"Que vamos fazer-nos a Mugabe? Nada !", declarou em Accra o líder do MDC, Morgan Tsvangirai, que reivindica a vitória das eleições presidenciais de 29 de Março último com mais de 50 por cento dos sufrágios.

"Mugabe é uma personalidade importante na história do Zimbabwe e de África e estamos conscientes disso. Por isso, temos a intenção de salvaguardar a sua reputação de herói", afirmou Tsvangirai, durante uma conferência de imprensa na capital ganense.

"Mugabe é um herói da libertação do nosso continente e deve ser convencido a respeitar os desejos e os direitos democráticos do povo zimbabweano e partir de cabeça erguida", acrescentou.

Tsvangirai, cuja visita a Accra tinha por objectivo apresentar a posição do MDC aos líderes do planeta e à comunidade internacional por ocasião da 12ª Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (CNUCED), explicou que abordava a questão sob o ângulo da diplomacia.

Durante a sua estada em Accra, Tsvangirai encontrou-se com o Secretário Geral das Nações Unidas, Ban Ki moon, e o com o Presidente ganense, John Agyekum Kufuor.

Ele rejeitou as alegações sobre a sua longa ausência do Zimbabwe por medo de regressar ao seu país, indicando que a sua deslocação entra no quadro da estratégia definida pelo MDC.

Nos termos desta estratégia, apelou à intensificação das consultas diplomáticas para com que a comunidade internacional se envolva na crise zimbabweana.

"Ninguém pode impedir-me de regressar ao Zimbabwe. Quando estiver pronto voltarei em segurança", frisou Morgan Tsvangirai.

Afirmou que o Presidente sul-africano, Thabo Mbeki, "não é um medianeiro honesto" para a crise eleitoral zimbabweana, acrescentando que o MDC está perturbado pelo papel que ele desempenha "ao pôr em causa a vitória" do povo do Zimbabwe nestas eleições.

"Estamos perturbados pelos seus comentários a respeito da crise prevalecente no nosso país, bem como pela campanha de desinformação que levou a cabo durante a recente reunião da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), cujos trabalhos ocorreram nas ilhas Maurícias, e na reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que acaba de encerrar os seus trabalhos em Nova Iorque", sustentou.

Exprimindo-se a respeito da situação no Zimbabwe, o Presidente Mbeki teria afirmado que não há crise neste país.

De acordo Tsvangirai, contrariamente à afirmação do líder sul- africano sobre a situação no Zimbabwe, 10 pessoas morreram até agora e o balanço aponta igualmente para 500 pessoas feridas e hospitalizadas e milhares obrigados a abandonar as suas casas.

Por conseguinte, instou o Presidente Mbeki a demonstrar coragem aproveitando a oportunidade histórica que oferece a crise zimbabweana para apoiar o povo e não ao lado de qualquer partido político.

Tsvangirai indicou que "o MDC não participará numa segunda volta criada pelo Estado, simplesmente porque Robert Mugabe não aceitaria que ele ganhou as eleições".

Reafirmou que, nos termos da legislação, os resultados das eleições deveriam ser proclamados e verificados por todos os actores antes da tomada de qualquer decisão a favor da organização duma segunda volta.

"Em todo o caso, os dados que agrupamos demonstram que vencemos as eleições presidenciais com 50,3 por cento dos votos, ou seja mais do que os 50 por cento requeridos pela Constituição para que um candidato possa ser declarado vencedor", disse.

Morgan Tsvangirai acusou Robert Mugabe, à frente do país há 28 anos, de ser o mentor dum plano militar que modificou o ambiente eleitoral e criou uma atmosfera de medo e de intimidação que provocou mortos.

"Instamos cada aldeia e cada cidade, cada comunidade étnica, cada homem e cada mulher, cada chefe de Estado africano a levantar-se para defender o povo do Zimbabwe", sublinhou.

O líder opositor zimbabweano considerou que a reputação de África poderia ser manchada se se permitir ao Presidente Mugabe falsificar os resultados duma eleição democrática, ao recusar transferir o poder mesmo sabendo que perdeu o apoio das populações.

Fonte: PANA