sociais falavam e debatiam sobre reformas. Até que, provavelmente inspirados pela revolta popular na Tusinia, um grupo de jovens convocou apartír das redes sociais uma manifestação para exigir a saída de Kadaffi e a mudança de regime.


A reação de Kadaffi não se fez esperar. Alertou que a Libia não era o Egipto, e reagiu com violencia ao invés de mostrar abertura para o diálogo. Kadaffi disse que literalmente que mataria todos aqueles que se manifestassem contra ele, e usou armas pesadas e alegadamente "mercenários" recrutados de alguns países da África Sub-sahariana para reprimir as manifestações. Os manifestantes aos poucos, foram também reagindo com violencia, em retaliação. Kadaffi classificou-os como ratos, drogados e elementos da Al Qaida e começou a persseguir a todos os supostos manifestantes. No processo os seus agentes de segurança prenderam e assassinaram muitos "inocentes", e a gota d'água foi quando Kadhaffi decidiu usar até mesmo misseís contra o seu povo. Vários pilotos preferiram abandonar Kadhaffi e a Libia do que cumprir uma missão tão genocida. No exterior vários embaixadores entre outros diplomatas do regime de Kadhaffi se voltaram contra ele, e apelaram a comunidade internacional para agir. Note que os própios ex- representantes do regime Libio no exterior se voltaram contra Kadhaffi e denunciaram a violencia extrema contra o povo Líbio. Fizeram isso de livre vontade movidos apenas pela sua consciência. A comunidade internacional como sempre demorou a agir, em parte porque as potencias internacionais tinham muitos interesses na Líbia signatados com o regime de Moammar Kadhaffi. Enquanto isso no interior da Líbia, o exército se dividiu e uma ala apoiou aquilo que ficou conhecida como a "rebelião" contra Kadhaffi enquanto que outra ala se manteve fiel ao regime. Os representantes do regime Líbia no exterior, um á um se alinharam aos "rebeldes" e a sua causa ganhou mais força e visibilidade. Kadhaffi ficava assim transformado num "monstro", excepto no própio continente africano.


Vamos agora supor que a NATO não intervisse. Também haveriam muitas críticas. Kadhaffi tería cumprido a sua ameaça e mataria todos os suspeitos de se terem manifestado contra ele, assassinando no processo muitos inocentes. O mundo teria condenado e questionado o porquê que a comunidade internacional não interviu e os diplomatas libios no exterior responssabilizariam a ONU e as potencias internacionais de nada terem feito quando estes apelaram para ajuda. Mas a NATO interviu e matou igualmente muitos inocentes. Morreu muita gente, e o mundo, particularmente a África está a condenar e com justa razão. Mas é digno de nota que os Líbios receberam com alívio e satisfaçao a notícia da intervenção da NATO para ajudar a retirar o Kadhaffi do poder e já se sabia que isso só seria possível com guerra, já que o Kadhaffi não sairia pacificamente, e parece que os Líbios estavam dispostos a pagar o preço mais alto. É claro que os ocidentais só interviriam se assegurassem antes que os seus planos de negocios na Libia teriam continuídade e foi isso que fizeram. De olho no petroleo, a NATO interveio com ferocidade contra o regime de Kadhaffi, causando muitas destruições em infra-estruturas e vidas humanas.


Há nisso, uma diferença com o Iraque. No Iraque se tratou claramente de uma invasão dos EUA contra o regime de Saddam Hussein e não teve apoio nem da comunidade internacional nem da maioria do povo do Iraque que após a queda de Saddam, sentiu que o seu país estava a ser ocupado por forças estrangeiras e combateu esta invasão.  Na Libia, são os própios Libios que com a ajuda da NATO pelo ar, puseram fim ao regime de Kadhaffi, e são os própios Líbios, já organizados no movimento NTC que apelaram a intervenção da NATO apesar das reticências da Liga árabe e dos "contras" da União Africana. Só por isso eu acredito que a situação na Libia terá um desfecho diferente da situação no Iraque e do Afesganistão por exemplo.


Mas há agora outro aspecto a considerar. Muitos líderes e regimes africanos se beneficiaram de ajuda economica e militar de Moammar Kadhaffi. Kadhafi investiu muito em África e ajudou alguns regimes africanos a manter-se no poder, por isso não me surpreende a opinião da maioria destes em relação a situação na Líbia.  A verdade é que África podería ter tido um papel mais activo e dinamico na situação da Líbia, um papel que não só visasse impedir a guerra cívil que estalou mas sobretudo fazer com que Kadhaffi dialogasse mais com o seu povo, em particular com os jovens e fizesse as reformas necessarias, e porque não, uma transição pacifica para deixar o poder convocando antes eleições livres e justas e iniciar assim uma nova era na Libia?


Porque a insatisfação da juventude Líbia não era porque passavam fome, falta de água ou luz, falta de saneamento básico, escolas ou universidades e hospitais. A insatisfação do povo libio e da juventude libia em particular, resultava mais do facto deles sentirem-se todos reféns de um regime dependente de uma só pessoa e da sua familia, que controlavam tudo no país. A elite libia (maioritariamente familiares, amigos e integrantes do regime de Kadhaffi) era milionaria, enquanto a maioria do povo libio era pobre, e dependente do sistema. Ao fim de 42 anos, queriam mudança, queriam liberdade. Kadhaffi não soube compreender isso e aconteceu o que aconteceu.


O presidente http://pt.wikipedia.org/wiki/Goodluck_Jonathan_Goodluck_Jonathan, da Nigeria, escreveu e publicou recentemente uma nota no seu facebook em relação a situação na Libia. Para a minha surpresa, Goodluck Jonathan responsabilizou primariamente o regime de Kadhaffi pela situação na Libia e acusou o ex-presidente deposto da Libia de não ter feito as necessarias reformas e iniciar uma transição pacifica no momento em que esta se impunha. O Presidente Goodluck Jonathan foi mais longe e disse mesmo que nós os africanos temos de começar a ser mais inteligentes e parar de culpar sempre os outros pelos nossos própios problemas. Porque por um lado, "culpamos o ocidente, por outro lado, nós mesmos, africanos, não fizemos o suficiente para evitar o que aconteceu na Libia".


Respeito o ponto de vista do Presidente Goodluck, que é exactamente igual ao meu. Mas o Presidente Goodluck Jonathan não ficou por aí. Ele, que tem sido dos presidentes mais activos no facebook e dos africanos, o que mais interage com a comunidade cibernética do seu país, anunciou na sua https://www.facebook.com/vanessa.mayomona#!/jonathangoodluck  do Facebook a criação de um programa ambicioso que vai empregar muitos jovens. O programa que ele define não ser "demagogico, mas real", vai também apoiar todo o jovem nigeriano com capacidade empreendedora, a transformar-se num mini-empresario. O Pesidente Goodluck Jonathan mostrou-se ainda disposto a manter todas as vias de comunicaçao abertas com os nigerianos, particularmente via facebook, que ele mesmo diz não precisar de acessores para isso mas o faz directamente (o presidente Goodluck é relativamente jovem e é deste tempo, e também joga videogames etc, gosta de estar no facebook, e de todos os presidentes africanos é o que mais actualiza a pagina. Milhares de nigerianos interagem com ele todos os dias. Goodluck Jonathan diz que entene a juventude, e pede para que todos se abram com ele sem reservas ou receios)! Considero o exemplo de Goodluck Jonathan um modelo a ser seguido. Ele tem sido definitivamente um "revolucionario cibernetico" aqui nesta trincheira virtual ---> Facebook :)


Aos meus irmãos e irmãos em Angola eu gostaria de dizer o seguinte. Em todo o lugar do mundo actualmente existe insatisfação. Existe insatisfação nos Estados Unidos da America. Existe insatisfação na Alemanha, na Holanda, na Irlanda, na Espanha, Reino Unido, China, existe insatisfação em todo o mundo. Mas nós temos de ser inteligentes e não permitir que a nossa insatisfação seja aproveitada por "grupos estranhos" para causar instabilidade, ou divisões entre nós porque saíriamos todos a perder. Aprendamos todos, (líderes e liderados), das lições que nos vêm do magrebe e de todo o mundo!