Guine-Bissau - Nenhum Presidente estrangeiro estava presente quando, por volta do meio-dia, principiaram as cerimónias fúnebres do Chefe de Estado guinense assassinado na semana passada, João Bernardo Vieira.

Nem sequer o Presidente do Senegal, Abdoulaye Wade, cuja presença fora oficialmente anunciada, se encontrava no edifício da Assembleia Nacional Popular (ANP) quando começaram, com um algum atraso, as exéquias de Nino Vieira. Dacar acabou por se fazer representar pelo ministro de Estado responsável pelas Minas, Indústria e Pequenas e Médias Empresas, Ousmane Alioune Ngom.

Com Ngom chegaram ao aeroporto de Bissalanca, que serve Bissau, 12 dos 20 filhos de Nino Vieira que o protocolo guineense dissera que estavam a ser aguardados e que foram o motivo do atraso de mais de uma hora verificado no arranque das cerimónias.

O que se verificou foi uma espécie de "boicote" da generalidade da classe política africana ao funeral do Chefe de Estado, como explicou a agência noticiosa Nova China. Muitos presidentes do continente pareceram dar um indício de que consideram a situação na Guiné-Bissau demasiado instável para aí se deslocarem nesta altura.

A viúva, Isabel Romano Vieira, saída do seu refúgio na embaixada de Angola para ir ao funeral, apenas teve a oportunidade de ver o primeiro-ministro recentemente nomeado para a vizinha República da Guiné (Conacri), Kanibé Komara, e o secretário de Estado português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho. Para além do antigo Presidente Miguel Trovoada, de São Tomé e Príncipe, e de dois antigos presidentes interinos da Guiné-Bissau: Malan Bacai Sanhá e Henrique Rosa.

Enquanto isto, na Cidade da Praia, o jornal "A Semana online" destacava que "Nino Vieira não deixa muitas saudades entre os seus antigos companheiros de armas naturais de Cabo Verde". "Era uma figura sinistra", disse um deles, o comandante Osvaldo Lopes da Silva.

Os antigos camaradas, dizia-se naquele jornal, "não se esquecem que foi ele que, a 14 de Novermbro de 1980, pôs termo ao sonho de Amílcar Cabral de unir os dois países" (a Guiné e Cabo Verde).

"Teve a morte que mereceu", sintetizou Osvaldo Lopes da Silva, que participou na luta pela independência guineense e mais tarde veio a ser um dos principais dirigentes do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), nascido da cisão provocada no PAIGC pelo golpe de estado em que Nino Vieira derrubou o Presidente Luís Cabral, actualmente a viver em Portugal.

Fonte: Publico