É este o “back drop” de uma próxima viagem a Luanda de Jacob Zuma, líder do ANC e futuro presidente sul-africano, o qual tem bom entendimento pessoal com José Eduardo dos Santos (JES). J Zuma é um crítico assumido de Robert Mugabe e das suas políticas – uma atitude que o diferenciou do anterior PR, Thabo Mbeki.

A visão das autoridades sul-africanas é a de que as iniciativas que agora parecem dispostas a lançar tendo em vista resolver o problema do Zimbabué, poderão ser mais incisivas se contarem com o apoio, compreensão ou mesmo com diligências paralelas de Angola, devido às influências que tem sobre R Mugabe, como seu último apoiante.
A impaciência da África do Sul acentuou-se especialmente devido à recente  recusa do Governo zimbabueano em permitir que a chamada comissão de anciãos, constituída por Graça Machel, Kofi Annan e Jimmy Carter visitasse o país para efectuar um levantamento da situação humanitária.


2 . O Governo sul-africano, baseado em actualizados intelligence estimates, admite agora que o Zimbabué está sob ameaça de uma catástrofe humanitária cujas repercussões poderão embaraçar a própria África do Sul devido às suas “políticas contemporizadoras” com R Mugabe.

Sumário da actual situação no Zimbabué:
- Os principais hospitais estão praticamente encerrados, de momento exceptua-se o de Bulawayo; o sistema saúde entrou em colapso por falta de meios rudimentares para prestar cuidados aos pacientes.
- A maioria das repartições públicas encontram-se paralisadas; anormal morosidade na efectuação de operações de levantamento de dinheiro; falta de dinheiro na população custear despesas correntes, como aquisição de víveres ou transportes públicos.
- Escassez de água nas redes de distribuição; a que chega aos consumidores não é tratada; em Harare foi interrompido o fornecimento como medida destinada a conter um surto de cólera entre cujas causas figura a má qualidade da água.
- Os bancos não dispõem de moeda (cash) para entregar aos seus depositantes; idem para pagar os salários dos dos funcionários públicos, incluindo os militares.
- Os vendedores e público em geral deixaram de efectuar depósitos bancários, retendo o dinheiro para as possíveis  transacções com emprego de numerário.
- Em média, o sistema de ensino em 2008, apenas funcionou durante um mês; professores e alunos abandonaram as escolas, em ambos os casos para procurar meios alternativos de sobrevivência.
 O mais nítido sinal de derrocada do regime ocorreu em 01.Dez, quando militares fardados se juntaram a civis que se manifestavam em público contra a impossibilidade prática de levantamento de dinheiro nos bancos. Desde então, as ruas da capital têm estado a ser continuamente patrulhadas por unidades mistas da policia e exército.


3 . A deslocação de J Zuma a Luanda destina-se a concertar com JES uma solução para a crise no Zimbabué, agora agravada por cenários de descalabro iminente. O ponto de vista de J Zuma é o de que   T Mbeki e Tomás Salomão, Secretário Executivo da SADC, lidaram com o problema do Zimbabué movidos pelo intento de “proteger” R Mugabe.

O grupo que aconselha J Zuma, considera mesmo  que a solução do governo de unidade nacional se encontra ultrapassada. Morgan Tsvangirai terá mesmo sido aconselhado a não permitir que o Parlamento aprove uma emenda á Constituição destinada a permitir que R Mugabe possa nomear o governo de unidade nacional.

Um factor adicional também tomado em consideração na nova atitude da África do Sul face a R Mugabe e ao seu regime,  é o das ameaças que o Zimbabué tem vindo a fazer ao Botsuana, cujo Governo é acusado de estar a dar treino militar a indivíduos do MDC. O Botsuana e a Tanzânia têm-se evidenciado como críticos de R Mugabe.

Há seis semanas tiveram lugar em Maputo consultas multilaterais sobre o assunto. Participaram nas mesmas os ministros da Defesa de Moçambique, Botsuana e Zimbabué. T Salomão, também presente, foi então acusado pelo governante do Botsuana de parcialidade face ao regime zimbabueano.

T Salomão foi apontado como estando à altura de refutar as acusações do Zimbabué, até por ter residência habitual em Gaberones, capital do Botsuana, mas não o ter feito – permitindo assim que o ministro da Defesa zimbabueano, Sidney Sekeremai, seu amigo pessoal, usasse argumentos para as suas ameaças.

Há o receio de que o regime de R Mugabe, agindo sob influência do estado de desorientação em que se encontra e/ou em desespero de causa, possa lançar uma acção militar contra o Botsuana. Fontes militares sul-africanas não excluem tal hipótese tendo em conta a capacidade táctica que o exército zimbabueano ainda conserva.

A ameaça do Zimbabué, mesmo no caso de uma acção fulminante, só não é especialmente considerada devido a graves problemas logísticos do seu exército e actual coesão interna nas fileiras. Há falta de combustíveis nos quartéis e os comandantes têm ordens para controlar o número de dispensas a soldados e oficiais.

Fonte: Africa Monitor