Para ele, as campanhas eleitorais devem ser feitas, mas que os seus actores, em particular os líderes, devem ter um programa de interpretação do momento que o país vive, visto que já lá se vão 6 anos de paz, mas quando muitas vezes o governo vem a público justificar que não pode fazer muita coisa porque foi há pouco tempo que a guerra acabou, logo a seguir se esquece destas coisas e vem com aquilo que são puros actos de intoxicação de propaganda, o reacender visível em muitos actos como se viu há pouco tempo o modo como se recuperou a questão do Cuito Cuanavale que nós todos acompanhamos, todos angolanos puderam acompanhar. Tratou-se duma batalha que teve partes angolanas – governo e a UNITA e as partes internacionais.

O governo angolano teve mais facilidades em trazer convidados de 8 a 10 mil kilómetros de distância do que de fazer um convite ao seu companheiro ou elemento de governação sentado ao lado. Não foi capaz de dirigir um convite à UNITA para participar nestes actos. Isto diz bem que estamos a viver hoje sobre o signo da propaganda partidária em detrimento do interesse nacional da consolidação da paz e da reconciliação.

Pergunta: Tanto o governo assim como a UNITA estarão a mentir o povo enquanto têm o mecanismo de concertação, o mecanismo bilateral, quando saem das reuniões está tudo bem e de repente ainda existem problemas o quê que se passa?
Resposta: Agradeço. A pergunta é muito oportuna e oferece oportunidade de podermos ajudar quem nos ouve e que quer acompanhar os desafios grandes que tem o país. Não tenho pena da UNITA ou do MPLA, ou os seus intérpretes, tenho o país no seu todo. Nós temos de facto o mecanismo de consultas e concertação política excepcionalmente entre o governo e a UNITA. Este mecanismo foi criado logo que a Componente internacional do processo de paz e reconciliação deixou o país. As Nações Unidas e os países observadores delegaram ao governo e a UNITA, subscritoras dos acordos de paz a continuidade da implementação dos pendentes de paz. Portanto este mecanismo existe apenas e só porque existem pendentes de paz e reconciliação nacional, portanto é uma coisa muito séria. E como porta - voz da UNITA, tenho sempre dito que o mecanismo está perante um grande desafio. O desafio da criação deste espaço de trabalho e nós vimos constatando há muito tempo tarefas que são calendarizadas e não se cumprem, e este mecanismo tem várias tarefas, todas elas exclusivas do comprimento do governo de Angola. Nós temos um cronograma assinado pelas duas partes onde todos os pendentes são todos da responsabilidade do governo. A UNITA não tem nenhum pendente em nome da reconciliação. Temos em Luanda Administradores que por consequência dos acordos alguns nomeados pela UNITA, nunca tomaram posse. O MPLA já nomeou várias vezes os mudou e os nomeados pela UNITA com os nomes enviados há muitos anos, foram formalmente pelo Ministro de então Faustino Muteka e nós temos copia desta sua nomeação, nunca foram empossados pelo governador de Luanda e eu pergunto porquê? O que existe é falta de vontade política de concretizar a reconciliação nacional.

P: São justificações para que agora surjam denúncias segundo as quais a UNITA está a estragar as estradas, pretende por mas gente na estrada para inviabilizar o trânsito, mandar as zungueiras?
R: Não é motivo de nós rirmos, mas é um elemento impressionante nem sei como é que não se lembraram de dizer que a UNITA é que meteu a baixo a DNIC, não sei como que não se lembraram de tantas outras matérias.
Nós temos vivido no país vários cenários que não terminam, infelizmente de actos de intolerância política. Estas realidades são levadas permanentemente ao mecanismo bilateral e muitas vezes são tornadas públicas e todos têm acompanhado as várias conferências que têm sido feitas e sempre levadas a quem de direito, aos administradores onde elas ocorrem aos governos das províncias, ao governo central e sempre com o conhecimento dos tribunais, dos Comandantes da polícia, das Igrejas em fim de onde estas questões continuam a ocorrer. Devo dizer que a intolerância política em vez de diminuir tem aumentado continuamente com novas formas de comportamento e com grande preocupação nossa. Temos acompanhado nos últimos meses que já não se atinge apenas uma pessoa, são comportamentos de massas, queimam-se casas de quinze pessoas, queima-se a delegação da UNITA local. Isto tem sido algo repetido permanentemente nas províncias do Bié, Huambo, Benguela e está a repetir-se um pouco por todo lado.

P- Há aqui uma questão mais uma vez da bipolarização MPLA e UNITA querem mais uma vez levar esta situação para um espaço…
R: Repare que estes discursos são exclusivamente dos dirigentes do MPLA. A UNITA quer se distanciar desta postura, está a se distanciar desta postura. Eu já disse que detectamos os objectivos. Não vamos cair no engodo de não dar o discurso que os angolanos querem ouvir. Os angolanos querem ouvir do que se pensa sobre o futuro. Quais são os projectos, quais são os programas de amanhã, o quê que se propõe como projecto de sociedade? Os angolanos querem claramente a estabilidade, querem segurança, querem emprego, querem desenvolvimento. Olhem para os discursos que vêm dos dirigentes da nossa concorrência, ódio, passado, ameaças medo, não queremos de maneira nenhuma assumir qualquer responsabilidade nesta postura. Nós vamos continuar a assumir uma responsabilidade de garantia porque o país carece de reafirmação e garantia.

P- Como é que os cidadãos podem sentir de facto que todas essas acusações não passam de meras acusações sem fundamento?
R: Antes de mais devo dizer que quando das declarações dos senhor Ministro da Defesa qual foi a resposta da UNITA? Vá aos factos e apresente os nomes das pessoas. Passaram mais de dois meses e o que vocês assistiram é a repetição de acusações falsas. Os factos ficaram na gaveta. A minha sugestão é que o que está pela frente é um desafio muito grande, de grande responsabilidade e portanto vamos deixar a propaganda e vamos para os factos.

P- Está a se desenhar um cenário para que não se realizem eleições?
R: Seria grave eu não quero nem ouvir de falar nisso. Não é pela primeira vez que alguém questiona sobre esta matéria; e não só a população, nós também questionamos porquê este tipo de comportamento? E este tipo de comportamento está a vir todo do lado do MPLA, e nós estamos a querer responsabilizar as pessoas, estamos a apelar que a gente deixe a propaganda de lado porque não é mais tempo.
Quero acreditar que temos guardiões do estado atentos a defender a todos cidadãos e lá onde o cidadão põe em causa bens públicos, não peça autorização através das antenas da rádio à UNITA. Actue porque é sua responsabilidade obrigatória, mas neste caso haja uma investigação que seja isenta e também haja o direito à defesa que deve ser não tutelada politicamente. Nós estamos a identificar comportamentos eleitorais que nos trouxeram ao julgamento de uma ex-Secretária provincial da UNITA, a senhora Gina Chipoiya que foi notificada a semana passada que iria ser julgada porque fez determinadas afirmações de que o registo eleitoral na província onde ela tinha responsabilidades não tinha sido completo e que as brigadas não estavam a fazer o trabalho que deveriam ter feito completo. Este tipo de intervenção pública levou a ser indiciada ao julgamento e sentou-se ontem ao banco. Houve a sua audiência durante o dia e foi transferida para o dia 10, onde mais uma vez achamos muito interessante um actor politico que faz uma intervenção pública é imediatamente levado aos bancos dos tribunais… Será que o nosso estado está a querer confundir o papel de garante de isenção, será que a matéria de intolerância politica que não cessa, cujos actores identificados nunca são criminalmente indicados? Esses aspectos o cidadão deve questionar, averiguar e envolver-se, porque são alertas para a sociedade. É dos nossos actos que emana a nossa responsabilidade.


P: O Eng.º Adalberto tanto fala do MPLA mas nunca sita, fala sempre de adversário porquê?
R: Vir p´ra aqui e deixar nomes de pessoas é melhor deixar isto, porque é um acto de responsabilidade da minha parte, mas citei objectivamente Ministro da Defesa é função institucional, significa que eu estou a pedir responsabilidade em primeiro lugar. Mais importante que a pessoa é a sua função institucional. Nós precisamos ser garantidos neste país, e é o estado, é o governo que tem esta responsabilidade. Toda gente sabe quem é o ministro da defesa que fez afirmações incríveis, e que é mais um momento de reflexão que nós estamos a fazer. Nós vimos o senhor ministro a fazer uma intervenção que foi amplamente criticada na sociedade e criou pânico aos investidores inclusive. Em conferência internacional o senhor Vice primeiro-ministro na Alemanha foi questionado por um empresário sobre se há guerra em Angola e estão a nos convidar para investir, ao mesmo tempo o seu colega ministro da defesa está a dizer que vai haver guerra? É um embaraço, por isso as pessoas devem reflectir melhor quando tiverem que falar ao público.
O que aconteceu a 4 de Abril o dia da paz, um dia importante de comemoração para o país, na cerimónia realizada no Bocoio, onde Sua Excelência o senhor presidente da República mandatou o senhor ministro da defesa para o representar, o mesmo autor das declarações, e nós todos temos que começar questionar o que é que isso significa? Que conteúdo foi do discurso? Foi um discurso do dia da paz, da reconciliação nacional? Todos os que ouviram sabem que não foi.

P: O discurso da UNITA tem sido bem mais tranquilo?
R: Já tem vindo a ser. A UNITA na entrada do ano, o senhor presidente Isaías Samakuva fez um discurso de prevenção do novo ano sobre o signo do movimento para a mudança, a plataforma para mudança, fez um convite ao país no sentido de que iríamos abraçar o ano com eleições, que exige uma grande responsabilidade, mas com grande aplauso e satisfação. Estamos num ano de eleições e estamos a convidar os angolanos que se reúnam porque os actores deste tipo de intervenções bastante quentes são identificados, são os nossos adversários políticos. Os angolanos façam a opção da mudança.
Não se deve pensar que nas eleições há o fim da vida, não. A democracia assenta mesmo na alternância do poder. Nós estamos absolutamente convencidos que a alternância do poder aqui em Angola trará melhoria excepcional mas se tivermos um partido a governar; mas uma UNITA será poder e noutro dia e noutras eleições a UNITA pode perder o poder. Democraticamente isto é bom que assim seja. Se não cristaliza. E portanto não haja pânico vamos olhar para as eleições com mais tranquilidade.

P: Qual é a mensagem que fica para a população?
R: A mensagem que deixo para a população é simples: eu sou daqueles dirigentes que pensa que a nossa população está madura. Letrados ou não, mas todos sabem bem o que querem, sabem identificar os discursos dos responsáveis e sabem fazer opções. É uma mensagem que vem acompanhada de alguns desejos porque ainda não são realidades. Gostaria de ver o senhor presidente da República convocar formalmente as eleições o mais breve possível. Como nós sabemos a lei dá um limite de três meses para que sejam formalmente convocadas. Se nós já temos uma data referencia indicada pelo senhor presidente da República, significa primeira semana de Setembro, significa que no limite no fim do mês de Maio é o máximo que ele pode levar para convocar formalmente as eleições. Como as eleições são um desafio muito grande quanto mais rapidamente nós sabermos caminhar melhor. Significa que todos vamos ser tratados da mesma forma e um dos pressupostos da democracia é exactamente a igualdade de oportunidade, a igualdade de circunstância. Outro elemento que fica como apelo é que á Comissão Nacional eleitoral sejam dadas efectivamente as condições totais para poder organizar e fiscalizar as eleições.

Fonte: Kwacha.net