Lisboa - As autoridades guineenses apresentaram terça feira (09), ao corpo diplomático, provas consideradas concludentes de que Helder Proença estava, de facto, implicado numa tentativa de golpe de Estado: abatido involuntariamente quando se preparava para assumir o comando da sedição, em cuja preparação participara e julgava iminente.

As referidas provas são no seu grosso constituídas por registos magnéticos (gravações) de conversas directas ou telefónicas consideradas demonstrativas da intenção de desencadear um golpe de Estado; de preparativos práticos feitos com tal fim; do acerto de pormenores tais como individualidades a neutralizar.

Na origem remota do plano apareceram especialmente envolvidos Faustino Imbali e Roberto Cacheu – ambos presos. Só numa fase posterior foi referenciada a alegada implicação de H Proença. Todos tinham em comum afinidades com Nino Vieira e eram geralmente apontados como adversários do actual PM, Carlos Gomes Jr.

H Proença, era o mais carismático e popular, sendo-lhe também reconhecidas ambições políticas, entre as quais a de liderar o PAIGC. As suas conotações com N Vieira só em parte tinham cabimento: procurava afirmar-se por si próprio, o que dava azo a sentimentos de desconfiança do ex-PR.

2 . A decisão das autoridades de exibir provas da tentativa golpista é vista como reflexo da pressão exercida sobre elas pelo clima de dúvidas/reservas que se criou quanto à versão oficial dos acontecimentos. Sobretudo depois de ter começado a circular uma teoria segundo a qual tudo se resumiu a uma “maquinação” do PM e/ou da sua ala interna para eliminar adversários.

C Gomes Jr encontra-se em Lisboa desde 23.Mai, por razões de saúde. A circunstância tem sido explorada com o intuito inferido de dar consistência/coerência a especulações segundo as quais se ausentou do país em obediência a uma táctica de descomprometimento com a “maquinação” e para garantir a sua segurança em caso de emergência.

Entre as gravações de conversas dos implicados que as autoridades pretendem divulgar há passagens em relação a C Gomes Jr tais como as seguintes:
- A convicção de que ele já não regressaria ao país ao ser surpreendido fora (em Lisboa) pelo movimento.
- A sugestão de apresentar publicamente o putsch, quando o mesmo triunfasse, como reacção a manobras do PM e do CEMGFA, CMG Zamora Induta, visando liquidar fisicamente os seus autores.

3 . Com base nas gravações e noutros elementos de prova apontados como convincentes as autoridades fazem a seguinte reconstituição cronológica de etapas cruciais dos preparativos do golpe:

- Faustino Imbali e Roberto Cacheu procuram aproximar-se do Cor António Indjai, adjunto do CEMGFA; por forma a favorecer o intento e a gerar confiança recorrem a amigos próximos e familiares daquele, que cativam com ofertas de dinheiro.
- Num encontro na zona de Quinhamel, Ponta Zé, F Imbali revela a A Indjai, respondendo a perguntas ostensivas do mesmo, que o chefe do golpe é H Proença e que a acção também conta com apoios substanciais nas FA e na classe política.
- F Imbali comunica telefonicamente a H Proença, então a residir no Senegal, que A Indjai aderiu ao movimento; A Indjai, a quem F Imbali faculta o telefone de H Proença, confirma a sua adesão; são acertados pormenores quanto à entrada de H Proença na Guiné-Bissau, por via terrestre.

O Cor A Indjai (um balanta educado em meio mandinga, de onde provém o apelido), é geralmente descrito como o chefe militar sob cujo comando directo se encontram as
unidades com mais apurados padrões operacionais das FA: Comando Central de Mansoa; Batalhão de Protecção do EMG (este com c 500 efectivos, bem armados).

Antes do encontro de Quinhamel, considerado crucial, A Indjai pôs o CEMGFA, Z Induta, ao corrente do que se estava a passar. Entre ambos foi concertada uma conduta fictícia de A Indjai que consistiu em alimentar a ilusão da sua adesão como forma de obter informações acerca dos planos (intenções, implicações etc.).

São conhecidos a A Indjai anteriores gestos de lealdade pessoal e institucional ajustáveis à atitude que agora assumiu face ao CEMGFA – que aparentemente seria eliminado. Era leal ao ex-CEMGFA, Gen Tagme Na Waié e continuou a cultivar tal sentimento no transe que se seguiu ao atentado que o vitimou.

4 . A versão segundo a qual não existiu tentativa de golpe de Estado é promovida pelo Senegal – autoridades e comunicação social. A evidência é atribuída a duas razões em especial: C Gomes Jr não goza de simpatias no país; embaraço decorrente de H Proença ter entrado do país procedente do Senegal.

Uma delegação do MPLA, constituída por Paulo Jorge e João Martins, encontrava-se numa missão partidária em Bissau quando se registaram os acontecimentos, de que tiveram relato in loco. A informação que transmitiram no regresso a Luanda não realça a teoria de “inventona” aplicada aos aconmtecimentos.

Malam Bacai Sanhá, candidato do PAIGC às eleições presidenciais, ao qual foi prestado um briefing no EMGFA sobre os acontecimentos, terá ficado persuadido da tese da preparação de um golpe. R Cacheu (AM 378) fazia parte da direcção da sua candidatura.

5. A morte de Baciro Dabó, ocorrida na mesma altura, não aparenta estar directamente relacionada com o caso da preparação do golpe de Estado. Há indicações de que poderia ter-se tratado de um ajuste de contas ocorrido numa de duas circunstâncias ou ambas:

- Narcotráfico, actividade em que era dado como envolvido.
- Alegada participação no assassinato de Tagme Na Waié (rumores de que a bomba usada teria sido montada em sua casa).

Fonte: AM