Luanda - Desmobilizados das antigas forças governamentais e da UNITA, respectivamente, denunciaram, em conferência de imprensa recente, em Luanda, existir manipulação de políticos da oposição para o comportamento menos cívico de antigos companheiros, apesar de o processo de liquidação dos seus subsídios estar já a decorrer, desde o dia 15 último.  


Fonte: Angop


O ex-militar das extintas forças militares da UNITA, Francisco Canele, detido quando participava numa manifestação ilegal, confirmou que responsáveis partidários, bem conotados, entraram nas instalações do Regimento de Transmissões do Exército (onde estão afixadas as listas nominais dos eventuais beneficiários), em Luanda, com propósito de interferir na organização do expediente administrativo.  


Capitão de patente, Francisco Canele, acompanhado do antigo "camarada", Luciano António, denunciou similar movimentação no local de pagamento dos subsídios (Regimento de Polícia Militar, no Campo do Grafanil), além da presença de número considerável de jovens que, pelas suas idades, aparentemente, nunca teriam sido incorporados, e estarem já na condição de desmobilizados. A bem do processo, apelou aos responsáveis de partidos políticos a não interferirem nos assuntos dos ex-militares desmobilizados.  


Por seu turno, o representante dos militares desmobilizados das extintas Forças Armadas Popular de Libertação de Angola (FAPLA), Caetano Marcolino, corroborou da denúncia, vincando tratar-se de iniciativas com fins eleitoralistas. “Estou a ser claro, na unidade de Regimento de Transmissões do Exército apareceram indivíduos a fazer campanha política, incitando os desmobilizados a desobediência”, asseverou aquele responsável, que tem servido de ligação, para as questões do pagamento dos subsídios, com a Alta Hierarquia do Ministério da Defesa Nacional e do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas.  


Informou que os dirigentes desses partidos aproveitam-se das reivindicações dos ex-militares para, no local, promover campanha política, tendo confirmado a presença, nas instalações do Regimento de Transmissões, de elementos da Casa-CE, UNITA e Bloco Domocrático (BD). Segundo referiu, membros destes partidos tentaram coagir os presentes a receberem panfletos e a manifestarem-se nas ruas de Luanda.


Caetano Marcolino aconselhou a direcção do partido UNITA a criar uma comissão para, em conjunto, com as autoridades governamentais e militares, acompanhar este processo administrativo de pagamento de subsídios aos desmobilizados.  


Denunciou ainda a aparição, no passado dia 15 de Junho, de Silva Mateus, general na reserva, que procedeu a recolha de guias de pagamento de subsídios de alguns abrangidos para “reclamar pelos atrasos”.


Recorde-se que a 16 do corrente, o Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), numa nota de imprensa, alertou para o facto de dirigentes dos partidos Unita, Casa-CE e do Bloco Democrático (BD) terem entrado em instalações militares, sem prévia autorização, interferindo na organização do pagamento dos subsídios de desmobilização e incitando os ex-militares a desobediência.  


Lembrava que, à luz da Lei de Defesa Nacional e das Forças Armadas, os quartéis, bases e demais instalações militares são locais protegidos, nos quais não são permitidos quaisquer actos que violem a segurança militar, assim como actividades de natureza política, susceptíveis de pôr em causa o carácter apartidário das FAA. Por esta razão, referia a fonte, o Estado Maior General decidiu apresentar queixa crime, à Procuradoria Geral da República, após identificar os dirigentes dos partidos políticos referidos.  


Em 20 de Junho, grupos de cidadãos, alegando a condição de desmobilizados e a pretexto de reivindicarem pensões de reforma, concentraram-se nas proximidades do Terminal Doméstico do Aeroporto 4 de Fevereiro, do Largo da Maianga e do Cemitério do Alto das Cruzes, em Luanda, onde promoveram uma série de desacatos. 


Saliente-se que desde 15 deste mês, no Regimento da Polícia Militar, localizado no Campo Militar do Grafanil, o processo de pagamento de subsídios dos desmobilizados tem sido levado a cabo em conformidade com as deliberações do Executivo angolano.