Otawa - Tornou-se rotina quer nas «conversas de copo», como na linha noticiosa da imprensa privada, ou em sites da internet, basculhar o MPLA, o seu governo e individualidades ligadas à ele. O curioso é que há mais de trinta anos que se tem feito a mesmíssima coisa e até aqui nada mudou. Pelo contrário só piorou. O MPLA ganhou a eleições e governará até 2012, de certeza também até 2016, 2020, nos anos a seguir e quiçá eternamente. Em vez de limitarmo-nos nas acusações, seria sensato examinarmos o que tem de ser feito para mudar o cenário.

Eu defendo que a solução do problema de Angola passa pela dissolução ou auto-erradicação da UNITA. É verdade que quando se fala contra a UNITA muitos dos nossos compatriotas conotam-nos logo com o MPLA e, simplesmente descartam-se de esmerar o cerne da questão. Se o MPLA fosse uma maravilha como se espera, porque razão teríamos partidos de oposição? A UNITA é o maior partido de oposição e é, portanto, a referência da oposição angolana. Este partido teve uma co-participação na destruição física e moral do país, que não pode ser negado. Lógico, que caberá a ela, a sua quota-parte na restituição dos mesmos, partindo como exemplo.

A UNITA em partida tem sido um parceiro inseparável e o mais privilegiado do governo em todo o mal que se passa em Angola. Ela é a única responsável pela paixão que os angolanos depositaram ao MPLA e continuam depositando, deixando-os sem muitas hipóteses de o fazerem por outros partidos como a ela mesma. Ela faz de conta que contribui para a democratização do país, mas na verdade, só tem atrapalhado, legitimando todas as trapaças do MPLA.
Cada erro que a UNITA vem cometendo ao longo dos tempos, tem sido muito bem aproveitado pelo MPLA para desferir grandes golpes propagandísticos fortificando cada vez mais seus laços com a população sofrida pelo seu próprio regime, mas que no antro «causado» pelo movimento do Galo Negro, esse mesmo MPLA tornou-se o salvador do Povo.

Hoje, o nome «UNITA» continua a ser um ónus pesado que os Angolanos têm de carregar e, levarão muitos anos para dele desapossarem-se. Assim será, porque o MPLA tem inteligentemente sabido gerir esta situação fazendo uso dos meios de comunicação e o facto de a nossa população ser míope, analfabeta e sem muita visao, facto este que o MPLA tudo tem feito para manter enquanto governar.

Os indivíduos da direcção da UNITA, membros, simpatizantes, militantes e fanáticos deste partido, sentem orgulho do nome do seu partido. Têm-no como símbolo da luta histórica pela independência e tudo farão para manter-lo «vivo», contudo, não esmeram-se em entender que este partido já está «morto» há algum tempo. Seu nome, suas políticas e seu radicalismo, favorecem unicamente ao MPLA.

Em democracia, os valores morais, como a integridade, garantem a confiança a ser dada à alguém, o que é fundamental para impulsionar qualquer movimento de mudança. Não pode alguém sem moral, julgar o outro pela falta de moral. A ausência de valor morais na UNITA afasta dela muitos Angolanos e torna-se uma razão que leva o povo a acomodar-se ao MPLA.

Tudo o que esta UNITA tem feito e continuará fazendo, enquanto existir, se resumirá em ajudar o MPLA a consolidar a sua posição rochosa nos vários domínios da vida do país sem chances de ela contrariar nem proporcionar um movimento populacional neste sentido. Para enfrentar uma força do tamanho do MPLA, é necessário que quem esteja do outro lado, equipara-se a ela, sobretudo em meios humanos e psicológicos. O que equivale dizer que todas as forças politicas deveriam unir-se. A UNITA tem sido um empecilho na concretização desta unidade. 

Analisemos os seguintes pontos:
1. Mudanças.
Para a UNITA, só o MPLA deve mudar, olvidando-se que o MPLA já tem o controlo do país e se mudar, fará no sentido de ter maior controlo ainda. Os indivíduos fazem uma co-relação entre os actos da UINITA aos do MPLA, sem ter em conta que é a UNITA, como oposição, que almeja ser governo e não é o MPLA que pretende ser oposição, para tal, é a UNITA que tem de seguir no flow da sociedade.

2. A luta da UNITA
Falar da luta da UNITA antes da independência, é algo que enche de orgulho seus membros fundadores. Apesar de tudo, a sua luta de 1975-1991 foi considerada (até certo ponto) justificável, mas de 1992 para diante, foi o suicídio do seu líder e o fim da organização.

3. Erros da UNITA
a) – Morte da Família Tito Chingunji; já nos anos 90, a família de Tito juntamente com 60-70 pessoas incluindo dois bebés gémeos de um ano, foram brutalmente assassinadas na Jamba, o que levou a deserção de figuras de peso, como Tony Fernandes, Miguel Zau Puna, Jorge Chicote, Paulo Tchipilica, e outros, e tambem a roptura das relações entre a UNITA e os EUA.
b) – Campanha eleitoral; Os discursos bombásticos de J. Savimbi, declarações de atentados bombistas e várias ameaças, amedrontaram e afugentaram muita gente.
c) – Recusa dos resultados eleitorais e retorno à guerra. A Unita não foi capaz de ligar a sua derrota aos seus erros e a forte campanha propagandística do MPLA sobre estes mesmo erros, causando a desilusão de muitos que os haviam recebido calorosamente a quando da sua chegada às cidades. Ao contrário, fincaram-se nas alegações de fraude ao invés de reverem as suas falhas e seguir à segunda volta. Todas as formas de ameaça ao retorno a guerra foram utilizadas pelo MPLA para empurrar a UNITA para a guerra. Tal como ficou até hoje conhecida a frase «Vamos somalizar Angola».
Todos esses erros da UNITA foram aproveitados pelo MPLA que usando a TPA e a RNA, transformaram J. Savimbi num mostro e consequentemente o distanciamento de muitos que viam justeza na luta da UNITA. Muito destes, eram angolanos desgostosos com o destino do país depois de 1975, numa alusão de que a independência de Angola seria próspera, se não fosse a forma como Agostinho Neto tomou-a de assalto.  

4. A UNITA de hoje
Não se pode negar que a UNITA tinha capacidade financeira, logística, intelectual e humana para dirigir o país sem muitas reservas. A UNITA tinha quadros militares e civis de invejáveis currículos, entre Universidades dos EUA, Canada, Inglaterra. França, etc. Depois de várias deserções e mortes de muitos destes, aliado ao abandono populacional das suas áreas de apoio, vítimas da guerra e outras falcatruas, a UNITA reduziu-se a zero. Ignorar esse facto é apenas retardar o partido e consequentemente o país.

5. Espectro da Guerra.
Levarão anos e anos em que esta organização terá concomitância á guerra em Angola, ao passo que o governo do MPLA vai distanciando-se cada mais vez da sua parte na mesma, com o acto de reconstrução do país, aproveitando assim alargar o seu patriotismo. Povo não consegue destrinçar como é a democracia, a boa governação ou a corrupção, do mesmo jeito que consegue distinguir a guerra da paz. É evidente que os sinais da paz aproximam mais o povo ao MPLA do que a UNITA, o que, consequentemente, deixa o MPLA relaxado sem envidar nenhum esforço para melhor a sua governação, por ausência de concorrência política.

6. Analise Histórica Demográfica
Os angolanos nascidos antes de 60 tiveram a oportunidade viver o tempo colonial. Apesar do colonialismo, reinava um sistema social tolerável. Esperava-se contudo, melhorias significantes após a independência, o que incentivou muitos a partirem para a luta pela independência. Defraudados como os acontecimentos após 1975, como o agravamento da vida social, a negação dos valores culturais, a existência de uma camada social privilegiada, entre brancos e mestiços, a via socialista que Angola seguiu, e mais, muitos viram justeza na luta da UNITA e Savimbi era considerado o grande nacionalista. Foram estes os votantes pela UNITA em 1992.
Depois de 1992, surgiu uma nova geração. Estes, nascidos pouco antes de 1975, não tiveram ideia do tempo colonial. Foram formados nas escolas de doutrina do MPLA. Tornando-se mais distanciados da UNITA depois de terem assistido aos acontecimentos após 92. Muitos deles ainda jovens foram obtendo mais informações sobre 92 pelos seus mais velhos e pela força da imprensa. Foram estes que em 2008 constituíram a maioria votante e, logicamente, votam no MPLA.
A UNITA não tem capacidades de sobrepor aquilo que esta geração aprendeu em forma vivente, em relação aquilo que os seus dirigentes defendem caracterizando este partido como «um partido histórico», que esta geração não sabe e não tem formas como saber.

7. Aderência
Para além do espectro de guerra impedir a aderência massiva de quadros na UNITA, as políticas deste partido expresso nos seus estatutos postado no seu site, (art. 5, 2), constituem um entrave em ela reformar-se com recursos humanos de qualidade tendo em conta os desafios actuais. É mais fácil aderir ao MPLA do que a UNITA, para alem de que aderir ao MPLA é compensatório.

8. Diversidade.
Uma particularidade da Democracia é a diversidade, isto é, a comunhão de vários pontos de vistas dentro de uma organização prevalecendo o objectivo comum. Se fosse verdade que a UNITA praticasse a diversidade, então muitos angolanos que não encontram essa particularidade no MPLA, adereriam a ela. A prática de homogeneidade é um obstaculo para o progresso da UNITA.

9. Sentimento de pertença.
Neste caso o MPLA esta muito bem servido e deixa a UNITA para longe. Ter membros da família, amigos de bairro, colegas de escola, vizinhos, irmãos de igreja, do mesmo lugar de origem, raça, etnia, ou outro tipo de relações interpessoais, numa organização, transmite em nós um sentimento de pertença, algo assim como, «esses são nossos». A UNITA estava bem servida neste aspecto até 92, espelhando uma visível diversificação destas relações interpessoais. Jorge Valentim, p.e. era um símbolo de sentimento de pertença que ligava os Benguelenses, sobretudo, os Lobitangas à UNITA, por partilharam com o mesmo vários aspectos em comum. Muitos de nós questiona a escolha de Akwá como deputado pelo MPLA, pois tal facto dá-se simplesmente para realçar o sentimento de pertença aos fans de futebol e a figura de Akwá e liga-los ao MPLA.

10. Passagem de testemunho.
O que parece errado é pensar que com o tempo Angola vai mudar simplesmente. Pois no MPLA não subirão ao poder jovens reformistas. E isto na UNITA também está muito longe acontecer. Chamaram Abel Chivikuvuko de jovem sem pujança para dirigir o partido, mesmo estando nos seus cinquenta. Isto apenas indica que os velhos caducos e sem inovações continuarão a mandar. Esses não são passíveis a passagem do testemunho levando o partido a encalhar sobre uma rocha em alto mar e afundar…

11. Legado de Savimbi.
Uma das particularidades que distingue as grandes democracias da nossa, é a cultura de valores morais. Joe Biden, o actual vice-presidente do EUA, teve de renunciar a sua candidatura às presidenciais daquele país de 1988, por alegações de plágio. Tudo em nome dos valores morais; embora plágio não é crime, porém, o que se levou em conta foi a integridade do indivíduo. O que é um plagio comparado com centenas de milhares de mortes directas e indirectas? Como se pode dizer que Savimbi pretendia uma Angola democrática? Partindo de que tipo de valores morais que aquele angolano cultivava?
Os angolanos não tiveram a chance de conhecer Savimbi, como politico desarmado. Esta tentativa da UNITA fazer prevalecer o legado de Savimbi, contrasta com a sua real intenção por um Angola democrática e próspera, relançando cada vez este partido a estagnação.

12. UNITA sem a guerra
A guerra fria foi uma das principais fontes da sustentabilidade da UNITA. Para além do apoio directo dos EUA, a UNITA tinha apoio de grande parte do mundo ocidental, de países africanos e outros que se opunha a expansão do comunismo em África, em especial o regime de apartheid da África do sul.
O controlo de ricas área mineiras onde extraía diamantes, o saque às populações e roubo do gado, as emboscadas das viaturas e outras más práticas sustentavam a UNITA. Esses não são dados que orgulhariam um partido que pretende apresentar-se como alternativa em Angola, e cultivar valores morais.

13. Desafios Sociológicos.
Um dos desafios que entrava UNITA é o alto grau de efemeridade da nossa sociedade implementada e sustentado pelo sistema sociopolítico vigente, induzindo a sociedade em práticas de vida irreal, a ganância, a ilusão, o lucro fácil, a imoralidade, etc., perpetuadas de gerações após gerações. Esta condição não permite uma atenção especial da sociedade à UNITA.

14. Dualismo da UNITA
Eles não podem ser ladrão e polícia ao mesmo tempo. Eles não podem julgar seus parceiros. Desde 1975 a 91, UNITA estava do outro lado da guerra destruindo infraestruturas e causando mortes de milhares de Angolanos. De  92 a 2008, os deputados da UNITA faziam de conta que democraticamente discutiam as leis do país, quando do outro lado a mesma UNITA e o mesmo governo matavam angolanos inocentes em grandes frentes de batalha. Hoje ao apresentar um ilusorio projecto de constituição, a UNITA apenas legitimará o projecto ambicioso do MPLA, fazendo de conta que temos um país verdadeiramente democrático.

15. Economia e Politica.
Para remate faço uma comparação entre a economia e a politica, em que a satisfação da sociedade é a missão comum de ambas, diferenciando apenas o produto. Uma vês que e economia está virada em bens e serviços e a politica em credibilidade. Sendo assim, o povo só consome um produto pela ausência de um outro que seja melhor ou mais acessível, para dizer que o povo só ama o MPLA por falta de alternativa. 

Todas acusações que proferimos contra o MPLA hoje, continuaremos a faze-las por mais trinta anos, porém nada mudará. Enquanto existir a UNITA, o MPLA será o mais benfeitorizado. A dissolução da UNITA proporcionaria a criação de um novo partido composto de muita boa gente que a UNITA ainda tem e outras forças da sociedade e as falhas do governo seriam então os trunfos a usar para este partido novo singrar e mudar país. Para muitos, a situação actual do país é benéfica, podendo tirar dividendos dela.

* Bernardo Santos
Fonte: Club-k