Está a dizer que Samakuva é um homem manietado no partido?
Claro que sim. Na UNITA continuam as intrigas. Quando saiu o meu nome houve gente a dizer que não deveria ser assim, que deveria ser o nome de Alcides Sakala, etc.
Mas eu fui substituir o Dr. Valentim, um grande político. Eu tinha, até por honra familiar, de enfrentar o novo desafio o. Para ser verdadeiro, na altura esperava um cargo de vice-ministro.
Fui nomeado ministro e procurei fazer o melhor possível, em nome da UNITA e do meu partido.
O nome Chingunji tinha muito peso na história da UNITA.  Jonatão Chingunji foi dos fundadores e dos que mais arregimentaram pessoas para o partido.
A zona do Bié e ao longo do Caminho de Ferro de Benguela eram ambientes em que o nome Chingunji era conhecidíssimo. O meu avô foi o primeiro angolano a criar uma escola, na época colonial.
Fê-lo no Soyo e também na Chissamba, Bié. De entre os primeiros onze quadros que a UNITA mandou à China dois eram parentes meus. O meu pai foi o primeiro chefe do estado maior da UNITA. Por isso era um desafio grande o que se me afigurava e eu fiz por sair-me bem.


Está um Chingunji no início da UNITA e agora o último Chingunji a abandonar a UNITA no momento do descalabro eleitoral…
A UNITA tem gente muito boa, com muito bom coração.  É isso que se tem de fazer passar. Esta UNITA, no ambiente interno, esteve sempre contra mim. Não aproveitaram, em termos políticos, o meu trabalho.  Julgam-se os únicos e eu sou traidor para eles. Alguém que se levanta quando estão a matar-lhe a família é traidor? Os slogans internos da UNITA ferem a minha sensibilidade.


Não há mais gente na UNITA a querer mudar o estado das coisas?
Se os há não colocaram as coisas sobre a mesa.
Depois do colapso militar não se quis discutir o passado e a história da UNITA. Os que contribuíram para o colapso aparecem agora como heróis.


Nomes?
Estou a escrever um livro. Aí virão os nomes...


E para mudar a UNITA por dentro, Abel Chivukuvuku pode fazê-lo?
Eu sabia que ele não ganharia o congresso. Teria de vencer toda a máquina do aparelho do partido.


Não há como vencer na UNITA?
Há outro problema. O que pergunto primeiro, aos que dizem querer renovar a UNITA, é sobre que modelos de sociedade querem para o país. Isso é muito importante.
Nas democracias mais avançadas isso é fundamental. E é fundamental também que se viva em consonância. Não se pode defender certas ideias vivendo ao contrário, ou sendo conivente com práticas contrárias.
A UNITA falava de democracia, fez com que muita gente deixasse a sua vida para embarcar nesse sonho, os militares morreram em nome da democracia. Defendia-se a luta contra os cubanos e os comunistas soviéticos.
A UNITA tem gente muito boa que se entregou à essa causa pelos angolanos, pelo povo. Mas também houve quem pactuasse ou não se levantasse contra o que se passava internamente.
Mesmo que fosse para defender a própria vida, não se pode calar vendo crianças a serem atiradas a uma fogueira. Que tipo de sociedade pode esta gente propor aos angolanos?
É isso que tem de ser discutido para a UNITA se renovar.  Noutros países, ao saber-se que um político violou alguém, ou que esteve envolvido em casos em que sofreram crianças, esse político está logo acabado.
Nós na Jamba vimos Satanás aqui na terra. Eu, quando fui à Jamba, no VI congresso, fiquei chocado. Afinal, está o meu tio nos Estados Unidos a trabalhar pela democracia e aqui é isso o que se passa?
Hoje me pergunto sobre certas pessoas: que educação dá aos filhos? Quem fez o que aconteceu na Jamba não pode ter um programa de Estado para Angola. Democracia estamos a aprendê-la todos agora. MPLA, UNITA, todos.

Fonte: Semanário Angolense