INTRUDUÇÃO: No dia 2 de Junho, recebi uma informação alertando que a ausência, em Bissau, do Primeiro-ministro Carlos Gomes Jr. (deslocara-se à Lisboa antes do falecimento de Luís Cabral) seria aproveitada, para porem em marcha um plano destinado a abater Koumba Yala. O plano foi abortado por traição de um operativo. Em alternativa, foi avançado um “plano B” que resultou com as tragédias da madrugada de sexta-feira (4 Junho).

 

ANALISE: De acordo com as estimativas, o assassinato do candidato presidencial Baciro Dabó , foi destinado a invabilizar o processo eleitoral para proporcionar vantagens eleitorais ao candidato oficial do PAIGC, Malam Bacai Sanha. A lei eleitoral na Guine determina adiamento e cancelamento da data estabelecida das eleições em caso de morte ou desistência de um dos candidatos. A morte de Baciro Dabo promove um ambiente de insegurança do interesse politico do executivo. Induz o eleitorado a  votar no seu candidato oficial visto que as mortes ocorridas foram da autoria das autoridades e é a mesma que se apresenta,  na posição de garantir que ja não havera  mortes. Os efeitos estão a ser verificados na pratica. O Candidato Pedro Infanda retirou a sua candidatura invocando razões de segurança.  As autoridades optam por um discurso de demonstração de  vontade  em manter a data marcada das eleições entendida como medida de artificio para propagar  o seu compromisso com o processo eleitoral.

A morte do candidato Baciro Dabo, permite o PAIGC  preparar as bases de apoio de Bacai Sanha. Baciro  nasceu em Bijene ao norte da Guiné. Partilhava a mesma linha etnia com Bacai Sanha. Ambos fazem parte de  uma etinia islamizada, os  mandinga/biafada,  que estava a identificar-se como base de apoio a Baciro Dabo. Sondagens on-line apresentavam-lhe como o quarto candidato mais preferido sendo o primeiro, Henrique Rosa (preferido da diáspora e da classe intelectual), seguido de Bacai Sanha e Koumba.

Dentro da estratégia da oposição política em promover a “queda democrática” do PAIGC, esta planeado o apoio que vários partidos iriam dar a Koumba Iala. O PRID manifestou, a tres semanas, de forma informal. O Partido Unido Social-Democrata (PUSD) de Francisco Fadul estava manter contactos exploratórios para o mesmo fim. O propósito seria arrastar Koumba Yala e Bacai Sanha, os dois canditados em posições avançadas, para provocarem uma segunda volta eleitoral. Estando consumado, estariam próximo de uma vitória de Koumba que é Balanta (etnia maioritária). O apelo do voto étnico que estava nas previsões de  Baciro Dabo em favor de Koumba fragilizaria Bacai Sanha, o candidato do partido no poder. Um irmão seu, Yaia Dado, oficial da segurança de Estado foi preso na tarde de segunda-feira (10) após, dias antes, ter ameaçado revelar a quem o irmão iria apoiar.

Um possível regresso ao poder de Koumba Yala equivale a mudanças “radicais” nas estruturas do Estado. Alteração das chefias militares partindo pela correcção da inconstitucionalidade que mantém Zamora Induta a frente do CEMGFA. Inevitável demissão do executivo de Carlos Gomes Jr. A linha dura  do PRS de Koumba Yala é apologista de que uma vez o seu líder, eleito Presidente da Republica deve-se avançar com processo judicial contra Gomes Jr. em torno de implicações de praticas não muito boas cujos dossiers comprometedores estão em posse do PRS. Baciro Dabo  dominava o assunto. Semanas antes de morrer ameaçou o PM e no dia do seu assassinato os militares procuraram pela papelada em sua casa.

O proposito de incutir na população a existência de um plano de golpe de Estado não foi aceite internamente nem pela comunidade internacional. Mamadou Dieng, um general senegalês colocado em Bissau como embaixador, chegou a levantar duvidas numa reunião com a Ministra dos Negócios Estrangeiros chegando a alertar que quando se da golpe de Estado as pessoas não dormem em suas casas. Questionou se os militares tinham mandato de captura.
 
“GAPS”  DE INTELIGENCIA

Os Serviços de Informação do Estado na Guiné-Bissau (SIE) são dirigidos por um DG, o Coronel Antero João Correia que era muito ligado a Nino Vieira. Serviu-lhe em sucessivos governos como Chefe da segurança, Consul em Paris e comandante geral da Polícia. A semana que antecedeu aos assassinatos do dia 4, o Coronel Antero esteve em Lisboa, a sua ausência teria sido aproveitada para penetração em alguns operativos. No dia do crime, recusou assinar o comunicado que atribuia tentativa de golpe de Estado e acabou por ser detido. Por volta das 09h36 de sexta-feira, o documento seria assinado por um adjunto seu, o Coronel Samba Djalo.

A execução de Baciro Dabo denotou debilidades e falta de precisão dos serviços de informação. Os cálculos do plano expuseram erros de inteligência.  Foi evidenciado que o comunicado do SIE é um “draft” preparado antes de os assassinatos terem ocorrido. A  sua divulgação  não foi resultado de uma prévia reunião de alto nível como deve acontecer em caso de uma tentativa de golpe de Estado (DG detido, PR e PM ausente). Tendo o comunicado sido imitido sem o consentimento do poder executivo revela a existencia de um poder “paralelo” que terá ordenado as ordens das execusões e divulgação do documento  para coincidir com o comunicado emitido pelo comandante Zamora Induta. Ambos comunicados contradizem-se. O SIE diz que solicitaram apoio da “polícia militar”, já Zamora Induta diz que o SIE pediu  reforços as suas tropas.

O comportamento das vítimas não denuncia atitude de tentativa de golpe de Estado razão pela qual a própria população recusa a versão do governo. Hélder Proença e  Baciro Dabo não estavam no activo. Baciro não gozava de simpatia das forças militares (tratavam-no por Major da polícia). O Comunicado dos serviços de inteligência refere que nas horas a seguir ao alegado golpe, o grupo de Baciro e Hélder Proença iriam indicar  um Primeiro-ministro do “Governo de transição” para propor a um chamado “alto comando das forças revolucionárias”, a composição do novo governo. Este dado em si, contraria com a agenda que as vítimas teriam no dia seguinte. Mostra que as autoridades, ao planearem os assassinatos não levaram em conta este pormenor.

 O candidato Baciro Dabo tinha na agenda, para sabado,  a orientação de uma parte do grupo da campanha que iria deslocar, a Bafatar, zona leste do país na qual procederiam o lançamento da mesma. Ultimamente mantinham reuniões que se estendia ate mais tardar. Horas antes do seu assassinato esteve reunido com Lamine Djata, o director da sua campanha, para discutir o programa do dia seguinte. Acabaram por converter a reunião em convívio estendendo-se  ate tarde. Baciro que era cantor, tocou guitarra com os convidados e assaram carne de cabra a moda local. As 2h10, Lamine Djata se retirou da casa do mesmo. Por volta das 3h um grupo de 30 elementos invadiu a casa de Baciro, neutralizou a sua guarda pessoal,  confiscou os telemoveis dos vizinhos e dirigiu-se ao seu quarto onde seria assassinado. Para além de terem-nos encontrado a dormir, estes dados contrariam mais uma vez com a versão do comunicado do SIE que fala em troca de tiroteios. A casa de Baciro não mostra sinais de tiroteios. Apanhou tiro dois tiros do estômago e um da cabeça. O seu irmão mais velho, Yaya Dabo fala em 11 tiros.

Hélder Proença, o ex-ministro da Defesa que vivia temporariamente em Dakar, deslocava-se a Bissau naquela noite.  Logo após a guarda fronteiriça ter avisado aos mentores dos assassinatos, estes ordenaram que o deixassem atravessar a jangada “em paz”. Foi perseguido ate ao troço que dava para a ponte João Landim, a 15 de minutos de Bissau, onde seria executado por volta das 9h da noite.  Hélder Proença, iria passar a noite no Aparthotel Ruby (de uma amiga Dina Adão) a poucos perimetros do edifício das Nações Unidas em Bissau. Hélder  era um reconhecido empresário. Uma das caracterizas de golpe de Estado é que são dados por militares que reclamam problemas financeiros invocando abuso a constituição. Não era este o caso de Proença.

Um músico conhecido por Domingos que ultimamente encontrava-se em situação de penúria, foi neste dia  visitar o ex Primeiro-ministro Faustino Imbali, que lhe acolheu para uma refeição. Precisamente na  hora em que este comia, um grupo de militares atacou a residência do ex PM. Ambos foram espancados. O músico Domingos está desaparecido. O ex-Primeiro Faustino foi citado por Zamora Induta como estando  detido  nas mãos do SIE. A esposa desafia que  mostrem-na. Ha informações baseadas nos metodos de procedimento das autoridades que apontam que ja tenha sido morto.
 
O SIE, no seu comunicado cita que os supostos golpistas queriam matar Zamora Induta e Carlos Gomes Jr, . O facto de estas duas figuras estarem a ser apresentadas como vitimas revela que tem algo a dizer. Ambos têm as imagens desgastadas, por efeito, da cumplicidade que ultimamente emitem ter. A sociedade guineense revela-se desiludida pela submissão de Carlos Jr ao chefe militar interino e ao mesmo tempo desapontada com a postura benevolente de Zamora Induta.

 A ideia de incutir a população a cerca de um acto de “golpe de Estado” foi amadurecida duas semanas antes do crime por Zamora Induta que insistentemente aparecia a imprensa a dizer que certos políticos estavam a instigar os militares para uma subversão. De acordo com leituras apropriadas, a insistência das denúncias do comandante Zamora Induta indica ter sido uma medida estimada a propiciar e justificar mais a frente que os militares andavam mesmo a ser instigados.

Não obstante as detenções sumarias, há informações que os detidos estão a ser torturados para serem forçados a confessar que a tentativa de golpe de estado é real. A Comunidade internacional deve pedir imediatamente a soltura dos mesmos. As previsões apontam para mais assassinatos. A tese de envio de tropas multinacionais para Guine, mas negadas por Zamora Induta é uma medida inadiável.

Os assassinatos do dia 4 mostram ser um “golpe de estado” provocado por militares em favor de uma linha do PAIGC como medida previa para sua manutenção no poder. Foi um ajuste de conta destinado a amortecer o poder de figuras pro-Nino dentro do partido no poder.

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Fonte: Club-k.net