Lisboa - O ministro do interior,  Ângelo de Barros Veiga Tavares nomeou recentemente Fernando Manuel Bambi Receado – notabilizado perito em tortura contra detidos - para o cargo de Director Provincial do Serviço de Investigação Criminal de Luanda, em substituição de António Pedro Amaro Neto.  A apresentação do mesmo,  aos quadros da instituição,  esta marcada para esta quinta-feira, 25.

* Paulo Alves
Fonte: Club-k.net

SIC Luanda  e Uige com novos directores

A nomeação de Fernando Receado  foi antecedida com a promoção ao grau de Sub-Comissário de Investigação Criminal, conforme consta na Ordem do Comandante-Em-Chefe n.º 16/18, que o Club-K teve acesso.

 

Fernando Receado, era até a data da nomeação, o Director Central de Operações do SIC,  cargo agora ocupado por António Pedro Amaro Neto.

 

Enquanto responsável pelas operações, o agora Sub-Comissário Fernando Receado e um outro colega Lourenço Ngola Kina (nomeado como  director provincial do SIC-Uige) tornaram-se famosos  por os seus nomes surgirem frequentemente em relatórios e outras denuncias por conduzirem interrogatórios recorrendo a tortura de forma barbara e sádica. Os seus actos de tortura são geralmente usados para colher confissão de réus.

 

Cronologia

 

2012 - No seguimento dos assassinatos de Isaías Cassule e Alves Kamulingue, pelo SIC, Fernando Receado interrogou o activista  Alberto os Santos que presenciou o rapto de Cassule, seu amigo.

“O chefe do Departamento de Crimes contra Pessoas da DNIC, Fernando Recheado, e o instrutor do meu processo, Armindo César, insistiam comigo, nos interrogatórios, para eu assumir que um partido [da oposição] me deu dinheiro para sequestrar os meus próprios colegas”, afirmou o detido, em entrevista ao Maka Angola.

 

“Eu recusei assumir essa mentira. O Sr. Fernando Receado insistiu para eu dizer que foi a UNITA quem ordenou o sequestro. Ele disse-me ‘nós [instituições do Estado] vamos te proteger’ e ameaçou-me que, se não aceitar acusar a UNITA, eu ficarei muito tempo na cadeia e sofrerei muito”, revelou Alberto dos Santos.

 

2013 – O então reu Manuel Lima “Bravo”, denunciou  que durante interrogatório na DNIC foi submetido a simulações de afogamento e foi-lhe  introduzido um pau no ânus (que lhe causou hemorroidais e sangramento) para que pudesse confessar o crime que estava a ser acusado. Fernando Receado que conduziu a instrução do processo recusou-se, dois anos depois, a comparecer em tribunal, alegando motivo de viagem medica  para Lisboa quando chamado a ir se explicar sobre estas torturas.

 

2017 – O detido João Alfredo Dala (na foto ao lado), por intermedio de uma reportagem no portal Maka Angola, revela como foi torturado pessoalmente por este novo director do SIC de Luanda – até o deixarem mutilado – para o obrigarem a repetir, em vídeo, uma confissão que lhe tinham preparado.

 

“O pastor Cem ordenou ao superintendente Fernando Receado que me amarrassem no formato de tortura do avião “Kadiembe”. Mas o chefe de operações do SIC optou antes pela tortura do pénis.

 

Segundo o detido, “o Pinto Leite retirou os atadores dos seus ténis Converse, amarrou os atacadores um ao outro, para o fio ficar comprido. O chefe Fernando Receado foi quem pessoalmente amarrou o fio no meu pénis e foi o primeiro a começar a puxar e a correr comigo à volta da sala, enquanto o pastor Daniel Cem e o irmão diziam que eu falaria rápido e todos se riam”.

 

Apesar de varias  denuncias públicas, as autoridades angolanas  nunca abriram um inquérito contra estes dois oficiais (Fernando Manuel Bambi e Lourenço Ngola Kina), que acabam de ser  recompensados/agraciados com promoção.

 


Com estas duas nomeações, segundo o activista Pedro Malembe, o ministro do interior Ângelo Tavares pretendeu transmitir que todas aquelas todas praticas desumanas da era de Eduardo dos Santos vão continuar na governação de João Lourenço. Por isso, entendemos que se “o Presidente João Lourenço deve nomear um novo ministro do interior, um novo director do SIC para que o seu mandato não seja manchado com praticas tortura institucional e outros actos que resultem em percas de vida”.

Alfredo Dala sendo torturado pelo SIC