Alemanha - Em entrevista à DW África, Pio Wacussanga salienta que a Igreja Católica deve aconselhar os políticos a aceitarem o voto do povo. Avalia os resultados provisórios das eleições angolanas de 23 de agosto.

Fonte: DW

Um grupo de associações e ativistas angolanos publicaram uma declaração sobre o processo eleitoral em Angola. Jacinto Pio Wacussanga é um dos subscritores da intitulada "Declaração da sociedade civil angolana sobre as eleições de 2017".


O padre angolano avalia o processo após as eleições gerais de 23 de agosto e afirma que "os resultados foram enviesados". Por isso, deve haver a recontagem dos votos e a Igreja deve aconselhar os políticos rumo a uma democracia credível.


DW África: Qual é a avaliação que faz do processo pós-eleições angolanas de 23 de agosto?
Jacinto Wacussanga (JW): É extremamente confuso o resultado dessas eleições. Os resultados foram enviesados a partir do momento em que os comissários da oposição disseram que os resultados provisórios não correspondem àqueles que constam nas atas eleitorais. A partir daí começou o indicador de que houve vontade do regime em subverter o resultado das eleições.


DW África: Qual deveria ser o papel da Igreja em todo este processo eleitoral?
Jacinto Wacussanga (JW): O papel da Igreja é o de aconselhar os políticos a aceitarem o veredito do povo, não procurarem vias para poderem subverter o processo. E, ao mesmo tempo, é o de trabalhar com o povo angolano em geral para se evitar o máximo possível o recurso a qualquer tipo de violência.


DW África: Ainda não há resultados definitivos das eleições de 23 de agosto. Porque pretende uma recontagem dos votos?
Jacinto Wacussanga (JW): Na nossa declaração, aconselhamos que houvesse espaço para recontar os votos e houvesse um corpo (entidade) considerado independente, porque a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) tem, neste momento, a sua credibilidade extremamente questionada. Só esperamos que haja uma recontagem que reflita realmente aquilo que os angolanos foram fazer às urnas dia 23.

DW África: Como vai acontecer a recontagem?
Jacinto Wacussanga (JW): Enquanto sociedade civil, sugerimos que dessem espaço (à recontagem dos votos). Já está em curso a contagem paralela dos partidos da oposição. Se nós, sociedade civil, tivéssemos possibilidades e meios, com o apoio de agências internacionais que conhecem o sistema, poderíamos também ajudar nesse processo.


DW África: No comunicado, a sociedade civil refere que os "resultados foram produzidos pela cúpula do MPLA”. Que provas tem sobre esta afirmação?
Jacinto Wacussanga (JW): Essa afirmação é tirada da informação que os próprios comissários de vários partidos da oposição ofereceram. As informações são públicas. Nós cruzamos as informações de vários partidos da oposição e, a partir daí, a sociedade civil afirma que os resultados não refletem o que está nas atas.


DW África: Que lacunas houve no processo de contagem dos votos?
Jacinto Wacussanga (JW): O que se diz não se trata de lacunas mas de um deliberado de que, ao invés de contar o resultado final da votação, é trazer-se para a CNE resultados fora da votação. Foram colhidos esses resultados fora da votação e é essa a informação que nós temos.