O Botsuana apoia ostensivamente o MDC, de Morgan Tsvangirai, o qual vive há mais de um mês em Gaberone, capital do país – seguindo conselhos segundo os quais se deveria ausentar do Zimbabué devido a sinais considerados plausíveis de ameaças à sua integridade física ou de limitação de direitos cívicos.

A par do apoio a M Tsvangirai o Governo do Botsuana mantém igualmente uma atitude crítica em relação ao regime Zimbabué e à sua política – o que, conforme relatos habilitados exaspera Robert Mugabe. Apenas outros dois países da área, Tanzânia e Zâmbia, têm uma postura crítica, embora comedida, em relação ao regime do Zimbabué.

A crise no Zimbabué tem gerado, especialmente nos últimos três anos, movimentos maciços de refúgio da sua população nos países vizinhos. A África do Sul é o principal destino de tais vagas, mas logo a seguir figura o Botsuana, onde se encontram agora cerca de 800.000 refugiados, não confinados a campos próprios.

A presença de uma comunidade tão numerosa de refugiados, em geral hostis ao regime da ZANU e a R Mugabe e identificados com o MDC, é o factor que dá azo às suspeitas de R Mugabe relativamente a “facilidades de treino militar” de que os seus adversários dispõem no Botsuana.

2. A crise entre os dois países atingiu as actuais proporções também por efeito do papel do secretário executivo da SADC, Tomás Salomão, geralmente apontado como tendo simpatias pelo regime do Zimbabué. T Salomão faz-se eco das acusações do Zimbabué no que toca ao treino militar no Botsuana de adversários do regime da ZANU.

No seguimento de reacções das autoridades botsuanesas, que descrevem tais acusações como gratuitas, T Salomão fez chegar ao ministro da Defesa do Botsuana, em 12.Dez, alegadas provas documentais sobre o assunto. Ao mesmo tempo convocava para 15.Dez, em Harare, uma reunião destinada a discutir o tema.

O Governo botsuanês, invocando escassez de tempo para analisar a referida documentação, fez-se representar na reunião pelo seu embaixador em Harare, o qual fez notar a T Salomão e ao ministro zimbabueano da Defesa, Sidney Sekeremai que a sua presença se devia apenas a inteirar-se das razões da reunião.

Em geral a documentação compreende pretensos testemunhos de zimbabueanos que terão estado refugiados no Botsuana, mas que entretanto terão regressado ao seu país e foram detidos. Principais tópicos das acusações que lhes são atribuídas:
- Existe um campo de treino militar destinado a apoiantes do MDC em Livingston.
- Alguns quadros do MDC que este partido apresenta como tendo sido raptados pelo regime de R Mugabe, encontram-se também no campo.

Uma comissão militar e de segurança da África do Sul já se deslocou a locais indicados como localização de campos de treino militar no Botsuana. A afirmação pública de Kgalema Mothlante, segundo a qual não existem provas da acusação zimbabueana, baseou-se no relatório da missão.

A linha seguida por T Salomão, antigo MNE de Moçambique, anuviou o seu relacionamento com o PR do Botsuana, Ian Khama, o qual apresentou queixa do mesmo ao novo Presidente da África do Sul, que exerce igualmente o cargo de presidente da SADC.

Fonte: AM