Luanda - A opinião é de Gildo Matias, politólogo e diretor do jornal Vanguarda, que, em declarações à TSF, defende que João Lourenço, sucessor de José Eduardo dos Santos, vai ter uma tarefa difícil.

Fonte: TSF

"Mais do que ganhar eleições, o mais difícil vai começar agora, vai ser reconquistar. O MPLA precisa disto, precisa de reconquistar o seu eleitorado. Não é por acaso que, em três eleições consecutivas, o partido tem vindo a perder eleitorado", diz à TSF o politólogo angolano Gildo Matias.

 

Entrevistado, em Luanda, pela repórter Cristina Lai Men, o também diretor do jornal Vanguarda considera que o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) - até agora liderado por José Eduardo dos Santos - tem de tirar algumas lições do resultado das eleições gerais desta quarta-feira.

 

"O facto de a votação estar a situar-se em pouco mais de 60 por cento é também um sinal que a sociedade quer dar, dizendo que quer o MPLA, mas um MPLA diferente", explica.


No poder há mais de 40 anos, o partido tem de mudar, e, defende Gildo Matias, essa é uma realidade incontornável. Quanto ao próximo presidente da República, acrescenta, deve apresentar alguns sinais dessa disponibilidade para avançar com uma mudança, desde logo na escolha da nova equipa de Governo.

 

"Estou a pensar que o novo presidente [João Lourenço] vai querer firmar novas lealdades e que tal vai passar muito por uma geração que é a dele, ou seja, de pós-independência. Vai contar também com uma geração do final dos anos 70 e 80, que é tecnicamente muito bem dotada", sublinha.

 

Após as eleições, o jornal Vanguarda, um semanário do qual Gildo Matias é diretor, avança na edição de hoje alguns nomes para o próximo executivo. O politólogo está convencido de que este é o fim da era José Eduardo dos Santos, lembrando, no entanto, a importância daquela que foi a figura mais importante da política angolana nas últimas quatro décadas.

 

"José Eduardo Santos sai de forma limpa - até porque, à luz da Constituição, ele teria direito a mais um mandato - e com o seu próprio pé, o que é muito importante e, aliás, em África estamos habituados a assistir a transições muito conturbadas", afirma, salientando que Eduardo dos Santos deixa um país "estável, faz uma transição pacífica e democrática".

 

Uma transição histórica, sublinha Gildo Matias, lembrando que esta é a primeira vez que Angola assiste à passagem de testemunho entre dois presidentes vivos.