Lisboa – Angola poderá sofrer uma quebra do PIB superior a 1% devido ao previsível aumento da produção de gás de xisto pela China, revela um estudo publicado na quinta-feira, 08, por uma organização britânica.

Fonte: Lusa
A estimativa do Overseas Development Institute (ODI) é de que o aumento da produção de gás de xisto pela China possa levar a uma redução de 30 a 40% nas importações chinesas de combustíveis até 2020, a exemplo do que aconteceu na última década com as importações norte-americanas.

Com efeito, o relatório estima que as importações norte-americanas de petróleo e gás em 2013 tenham sido 50% inferiores ao que seriam se os EUA não tivessem aumentado a sua produção de combustível de xisto em quatro milhões de barris por dia entre 2007 e 2012, como aconteceu.

Entre os países exportadores mais afectados estarão Angola, a Nigéria e a República do Congo, conclui o relatório do ODI, uma organização independente que se debruça sobre questões humanitárias e de desenvolvimento. O relatório estima que o total de perdas nas exportações de petróleo africano para os EUA ascenda a 32 mil milhões de dólares.

O Departamento de Energia dos EUA estima que as exportações de petróleo para aquele país provenientes de Angola, Argélia e Nigéria terão caído 41% entre 2011 e 2012, em grande parte devido ao combustível de xisto. A esta quebra deverá juntar-se nos próximos anos a redução das importações chinesas, antecipa o ODI.

Embora actualmente a China produza muito pouco gás de xisto, estima-se que a produção atinja entre 60 e 100 mil milhões de metros cúbicos até 2020. Como a estimativa era de que a China importasse 250 mil milhões de metros cúbicos de gás em 2020, os autores deduzem que as importações chinesas seriam nesse ano 30 a 40% superiores se o país não produzisse gás de xisto.

A China planeia dedicar recursos consideráveis à produção de combustível de xisto, pelo que os países já afectados pela produção norte-americana deverão sofrer também com a produção chinesa.

Angola e o Congo, exemplifica o relatório, poderão sofrer uma "quebra consideravelmente superior a 1% no PIB" se a produção na China tiver um efeito semelhante nas suas exportações àquele que se estima ter sido o da produção norte-americana. O relatório recorda ainda que a dependência angolana das receitas do petróleo deixa o país altamente exposto a choques externos.

As exportações de petróleo representam 46% do PIB angolano e 96% das suas exportações, além de que 80% das suas receitas públicas vêm do sector petrolífero, lembram os autores. Países como o Iémen, Moçambique, a Guiné Equatorial, o Gana, Trindade e Tobago e a Mauritânia podem também sofrer com o aumento da produção chinesa.

O gás de xisto é gás natural que se encontra preso em formações rochosas de xisto e é diferente do gás convencional porque não flui facilmente para a superfície.

É recuperado através da fracturação hidráulica, que consiste em criar fissuras nas rochas ricas em hidrocarbonetos através da injecção, a alta pressão, de uma mistura de água com areia e produtos químicos, sendo criticada pelos riscos de poluição e actividade sísmica.

Os EUA e a China são considerados, respectivamente, o primeiro e o segundo países do mundo com mais reservas de gás de xisto recuperável.