Assim como assim – como dizia o pequenote da minha querida amiga Mizé VD – impossível se torna não transpolar algumas das belas lições das recentes eleições americanas para a nossa política doméstica, até porque estamos também a preparer eleições presidenciais. E aqui fica de esquebra um recado para os auto-proclamados “secretas”: Párem de enviar recados através de parentes e amigos sobre “falar de política”. Esse papel, não apenas é absolutamente ridículo, como apenas mostra que de Inteligência e Segurança de Estado entendem tão pouco que mal está o País com isso. O vosso papel não é “dissuadir” opiniões divergentes ou mesmo contrárias ao partido no poder; é sim proteger as três componentes do Estado – Território, Povo e Instituições – das várias ameaças internas e externas. Ora, proteger a democracia expressa na diversidade de opiniões – um Direito Cosntitucional – é que deve ser parte do vosso papel, e não o inverso. Mas não é disso que desejo falar neste texto.

Voltando às nossas domésticas presidenciais, o analista emprestado à política Justino Pinto de Andrade veio com uma ideia interessantíssima: que face ao aparente favoritismo factual e institucional do actual Presidente da República devia-se “deixa-lo concorrer sózinho, a não ser que ele reunisse as forçes políticas do País para discutir um figurino mais equidistante para todos os candidatos”, cito mais palavra menos palavra. Interessante esta proposta porque, valendo-se nela ou não, o Presidente da UNITA e a do PLD, Isaías Samakuva e Anália de Victória Pereira respectivamente já recuaram no seu entusiasmo inicial – e um pouco ingénuo, diga-se – de concorrer às eleições “assim como assim”.

Esta proposta revela-se dona de uma astúcia política que fazia uma imensa falta no nosso panorama domestico, dando razão àqueles que acredita(va)m que o ingresso deste e outros intelectuais à política activa constitui uma mais valia para o País. Caso a Oposição consiga concertar-se nisso – o que é outra estória – forçaria JES a ouvir e levar em conta o que pensam os outros partidos, uma vez que um boicote desta natureza poria em risco o fecho com chave de ouro tão cara ao PR: a victória nas eleições e a retirada da vida pública em grande, competindo com Agostinho Neto a áurea de Pai da Nação.

Isto pode também ser a tábua de salvação ideal para Samakuva, caso tenha inteligência para usá-la. Os (tu)barões da UNITA apenas esperam vê-lo humilhado outra vez nas presidenciais para fechar o seu ciclo e iniciar outro com outra liderança nas autárquicas. Ora um finca-pé nesse sentido, sobretudo se tivesse o apoio de João Kambwoela, Vicente Pinto de Andrade e Lizete Araújo – os candidatos mais mediáticos – salva-lo-ia da inevitável derrota e adiaria a sua queda da presidência da UNITA. Em certa medida, o mesmo se daria com os candidates citados. Mas há um perigo nisso tudo: que mesmo que JES contemporizasse e dialogasse com eles, cometessem o mesmo erro que nas discusses para a Constituição: Façam do finca-pé o fim e não o meio, e o MPLA decidisse avançar com candidates-fantoches, o que alias é sempre uma possibilidade a ter em conta. Isso por um lado fragilizaria o candidate vitorioso – JES, não haja dúvidas – na arena internacional, mas irritaria o eleitorado interno que, mais uma vez, votaria em massa em JES “só para aprenderem” à boa maneira mwangolé. Ora, os angolanos já se vão habituando a mandaar bugiar a dita comunidade internacional, e é bom que assim seja. Muitas vezes os nossos politicos esquecem-se que quem os elege são os angolanos e não os dittos. Resumindo, ficariam mais uma vez os candidates a lamenter a escolha do povo, em contradição com os valores democráticos que dizem defender.

O ideal para o País seria que os candidates começassem a dialogar entre si. Que definam claramente a sua agenda e objectives e encontrem formas de discuti-la com o actual PR. Que se concentrem no processo e não em quem afinal ganhará as eleições e vejam nisso a sua contribuição para um legado de democracia para as gerações vindouras. Por exemplo, uma maior intervenção arbitral do poder judicial, mecanismos que garantam isenção dos órgãos de comunicação social – incluindo as redes de telefones celulares –  um apoio efectivo das deslocações às Províncias, a despartidarização pelo menos institucional do funcionalismo public, o reforço e despartidarização das autoridades tradicionais e, claro a dotação atempada das verbas e o control rigoroso do uso dos fundos do Estado para favorecer a campanha do incumbente, poderiam ser aspectos que, se bem equacionados garatiriam eleições mais equilibradas. A diferença estaria assim e apenas na inteligência e argúcia política de cada candidato.

E assim ganharia o País com um processo à prova de bala – ou de fala, se preferirem – e em que, o ganhador, (para mim JES) ficaria com o consolo de ter ganho sem cartas viciadas; e os perdedores saberiam que iniciaram um novo ciclo para o País e legaram um processo forte para as gerações vindouras. Teriamos uns McCains que no fim seriam louvados por terem credibilizado o processo.

Alguém perguntar-me-á: Porque insisto que JES ganhará? Resposta simples: Porque não creio que os angolanos, eu incluido, estejamos preparados para serem governados nos próximos cinco anos por alguém outro que não ele. Mas também não acredito que as elites deste País estejam dispostas a passar-lhe un cheque em branco. E assim vai a nossa política com as suas contradições e lógicas inquinadas... que o Dr. Justino parece estar pouco a pouco a masterizar também. Como Luther King, Malcon X, Jesse Jackson e agora Barack Obama, o essecial é continuar a sonhar, e acreditar que podemos protagonizar a Mudança Positiva como homens livres...

Fonte: SA