Luanda - Rui Gomes, comentador desportivo, não tem dúvidas em apontar culpados pela ‘derrocada’ da selecção: a Federação de Futebol (FAF) pela “desorganização e por pensarem que a federação era uma lavra”.

Fonte: NJ
Rui Gomes.jpg - 58.21 KBO que esteve na base da eliminação da selecção?
Estávamos a formar uma selecção jovem, sem experiência, de atletas que tinham de se conhecer melhor. Não fomos honestos e correctos para passar essa mensagem. Por isso, quando esticamos a fasquia como se diz na gíria, os resultados são estes. A falta de honestidade, de abertura e sermos mais honestos para connosco mesmo, foram factores extremamente importantes. Temos de ter a humildade para analisar friamente e dizer que é justa a não participação ao CAN.

De quem é a culpa?
A culpa é de todos os membros da FAF e do presidente da federação. Cometeram-se muitos erros. Não é lógico, nem sensato que coisas como jogadores mal inscritos aconteçam no século 21. O que aconteceu foi um insulto a todos os amantes do desporto, sobretudo do futebol.

Deveriam demitir-se?
Não há dúvidas. Não são apenas esses erros que vieram à superfície. No Girabola aconteceram casos que admiramos. A FAF deve demitir-se em bloco, para o bem do futebol.

Quem tem capacidade para os substituir?
A questão não é a capacidade. Esses indivíduos têm capacidade, mas deram a entender que são vaidosos, não ouviram e deixaram a FAF à mercê de pessoas com menos responsabilidade. Não só por não terem conhecimentos, mas também a fraca responsabilidade. Não posso admitir que um responsável da federação esteja a tomar banho de sol no Algarve e a querer gerir o seu departamento com telefonemas para Luanda. Isso é inadmissível. E mais inadmissível ainda é que um técnico estrangeiro venha dar ordens que os jogadores fulanos e beltranos não podem jogar. Isso demonstra desorganização e desconhecimento. Não tenho receio de dizer que a FAF deve agarrar nos computadores e tudo de bom que lhes pertence e meter num saco como se diz na gíria “agarrar as embambas” e levá-los.

O problema da selecção foi organizativo e não competitivo?
Competitivo também teve algumas situações, mas o organizativo sobrepôs-se.

Não admite mudanças com a direcção actual?
Não há hipótese. São muitos erros e de palmatória. São erros de infantilismo, desconhecimento total, desrespeito para com os agentes do futebol, particularmente para com os do desporto.

Há quem defenda que temos de fechar as portas. É a solução?
Não. Temos compromissos com a CAF, pagamos quotas e todos esses valores não são altos e se sairmos da competição, estamos isentos também a qualquer competição africana ou até da FIFA. Não temos paciência, queremos imediatismo e não vamos longe com o imediatismo.

De que forma?
Já fui dado como antinacionalista porque tinha de falar bem da selecção. Não tenho outra selecção, mas tenho de ser realista. A política intervém muito no desporto. Quem coordena o país e quem tem o direito de exercer ou orientar esses aspectos políticos é o Ministério da Juventude e Desporto. Mas infelizmente, algumas vezes, as pessoas são escolhidas por questões políticas e quando chegam a alguns cargos têm dificuldade mesmo que tenham outras capacidades desportivas e de organização mas pensam sempre o aspecto político.

É o que se passa na FAF?
Poderá ser. Na selecção devemos ter a consciência de que é necessária a pressão política porque estamos a defender o país. Precisamos da pressão política porque sabemos que não há hipótese de a FAF continuar. Não há saúde, ninguém acredita mais. O presidente da FAF é uma pessoa excepcional, não é incompetente, nenhum deles é incompetente, mas deixaram o barco em mãos alheias.

O Ministro da Juventude e Desporto quer repensar no desporto. Como fazer isso?
Isso de repensar cai sempre por saco roto. Não vale a pena. Temos projectos muito bonitos e objectivos, o problema é tirar do papel para a prática. É preciso repensar no futebol, mas já tivemos aqui não é o primeiro encontro nacional de desporto, houve colaborações e comissões, mas não se fez nada. Podemos fazer 50 encontros, mas é perder tempo.

Oliveira Gonçalves pode ser a solução?
Não. Nem aconselho o Oliveira Gonçalves a voltar à selecção, porque não é treinador. No Santos Futebol Clube é vice-presidente. Mas ele agora é dirigente desportivo. Reconhece-se que deu a sua contribuição, ninguém apaga a imagem da história do futebol, levou a seleção ao mundial mas não é técnico.

Existe corrupção no futebol angolano?
Se nos países mais evoluídos há corrupção, porque é que aqui não poderá haver corrupção no futebol? Não descarto essa possibilidade.

Vale a pena continuar a apostar na selecção?
Devemos trabalhar bem os sub-17 e 20. É necessário pagar bem a quem trabalha, os treinadores das camadas jovens são mal pagos e não têm preparação suficiente.

PERFIL

Rui da Conceição Gomes nasceu a 21 de Agosto de 1954, no Sumbe, Kwanza-Sul. Começou no futebol aos 12 anos, no Clube Atlético de Luanda. Depois ingressou no Grupo Desportivo da TAAG. Foi campeão de Angola, pelo Petro de Luanda. Esteve na selecção das velhas glórias do futebol de Angola. Praticou básquete no Clube Atlético de Luanda.

Actualmente é comentador desportivo. Tem formação de dirigente desportivo. Foi presidente da Associação Provincial de Futebol de Luanda e vice-presidente do ASA, campeão nacional como vice-presidente para futebol, em 2002, 2003 e 2004.