Ao que constou, a viatura BMW com que Cláudio se fazia transportar embateu contra o Toyota Starlet de Celestino. Analisadas as coisas, o fiel da balança pendia a favor do proprietário do Starlet, mas a lei do mais forte terá imperado e Celestino passou de inocente a culpado. Ou seja, tratou-se de um daqueles casos em que o indivíduo é “preso por ter cão e por não ter cão”.

Celestino foi vítima de uma sessão de espancamento de que nunca se esquecerá para o resto da sua vida, além de uma série de outras ameaças que atentavam contra a sua integridade física. Mas, à semelhança doutros casos do género, o assunto acabou por morrer no esquecimento.

As investigações policiais acabaram por permanecer da forma como começaram, ou melhor, não se moveu palha nenhuma para se esclarecer o caso. Para Cláudio, o crime compensou. Para Celestino, a impunidade imperou uma vez mais entre os angolanos. A montanha viria então a parir um minúsculo ratinho, visto que até à data, mais ninguém se pronunciou.

No mesmo ano, isto é no dia 5 de Outubro, no Bairro Popular, um primo de Nandó, conhecido por Filomeno Dias Simão, foi acusado de matar um vizinho, depois de trespassá-lo com uma fulminante bala na região do pescoço, ao que se diz sem causas justificáveis. O mesmo terá permanecido detido apenas durante alguns meses.

Mas alguém, no seio familiar do ex-primeiro-ministro não estava nada satisfeito em ver a caravana a passar, em ver-se suplantado pelos seus parentes. Trata-se de Hélder, o mais novo de Cláudio, que não pretendia ver os seus créditos em mãos alheias, demonstrando que a procissão apenas ia no adro.

Passados alguns dias deste acontecimento, o mesmo voltava a entrar em acção por volta das 20 horas, de um dia normal como todos os outros, nas imediações da Pensão Alcobaça, à Maianga. Segundo as testemunhas oculares, este novo varão de Nandó ter-se-á munido de uma arma do tipo AKM, com a qual efectuou sucessivos e aleatórios disparos, na sequência de um desaguisado com um outro indivíduo com quem se desentendera em virtude de uma ultrapassagem que Hélder considerou de irregular.

Apesar de nenhuma viatura ter ficado danificada, o que em condições normais levaria os dois automobilistas a um rápido entendimento, as coisas deram para o torto, contrariamente ao que era esperado. Os dois travaram-se de razões numa acalorada discussão, que viria a resvalar para a ladeira do muito violento.

Ante a reacção do seu antagonista, que não se deixou intimidar pela figura de Hélder Dias dos Santos, nem pela posição do seu pai (afinal neste país ainda existem leis), o filho do “premier” não se coibiu e fez-se ao interior da sua viatura, donde retirada uma metralhadora do tipo AKM, para, sem pestanejar abrir fogo, sem ao menos, respeitar os demais frequentadores do recinto e outros transeuntes.

Nelson Maravilhoso, um jovem de 27 anos de idade, foi uma das vítimas inocentes. Sem estar directamente envolvido nas quezílias, só teve tempo de acolher uma bala que viria alojar-se na sua perna direita. Outro seu colega de infortúnio, segundo garantiram as pessoas abordadas no local, foi um garoto, de quem se diz ser menino de rua, cuja identificação e localização não foi possível obter, por o mesmo se ter posto a milhas do local, aturdido com o sucedido.

Por pressão da sua família, Nelson Maravilhoso teve mais sorte, uma vez que Hélder se viu obrigado a prestar socorro imediato, levando-lo na mesma noite até à Clínica Alvalade, onde ficou internado durante quatro dias, numa operação totalmente custeada pelo autor dos disparos.

Na vasta lista de crimes cometidos por Hélder, consta o julgamento movido pela família da cidadã Ibrahina, depois de a mesma ter sido agredida pelo réu por ter se recusado a beijá-lo. Recorde-se que o filho de Nandó foi condenado à pena de prisão correccional de 270 dias, mas a mesma ficou convertida numa multa de 30 mil dólares.

*PS
Fonte: AGORA