Para os liberais ou neo-liberais  o Estado é tido como um desses  concorrentes ineptos e incompetentes na hora de oferecer serviços e alguns produtos. É claro que não estou aqui exercitando os meus nervos para defender aqueles; deixo bem claro que não pertenço a aquela turma. Mas é preciso reconhecer que qualquer sociedade precisa  de serviços e produtos  eficientes, já que é isto que torna   a  mesma respeitável e admirada, dentro e fora de suas fronteiras.

Somos de opinião que produtos e serviços  de boa qualidade podem vir  tanto da iniciativa privada como do setor público. O que precisamos, sim, saber  é definir  nossas pretensões sociais; definir a política do Estado e a sociedade que desejamos construir. É nesse esquema que estará definido o que é melhor ou pior para uma sociedade: seus valores, produtos, serviços  e em geral  bem estar social a ser adquirido por todos os cidadãos . De que Angola precisa   de  n canais de  televisão, rádios  onde o cidadão tenha a  possibilidade  e o direto  de  diversificar a informação que lhe será necessária, isso é indiscutível.

Por isso, é inconcebível, no regime em que vivemos, e  assim escolhido, coibir o surgimento, o aparecimento, o nascer e o empreendedorismo de uma  TV  Zimbo,  porque temos medo da concorrência  que a TPA( Televisão Pública de Angola) poderá sofrer. A regra diz: quem tem medo da concorrência deve se enquadrar dentro dos parâmetros daquilo que o consumidor exige, ou então ir mais além, se for possível, das exigências dos  consumidores. O que não pode  e nem deve existir é o  sacrifício de preferências e  de gostos, ou, até, que alguém nos torne primitivos  e poucos exigentes nas  nossas preferências como seres humanos que somos; e que vivemos numa época e mundo moderno, onde as coisas cambiam e fluem à alta velocidade, e nesse contexto ninguém pode servir de impedimento  desse processo de evolução. Não podemos, nessa época, absorver, simplesmente, aquilo que o poder público acha que pode nos oferecer.

A coisa está bem definida, vivemos numa economia de mercado, onde a concorrência é o sacrossanto  pedal da qualidade e do bom desempenho das empresas. De se sair em casa, ir a um supermercado e comprarmos um produto de alta qualidade; ou ainda, para não sairmos fora do tema, sentarmos no sofá a qualquer hora  do dia, ligarmos o nosso televisor  e assistirmos um programa que nos agrade.

Assim, a choradeira da Deputada e empresária Tchizé dos Santos,  de que os  trabalhadores da TPA estão sendo cobiçados pelos executivos da TV Zimbo não vale. Além disso, como boa empresária, já que pelo visto parece que sempre teve êxito nos negócios, não devia temer a concorrência que a TPA empresa pública deverá enfrentar daqui em diante. A concorrência é necessária. Primeiro, porque aumenta os salários, muitas às vezes miseráveis, de quem trabalha nesta área: jornalista, técnicos e engenheiros. Segundo, aumenta a qualidade dos programas  e a diversificação dos  mesmos que  os angolanos poderão  ter direito de ver  num regime e sociedade democrática. Terceiro, o Estado como regulador da concorrência ( quanto mais houver concorrência melhor) não pode e nem deve coibir esse tipo de concorrência, nem por lei e nem por motivos econômico. É preciso posicionar bem a função do Estado  perante esse tipo de situação.

Devemos reconhecer que a TPA em Angola ao longo dos 30 anos jogou, e até hoje joga, um papel   importante. Mas pelo bom senso, podemos arriscar aqui, que entre esses papeis não consta, por exemplo, coibir o aparecimento de outros canais de TV. Ao contrário, a TPA deveria, sim, servir como uma grande colaboradora e incentivadora desses projetos  que podem surgir na iniciativa privada. A TPA deve, tem direito e até obrigação pública de  estimular o aparecimento   de  projetos   que podem aparecer nessa área, seguindo regras claras do princípio público ( da Administração Pública) da isonomia, ou seja, tratar todo mundo por igual.

A TPA, em épocas de economia de mercado, não pode se esquecer que seu papel mudou ( ou simplesmente evoluiu). Se antes era simplesmente a de  se levar a informação aos Angolanos através dos meios que tinha, e foi a pioneira na sua área, hoje pode ir além, facilitando o surgimento de outras parceiras, mesmo que para isso tenha que sacrificar uma fração dos seus melhores quadros. É aqui onde entra, finalmente, a verdadeira função do setor público,  já está talvez na hora, de termos uma Escola  Nacional  de Rádio, Jornalismo e Televisão para suprir as necessidades do mercado. Já está na hora de estendermos  esse famigerado direito que qualquer jovem do nosso país  tem de sonhar a vir a ser um bom jornalista, locutor de rádio, de TV e etc; é preciso transformar isso numa oportunidade de massas; em que os filhos dos pobres, dos operários  e dos camponeses tenham iguais oportunidades; e de preferências com bolsas de estudo grátis. Chegou mesmo à hora de dês - elitizar  certas profissões, principalmente,  aquelas que exigem Know-How e a intriguista e não convincente dádiva de algumas pessoas. E até estender o direito a que esses mesmos jovens tenham de ter como instrumento de cobiça o tão propalado Know-How.

Assim, nossa Deputada, e aí vai a sugerência, como pessoa muito próxima do poder, que tal incluirmos no Orçamento Geral do Estado umas verbas para construirmos a nossa grande e primeira Escola  de Comunicação e Arte( ou simplesmente: Escola  Nacional de Rádio Jornalismo e Televisão). Do jeito que os Angolanos gostam  ao sonho Angolano. Assim  não teríamos que nos preocupar com o fato de que um tal Bartolomeu, o melhor locutor da Televisão Angolana, assim dizem,  fosse comprado por uma TV Zimbo que mal sabe levantar as calças para caminhar.

Senhora  Deputada a idéia, e das boas, é diversificarmos as oportunidades que nossos jovens terão ( e poderão ter) no futuro. Dizem por aí que você foi nomeada em nome destes, que tal lutar por eles nesse sentido. Evitar que milhares deles, ou até milhões, um dia se frustrem, provocando assim a inveja, a cobiça  e a delinqüência. Nisso estou de acordo com aqueles que estão em posição melhor: somos uma sociedade de pessoas invejosas, olho gordo, enfim, tudo de maldade que se tem  dito por aí contra os pobres ( e entre os pobres). Mas  para diminuirmos isso precisamos ser obcecados  com o fato de darmos  oportunidades  a todas as crianças, jovens, etc, etc.


Nelo de Carvalho, Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.,
Fonte:
WWW.a-patria.net