Em Angola, pouco ou nada se sabe sobre este cidadão, mas o facto de ter sido feito manchete de capa, em Portugal, acabou por atiçar a curiosidade dos cidadãos mais aten tos. Afinal, quem é Sindika Dokolo? Com base em múltiplas fontes, este semanário procura, com a presente matéria, trazer mais luz sobre o nome dessa «figura das sombras», pela sua descrtição, todavia deveras importante nos bastidores do mundo de negócios em Angola; bem como vamos procurar revelar, até onde for possível, a sua fortalecida teia de iniciativas empresariais.

No website www.dokolo.com, por exemplo, deparamo-nos com uma curta biografia de Sindika Dokolo (ler caixas), no final da qual se apresenta uma lista dos principais negócios deste jovem empresário. Além da gestão das empresas herdadas do seu pai, no Congo, ele foi ainda apresentado como administrador da Nova Cimangola, a principal produtora de cimento em Angola, proprietário da Soklinker, que fornece matéria-prima, justamente, para a Nova Cimangola, além de dono da Amigotel, parceira da Unitel ao nível de soluções para o serviço de telefon ia móvel.

Mas foi à referência à Amorim Energia que mais chamou a atenção. Sobre esta empresa, cujo site referencia que detém 33 por cento das acções da companhia petrolífera portuguesa Galp, Dokolo é apresentado como administrador, em consonância com a matéria do diário PÚBLICO que mereceu, inclusive, honras de capa na edição de segunda-feira do periódico. Começamos, justamente, por publicar extractos da matéria trazida à estampa pelo PÚBLICO.

Sindika Dokolo, casado há cerca de cinco anos com Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, é um dos nove membros do conselho de administração da Amorim Energia, «holding» sedeada na Holanda e que controla um terço do capital da petrolífera Galp Energia. Ele ocupa o cargo na  Amorim Energia, segundo escreveu o jornal, ao lado de representantes de grandes accionistas, como a angolana Sonangol, Caixa Galicia e o próprio Américo Amorim.

O PÚBLICO não soube precisar se a presença de Sindika Dokolo reflecte, ou não, uma participação accionista sua ou de Isabel dos Santos (sócia de Américo Amorim em outros negócios). O departamento de comunicação do empresário confirmou, para aquele jornal, apenas que este é «administrador da Amorim Energia desde o início do investimento», no ano de 2006.

Além de Américo Amorim, e de Sindika Dokolo, têm assento no conselho de administração da Amorim Energia nomes como o de Mateus de Brito, vice-presidente da petrolífera estatal angolana Sonangol, José Alvarez Sanchez, responsável legal da Caixa Galicia, José Neto, presidente da Investimentos Ibéricos, e Carlos Gomes da Silva, actual administrador não executivo da Galp (e ex -responsável da Unicer), indicado pelo empresário nortenho. Todos estes nomes reflectem os interesses económicos e financeiros ligados à holding Amorim Energia através de várias empresas. Deve lembrar-se que, de visita a Luanda, o magnata português Américo Amorim disse, em entrevista publicada no Jornal de Angola, controlar 55 por cento das acções da Amorim Energia, através de uma das suas empresas. A outra metade, ou seja, 45 por cento, cabia à Sonango, petrolífera angolana.

A nomeação de Sindika Dokolo para o conselho de administração da Amorim Energia ocorreu em Abril de 2006, ano em que se intensificaram os negócios entre Américo Amorim e Isabel dos Santos. No final desse ano, os dois entraram no capital da Nova Cimangola, através da empresa Ciminvest e em substituição da Cimpor, que saiu deste mercado em ruptura com as autoridades.
No capital da cimenteira angolana está, além do Estado, o Ba nco Africano de Investimentos (BAI), onde a Sonangol é accionista de referência. O presidente da petrolífera estatal angolana, Manuel Vicente, além de administrador não executivo da Galp Energia, é também um dos gestores ligados à Unitel, empresa de telecomunicações angolana onde a PT tem uma participação, tal como Isabel dos Santos. Todos estes negócios acabam por beneficiar também o empresário Sindika Dokolo, com quem Isabel dos Santos se casou há cerca de cinco anos. 

De quem se fala?

No próximo dia 16 de Maio, Sindika Dokolo completa 36 anos de vida. São, ainda, poucos os anos que esse jovem empresário dedicou a Angola. Foi, de resto, em Kinshasa onde nasceu esse jovem filho de pai congolês, o empresário  Augustin Dokolo Sanu, e de mãe belga, Hanne Dokolo. Embora tenha nascido no Congo, Sindika passou grande parte da sua vida na Europa, dividido entre a Bélgica e França. Neste último país, o jovem frequentou o Lycée Saint Loius de Gonzague, em Paris. Ele estudou assuntos económicos, comércio, além de línguas estrangeiras na Pierre et Marie Curie University, ainda na capital francesa. Com a morte do pai, em 2001, o jovem passou a ocupar-se dos negócios da sua família que compreende a mãe, um irmão e mais duas irmãs.

Um coleccionador de arte

Nem tanto como marido da filha mais velha do Presidente da República. Sindika Dokolo, o jovem de 35 anos, é mais conhecido pela sua paixão pela arte. A sua fundação, que carrega o seu nome, tem saltado para as páginas dos jornais como estando por trás de várias iniciativas culturais, com grande destaque para exposiçõ es de artes plásticas. É dele, por exemplo, a iniciativa da Trienal de arte Contemporânea de Luanda, onde expõe trabalhos de vários artistas nacionais.
Sindika é, pois, um exímio coleccionador de arte africana. Consta que essa paixão pelas herdou-a do pai de quem, por outro lado, beneficiou de um conjunto de obras de arte oriundas de vários países africanos. No ano passado, Sindika apresentou na mais prestigiada exposição artística do mundo, a Bienal de Veneza, um conjunto de mais de 600 peças de artistas de 21 países africanos, constantes da sua colecção privada.

Coleccionadores de todo o mundo foram ao extremo de questionar a identidade deste coleccionador, ponto fortes resistência à origem dos fundos que suportam a sua colecção. Em sites de amantes de arte, como resultado de uma pesquisa na Internet, escreveu-se, por exemplo, com base em artigos de jornais franceses que «durante o regime de Mobutu o  pai de Sindika Dokolo criou um banco em Kinshasa que promovia a transferência de dinheiro para contas de membros da sua própria família – incluindo o filho Sindika, na altura menor – burlando o estado e clientes privados em largos milhões de dólares».
Outros negócios

Sindika Dokolo é dono da Amigotel. Dito assim, esse nome pode não significar nada para a maioria dos leitores. Mas se acrescentar um condimento, já será mais fácil notar de que empresa se trata. Alguém se lembra do Telo? Pois é. A empresa Amigotel, de Sindica Dokolo, é a proprietária da rede de telefones Telo que, espalhados pelas cantinas de Luanda, disponibiliza, para a população carenciada, serviços telefónicos com tarifa de baixo custo, sendo suportada pela rede da empresa Unitel, na qual a sua esposa, Isabel dos Santos, tem largos interesses.

Este serviço, que parece ser o mais avançado dos projec tos desenvolvidos pela empresa Amigotel, começou a ser disponibilizado por volta de 2005, prevendo-se que, até 2007, pudesse cobrir cinco diferentes regiões do país. O semanário A Capital, entretanto, não está em condições de afirmar se, de facto, esta meta foi cumprida.

Porém, sabe-se que os telefones nas cantinas são, apenas, uma faceta da rede Telo. A empresa de Sindika Dokolo assinou, em 2005, uma licença para operação do serviço de payphone, sigla inglesa que, em português, equivale a cabina telefónica. O serviço seria, então, providenciado pela Unitel com a qual a Amigotel ainda mantém um contrato de exclusividade que a representa como agente na província do Kwanza Norte. A Amigotel, registada como empresa em 2003, é ainda a distribuidora oficial de telemóveis gsm da marca SonyEricsson e LG.

A empresa de Sindika Dokolo oferece ainda, claro, à Unitel, outras soluções para o serviço  de telemóveis, mediante as alianças que mantém com empresas internacionais do ramo, a exemplo da Bluefish que, segundo apuramos, fornece os cartões SIM que usamos nos nossos telefones.

* Eunice dos Anjos Pereira Van-Dúnem
Fonte: A Capital