Maputo – O comandante do avião moçambicano que caiu na Namíbia em novembro, quando fazia a ligação Maputo-Luanda, teve a "clara intenção" de despenhar o aparelho, concluiu a comissão de investigação ao voo TM470 da LAM, no qual morreram 33 pessoas, entre as quais nove angolanos.

Fonte: Expresso
Em conferência de imprensa, sábado em Maputo, o presidente do Conselho de Administração do Instituto de Aviação Civil de Moçambique (IACM), João Abreu, revelou que foi a audição das gravações do cockpit que indicam a ação do comandante e o facto de se ouvirem diversos sinais de alerta dos sistemas sem resposta.

O piloto do LAM, segundo o gravador do cockpit, encontrava-se sozinho na cabina. Ouve-se bater à porta, mas Hermínio dos Santos Fernandes não responde. E terá, então, efetuado uma série de manobras ainda por explicar, mas que se revelaram na perda de potência dos motores e numa descida do aparelho a seis mil pés por minuto.

"Ouvem-se também, insistentes batidas na porta do cockpit, batidas essas que também foram ignoradas pelo comandante", afirmou  João Abreu, citado pelo jornal moçambicano "A Verdade".

As caixas negras revelaram ainda que a altitude foi alterada manualmente três vezes, de 38 mil pés para 592 pés, e a velocidade também. Apesar destas conclusões, a comissão adianta que "a razão para todas estas ações é desconhecida" e que a investigação ainda não se encontra finalizada.

O piloto do Embraer tinha 9053 horas de voo, 1395 das quais como comandante de aviões, segundo divulgou na altura a LAM, adiantando que Santos Fernandes revalidara a sua licença a 12 de abril do ano passado e fora dado como apto numa inspeção médica no dia 2 do passado mês de setembro.

As suspeitas de uma possível intenção de suicidio por parte do piloto, tendo em conta os dados apurados até agora, fazem lembrar acidentes ocorridos nos anos 1990, com aviões das companhias de Marrocos e de Singapura.

Em 1994, o piloto Younes Khayati, de 32 anos, fez deliberadamente cair o avião da Royal Air Maroc, o voo 630, que descolara dez minutos antes de Agadir com destino a Casablanca. Morreram 44 pessoas.

As conclusões sobre o acidente do boeing que se despenhou em 1997, quando voava de Jakarta, na Indonésia, para Singapura, provocando a morte a 104 pessoas, não foram tão taxativas, mas ficou sempre a dúvida quanto aos atos do piloto Tsu Way Ming, de 41 anos.

O caso do Embraer da LAM é o segundo acidente mais grave da história da aviação civil de Moçambique. O primeiro registou-se em 1986, na África do Sul, quando morreram 34 pessoas, entre elas o Presidente Samora Machel.

RESPONSÁVEIS DA LAM "CHOCADOS" COM TESE DE SUICÍDIO DO PILOTO

A tese de suicídio do comandante do voo TM-470, cuja queda provocou 33 mortes, deixou "chocados" os responsáveis da companhia Linhas Aéreas de Moçambique (LAM).  Isso mesmo fica expresso num comunicado da LAM, onde a companhia "manifesta a sua profunda preocupação e choque" quanto ao conteúdo da declaração divulgada pelas autoridades de investigação em relação ao inquérito em curso, alusivo à perda do voo TM-470, ocorrida a 29 de novembro.

"As LAM vão solicitar o relatório detalhado que evidencia e prova os factos conducentes e as conclusões preliminares da referida declaração e continuará a cooperar inteiramente com as autoridades de investigação", lê-se no mesmo comunicado.

A companhia não se pronunciou, no entanto, sobre a questão das indemnizações às vítimas do desastre, que, dada a tese de suicídio, poderão não ser ressarcidas pelas seguradoras da empresa.

No sábado, o presidente do conselho de administração do Instituto de Aviação Civil de Moçambique, João Abreu, revelou que o comandante do voo TM-470, Hermínio dos Santos Fernandes, teve "a clara intenção" de fazer despenhar o aparelho Embraer 190.

Além dos sons dos diversos alarmes acionados automaticamente pelo avião, o responsável disse que se "ouvem insistentes batidas na porta da cabine, batidas essas" que terão "sido ignoradas" por Hermínio Fernandes.

As caixas negras terão também revelado que a altitude do voo foi alterada manualmente três vezes, de 38 mil pés (cerca de 11.500 metros) para 592 pés (cerca de 180 metros), antes do embate do aparelho com o solo.