Luanda - A decisão de abandonar é irreversível, porque o capitão revelou que perdeu  "a motivação" para jogar ao mais alto nível, assim, nem uma eventual  melhor oferta do mundo lhe vai fazer mudar de opinião. "Os que me são mais próximos, há muito que sabiam desta firme decisão, mas  achei ter chegado a hora de também a tornar pública, porque este ano vai mesmo ser o último da minha carreira", assegurou.

Fonte: JD
Kali.jpg - 29.19 KB"O problema é que agora, não sinto mais nenhum tipo de motivação para jogar futebol de alta competição, sinto que não sou mais capaz de cumprir com as grandes exigências que a alta competição requer", argumentou.

Ao longo de 17 temporadas consecutivas, a estreia nos seniores aconteceu ao serviço do Barreirense, na época 1998/1999. O central Kaly aceitou, com abnegação, abrir mão de muitas coisas para conseguir fazer carreira futebolística, mas sente que é hora de obedecer aos sinais que o corpo está a emitir.

“Para ser um bom profissional é preciso fazer muitos sacrifícios, é preciso espírito de sacrifício muito grande para conseguir sucesso em alta competição, o meu corpo diz-me para parar agora”, sublinhou.

O contrato do experiente central com o 1º de Agosto termina na presente época, o atleta afirma ter sido sondado várias vezes para renovar, mas prefere sair a ter de tapar um outro jogador mais interessado em suar a camisola rubro-negra.

"A vontade de jogar ainda existe em mim, estava  a mentir se dissesse o contrário, mas a verdade é que me falta alguma coisa, talvez a mais importante de todas, então é melhor sair e é exactamente isso, que vou fazer mal termine o Girabola, é hora de deixar o lugar para os mais novos”, reafirmou.

O experiente defesa central assegurou que quando estava na idade viril, tinha muitos sonhos, mas agora que se tornou um veterano, deixou de correr atrás de irrealidades, este o único motivo por que vai dizer adeus ao futebol.

"No sábado vou fazer 36 anos de idade, então não sou mais novo para pensar em muitas coisas, ou melhor, tenho de começar a pensar em fazer outras coisas, quero fazer tudo menos continuar a jogar futebol de alta competição", garantiu Carlos Manuel Gonçalves Alonso.

A chegada de Kuagica retirou protagonismo a Kaly mas ele repetiu várias vezes que ia pendurar as chuteiras mesmo que mantivesse a titularidade no 1º de Agosto. "As coisas até podiam estar a correr bem para mim, do ponto de vista pessoal, mas saía mesmo no final da época", afirmou de maneira lacónica.   

DEPOIS DOS CAMPO  

A carreira de Kaly no 1º de Agosto pode ganhar um novo capítulo, se a direcção o convidar a ficar para exercer outras funções. Quais, ele não especificou, mas garantiu que tenciona transmitir a experiência à próxima geração do clube militar. “Realmente, era uma honra se me  dêssem uma oportunidade de permanecer para fazer algo de que gosto”, esclareceu.

O atleta é um dos sócios da clínica de fisioterapia Bom Senso, mas o seu desejo é tentar ajudar o futebol militar a recuperar a mística de décadas anteriores. “Eu vivi grande parte da minha vida em Portugal, mas sempre fui do 1º de Agosto, sou adepto da equipa e gostava de ficar, mas apenas só se for numa área ligada ao futebol”, afirmou.

A vontade de abraçar a carreira de treinador ou de dirigente estão presentes na mente de Kaly, ele está a meditar em qual delas vai optar, mas só se sentir também esta vontade da parte do clube, "eu estou em reflexão à espera de ver o que vai acontecer, mas como a minha vida sempre esteve ligada ao futebol, eu queria continuar a servir o futebol", esclareceu.

O capitão Kaly ainda não se sentou com a direcção do 1º de Agosto para definir questões relacionadas com o seu futuro, mas garantiu que a conversa final pode ajudar a esclarecer se depois de encerrar a carreira continuar a fazer parte dos quadros do clube.

“Ainda não tivemos a oportunidade de falar sobre esta questão, é verdade que deixei ler algumas coisas nas estrelinhas, mas nada ainda é definitivo”, afirmou.

Prestes a completar 36 anos de idade, o consagrado atleta vai encerrar a carreira sem nunca ter conquistado um título nacional em Portugal, Suíça, França e em Angola, países em que jogou. Mas no seu currículo consta a conquista de uma Supertaça com o 1º de Agosto referente a época 2010, além de presenças nas fases finais do CAN 2006, 2008, 2010 e 2012. Em 2011 foi vice-campeão africano do CHAN e em 2006 foi titular no inédito mundial que Angola disputou na Alemanha.

FRACO DESEMPENHO

A temporada 2014, apressa-se  para o seu  final, mas Kaly não precisa de esperar até à derradeira jornada para classificar o fraco o desempenho militar na Champions, Girabola e Taça de Angola. “Quando não se atinge a fase de grupos da Champions, não se está na corrida ao título do campeonato nem na final da taça, é porque a equipa não cumpriu nenhum dos objectivos traçados, eu não vejo outra maneira de caracterizar o que se está a passar neste momento”, argumentou.

O 1º de Agosto “não ganha nada, há muito tempo” mas  reforçou-se  bem para estar mais bem competitivo esta temporada. "A maneira como terminamos a época passada, abriu boas perspectivas para este ano, todos nós estávamos à espera de que com a entrada de novas caras, tudo ia se inverter, mas como partimos mal no início da época, tudo se complicou", lamentou.

A maneira como os militares mudaram de atitude competitiva depois da troca de Drulovic por Dragan Jovic,  deu azo à conjecturas, mas Kaly saiu em defesa do plantel para garantir que o querer e o poder sempre estiveram presentes, antes das mudanças no comando técnico.

DESAFIOS

Kaly disse durante a entrevista, "sempre houve vontade de fazer uma boa série de jornadas consecutivas a ganhar, como aconteceu depois da saída do Drulovic, sempre tivemos motivação para fazer boas coisas e ir o mais longe possível, a qualidade sempre existiu, mas as coisas, infelizmente não aconteceram".

Os adeptos do 1º de Agosto nunca foram em auxílio da equipa, nos momentos de maior aperto, mas o capitão dá um desconto aos que aparentavam ir ao campo, apenas para apupar a equipa.  "Nós temos uma grande massa adepta, mas a maneira como ela se comportava nos jogos em Luanda não era a mais correcta, eles sofrem muito com as derrotas, mas não é com assobios, muitos deles até antes mesmo de o jogo começar, que as coisas podiam mudar", argumentou.

Muitos atletas chegaram ao plantel rubro-negro este ano, os mais antigos como Kaly fizeram questão de situá-los, para que não se sentissem desmoralizados com a permanente cobrança vinda das bancadas. A contestação realmente existiu, mas o capitão garantiu que os atletas nunca se deixar afectar.

“Quem está nesta profissão tem de estar preparado para tudo, então não podemos culpar os adeptos por nada, os maus resultados não aconteceram por culpa deles, porque todos nós sabemos o que significa representar um clube com a grandeza do 1º de Agosto”, concluiu Kaly.