Luanda - Quase 85% do tempo dedicado pelas televisões e rádios angolanas à cobertura da campanha eleitoral, entre 23 e 27 de julho, foi ocupado pelo MPLA, com 332 em 500 minutos que os voluntários do projeto "Jiku" afirmam ter monitorizado.

Fonte: Lusa

Os números foram divulgados hoje pela associação cívica angolana Handeka, fundada por personalidades como o ativista Luaty Beirão ou o ex-primeiro-ministro Marcolino Moco, que lançou este projeto de monitorização à cobertura da campanha eleitoral para as eleições gerais de 23 de agosto.

 

A análise, segundo os dados do projeto "Jiku", resultam da monitorização, por voluntários da associação, das televisões pública TPA e privada Zimbo, bem como da Rádio Nacional de Angola, Rádio Mais, Rádio Lobito e Rádio Morena.

 

Em 500 minutos que a associação refere terem sido monitorizados nos primeiros cinco dias de campanha, 332 minutos (84,47%) foram dedicados, segundo os resultados hoje divulgados, à campanha do MPLA, partido no poder em Angola desde 1975, enquanto a cobertura dada à coligação CASA-CE não passou dos 21 minutos (5,33%).


A UNITA, maior partido da oposição angolana, contou com 13,5 minutos do tempo de cobertura (3,34%), menos que o PRS, quarto mais votado nas eleições de 2012, que teve 17,6 minutos (4,47%).

A FNLA teve 5,15 minutos (1,31%) e a APN 4,15 minutos (1,05%).

"É uma violação gritante da Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais, nos seus artigos número 73, sobre o direito de antena para fins eleitorais, e número 64, do princípio da igualdade de tratamento. E a Comissão Nacional Eleitoral [CNE] o que faz? Impávida, assiste a tudo isto e depois declara as eleições como isentas, livres e justas", criticou anteriormente Luaty Beirão, em declarações à Lusa.

 

"E o cidadão cumpridor da lei deve engolir a seco e ficar quieto, quanto os engravatados fazem da sua soberania um pedaço de papel higiénico", lamentou o 'rapper', um dos 17 condenados em 2016 pelo tribunal de Luanda a penas de prisão.

 

A Handeka foi lançada em abril passado, em Luanda, para combater a "cultura do medo", que os fundadores consideram inibir o exercício de cidadania e participação civil da maioria dos angolanos.

 

A associação, cujo nome significa "voz" na língua nacional Nganguela, tem como subscritores nove cidadãos de variados estratos sociais, os quais pretendem promover a defesa da democracia e dos direitos humanos, bem como fomentar o exercício dos direitos e liberdades de reunião, expressão, de imprensa, manifestação e associação.

 

A associação propõe-se contribuir para a formação de opinião, educação patriótica e cívica, bem como estimular a participação dos cidadãos na vida pública.

 

No âmbito do projeto "Jiku", que consiste na monitorização cívica do processo eleitoral em Angola, em que concorrem seis listas às eleições gerais de 23 de agosto, a Handeka pretende alargar o número dos órgãos de comunicação social monitorizados, nomeadamente rádios, mas também ao nível das principais províncias do país.

 

"Nas províncias, o desequilíbrio é muito maior", enfatiza Luaty Beirão, que já fez saber que não atualizou o registo eleitoral, pelo que não irá votar nas eleições de agosto.

 

Angola vai realizar eleições gerais a 23 de agosto deste ano, com seis formações políticas concorrentes - MPLA, UNITA, CASA-CE, PRS, FNLA e APN - contando com 9.317.294 eleitores em condições de votar.

 

Nas eleições gerais são eleitos o parlamento e, por via indireta, o Presidente da República e o vice-Presidente.