Luanda - Foi por um fio que o pior não aconteceu. O general Zé Maria foi apontado uma arma à cabeça quando se aprestava a esbofetear um sargento da Guarda Presidencial (UGP). O general foi dado um “basta” quando outros militares solidarizaram-se com o colega, apontando, igualmente, as armas contra aquele influente oficial superior

 *A.R
Fonte: Angolense

Trânsito parou por 20 minutos por causa do pânico

Segunda-feira, 14, de Novembro. Era um dia como outro qualquer e, como é óbvio, me encontrava na redacção para cumprir mais uma jornada de trabalho. Eram dez horas e 30 minutos e como não deveria deixar de ser, procurava me actualizar sobre o que foi escrito pelos jornais da concorrência, os semanários. De repente, o telefone toca. “É o senhor Agostinho”? Sem rodeios, certifico -“sim”. Presenciei algo agora, o general Zé Maria foi humilhado pela UGP”, continuou. “Foi por um fio que o mal não aconteceu, foi apontado uma arma na cabeça”, explicava o homem que se identificou como sendo um fiel leitor deste jornal. “Quero me colocar a sua disposição se quiseres, para confirmar este dado”, ofereceu-se.


Numa análise rápida e fria, resmunguei com os meus “botões”: “isso não deve ser verdade”. Estava lançado o desafio – “vamos a luta”, disse-lhe. Em poucos minutos, o nosso motorista de “ocasião” acabava de chegar de uma mota, diga-se uma “torro” de elevada qualidade. Confesso que não é meu forte andar de mota, mas não havia outra solução, de carro corria-se o risco de se encontrar o cenário “desactivado”. O destino era o novo edifício da Justiça em construção na avenida 10 de Dezembro, o local onde o general António José Maria (Zé Maria), Chefe do Serviço de Inteligência Militar, uma das figuras influentes da Presidência da República terá protagonizado mais um “filme ao vivo”, qual “arruaça”.


Não havia tempo a perder – a mota se dirigia para o Kinaxixi. Tudo era muito rápido, estávamos na avenida de Portugal, passando pelo Palácio de Bento Bento, o recém – nomeado governador de Luanda. “Nunca vi coisa igual, um general ser humilhado em plena via pública, confesso que gostei de ver a cena. O outro facto que vi foi o desabamento da DNIC, na altura, eu regressava de uma festa”, testemunhou.


 A mota não parava de roncar, estávamos perto da meta – na Universidade Lusíadas de Angola. Deste ponto o engarrafamento se afigurava como um factor de estrangulamento, um pequeno impasse. O motoqueiro enfiava a mota entre dois autocarros ao pé da universidade Lusíadas – estava vencido o impasse. Para trás fica a casa das leis, a Assembleia Nacional. Estávamos no local, o novo Palácio da Justiça. O repórter desce antes do local e caminhava no passeio do edifício da Justiça. Uma barreira em ferro separa o passeio do eixo rodoviário, da estrada. A duzentos metros era visível um pequeno grupo de militares da Unidade de Guarda Presidencial (UGP) junto da referida barreira. O cenário fazia antever que algo teria acontecido – no local, no fim da vedação para quem dá para o Ministério da Defesa Nacional estavam nove militares da UGP, todos com armas automáticas AKM. Devidamente credenciados, enquanto uns conversavam, um deles trocava um fio de conversa ao telefone. Com o intuito de captar os “mujimbos” dos mesmos, o repórter se aproximou junto deles. “O carro estava na sombra” (risos), captou o repórter da conversa dos militares. Não se ouviu mais do que isso. Transpomos a estrada, estávamos do lado oposto do edifício da Justiça. “O general Zé Maria deve ter algum problema, por um pouco ele deveria ser morto. Eu estava dentro do quintal quando ouvi armas a serem manipuladas”, disse um protector de uma empresa de segurança quando respondia a nossa questão a respeito. Estava descortinado o enigma, a informação do nosso leitor era verídica.


Decidimos romper a “barreira” militar e fomos a fala com alguns soldados que se encontravam ao pé do Ministério da Justiça. Não foi uma decisão fácil, mas estava em jogo a confirmação dos factos. Visivelmente agastados, os militares falaram a nossa reportagem. “O general estava trajado a civil e encontrou um dos sargentos em serviço com as mãos no bolso. O sargento não tinha visto o general e ele queria que o batessem pala, disse que o sargento não o estava a respeitar e queria o fotografar, explicaram, acrescentando que, o sargento disse ao general para que não o fotografasse”, disseram.


Diante da posição do sargento em serviço, para fazer valer o seu poder, prosseguiram, o general foi fardar-se e rapidamente regressou ao local onde se encontrava o referido sargento. “O general insistiu em fotografar o sargento e o queria bater. Um sargento credenciado? O colega não admitiu e manipulou a arma e todos em solidariedade ao sargento manipulamos também as nossas armas”, informaram.

 

Dito pelos próprios militares, “Ele não respeita os militares, bate, e, por exemplo, se alguém for encontrado a engraxar às botas, é o suficiente para o esbofetear”, denunciaram, acrescentando que, “ele nos quer igualar aos seus homens? Os guardas dele passam mal”, frisaram, sublinhando que, o general interfere num trabalho que não é dele”.


Segundo explicaram, a sua principal atenção é proteger o mais alto mandatário da Nação, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos. “A nossa atenção está na caravana, o mais velho vai passar a qualquer momento”, contaram, interrogando que, “já imaginaram se o mais velho passa agora e encontra essa confusão”, disseram referindo-se ao Presidente da República.


Segundo apuramos, o trânsito parou por 20 minutos na sequência do pânico que se gerou naquele local na manhã de segunda-feira.  


No entanto, fonte militar, admite que a atitude do general Zé Maria envergonha as Forças Armadas Angolanas e os generais no geral, porque tem se a ideia de que os oficiais superiores “usam e abusam” do pode.


De acordo com a mesma fonte, chegou a hora do Comandante em Chefe, José Eduardo dos Santos tomar medidas porque não é a primeira vez que o referido general é acusado de práticas menos boas. Entre outras situações, o general foi acusado num futuro não muito distante, de espancar um guarda do Ministério da Administração Pública Emprego e Segurança Social (MAPESS).  

 

*Agostinho Rodrigues