Brasil - Em democracias toda opinião é sagrada até provas contrárias forem encontradas. As divergências têm os seus limites e começa onde a liberdade do próximo começa a ser ameaçada. Por isso as limitações mais do que justas à rádio Eclésia impostas pelo Governo e o Estado, para quem tiver visão aguçada, não podem ser vistas como uma atitude antidemocrática daqueles que estão verdadeiramente no poder: o Povo ( que mais do que nunca, hoje, precisa ser defendido e educado), o MPLA ( partido com responsabilidade e missão de escolher com sabedoria o joio do trigo -hoje tenho minhas duvidas sobre isso).
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O País das Aranhas (XI)
Antidemocracia é querer fazer engolir a toda uma nação a estranheza de um processo, cinicamente, hoje chamado pela Igreja Católica Romana e Apostólica de nova Evangelização. Que direto tem essa gente? De onde veem esta presunção moral ou ética, política ou cultural, já, imposta ao longo dos 500 anos de crime? E que esta democracia tem misturado ( e imposto) de maneira confusa. Já que nela todos devem ser respeitados; mesmo quando a podridão intelectual é aceitável e nisso estão as religiões jogando os seus papéis de anestesiadores sociais perante as dificuldades humanas do nosso mundo.
A alegação de que toda manifestação religiosa é um ato de liberdade é aceitável e correta. O problema está na maneira de se induzir, educar e preparar o cidadão a se manifestar de vários modos seguindo os valores culturais que desejamos edificar. Essa, por definição, não é uma função da Rádio Eclésia muito menos da Igreja. E permitir isso é violar aquele estatuto que diz que o Estado é laico. Na minha definição o papel religioso da Rádio Eclésia na sociedade Angolana ( e em qualquer uma) é de uma instituição reacionária que tenta descaradamente adaptar-se aos novos tempos. O catolicismo ou o cristianismo ou, ainda, qualquer outra forma de religião não pode ser aceito ou visto como um fenômeno não prejudicial na vida de uma nação. O que é sagrado para muitos pode ser supérfluos para uns e, totalmente, insignificante e desastroso para outros. Por isso as boas relações diplomáticas do Estado Angolano com a Igreja de Roma não podem ser um motivo para se passar em cima do pato social, que nós diz que a função de educar e levar cultura para todos os cantos do país é função do Estado.
Além disso, religião tem que ser visto como um patrimônio espiritual privado que ninguém tem direito de interferir, e nem se responsabilizar pelo mesmo. Assim deve ser sustentado usando-se recursos e espaços privados próprios onde o Estado não tem obrigação, dever nem direito de interferir. E quando o faz a favor desta fere o que foi pactuado inicialmente. As duas expressões – recursos e espaços- devem ser entendidas no sentido literal da palavra -material e espiritual. E também deve se entender que o espaço de freqüência eletromagnética numa região ( país ou nação) é um patrimônio público. Que pode ser usado pela iniciativa privada, sim, mas seguindo a conveniência sócio-cultural e política de cada povo ou nação. A Igreja Católica Romana e Apostólica não está a altura ou em condições de exigir nada! É um direito do mesmo ( o Estado) interferir ou não nesse meio com os recursos que tem, quando o que está em jogo são os valores espirituais de uma nação ( que nesse caso não passa, jamais, pela evangelização). Num país como Angola ( e em qualquer um) o Estado é soberano e não tem porque permitir a interferência nos seus atos, todos são obrigados a cumprir a mesma lei não importe de onde venham: de Roma ou de Jerusalém.
O que não se pode admitir é pôr o Estado entre a espada e a parede só porque vivemos em tempos em que os ventos sopram a favor de uma democracia. Mesmo porque qualquer forma de religião não é uma instituição democrática. Qualquer igreja pode ser vista, com a liberdade que a democracia nos oferece, como uma ditadura a ser rejeitada e censurada por qualquer cidadão. É um direito! Essa censura e rejeição devem ser respaldadas pelo direito de se viver numa democracia onde quem garante o mesmo regime democrático é o Estado.
E mais, o Estado tem que ser conivente com o povo e a nação, e não com os grupos religiosos que existem por aí. Existe um consenso pretensioso e errado de que a Igreja Católica deve ter o direito que os outros grupos sociais não têm. E é nessa pretensão errada onde entra a choradeira arrogante e prepotente da mesma igreja e de alguns grupos defensores dela. A impressão que se tenta dar é de que ela deve ter caminho livre para tudo o que desejar. Esquecem-se muitos que passaram os tempos em que essa tinha até exercito ou todas as formas de poder para impor seus desejos; e que hoje nem idéias tem para continuar a defender o que a mesma procura sustentar: sofrimento na Terra e felicidade eterna nos Céus. Coisa que não convém com certeza à maioria da população, isso em qualquer país e com muito mais razão em Angola.
É um erro de insegurança jurídica ceder as pressões de qualquer igreja e, principalmente, a choradeira de extensão da Rádio Eclésia. Se isso acontecer o Estado deixará escapar a sua autoridade ou sendo absorvida por instituições que por definição têm características fundamentalistas: as Igrejas ou as Religiões.
É a esse fundamentalismo que o nosso artigo tenta rejeitar. É a essa instituição hoje travestida e adaptada aos novos tempos com cara de tudo e amigo de todos. Mas que não perdeu a sua essência criminosa enganadora de induzir, persuadir, fazer aceitar à milhões de pessoas a assimilar um sofrimento que só o homem com “altura” que tem e nos tempos em que vivemos pode , deve e tem obrigação de evitar; que “ouvintes” como nós tentamos recusar!
Já dissemos que o papel social de qualquer rádio religiosa na opinião desse articulista é questionável. Hoje qualquer pessoa de bom senso ao estudar e ler a história de qualquer religião, desde que não tivesse má fé e não fosse forçado a emitir julgamento contrario a pesquisa realizada, concluiria acertadamente que essa história é uma história de crimes. Onde os massacrados são sempre os povos e nações inteiras, e a justificação é uma suposta evangelização dos povos bárbaros. Este governo e a oposição que temos hoje já estão à altura de pensarem hoje que país, que povo, que nação e que cidadão desejamos para o futuro.
A questão aqui não é só política – de como devem ser educados os homens para um dia chegarem ao poder ou de terem habilidades eleitorais de elegerem os seus dirigentes. A questão é acima de tudo filosófica. De como o homem deve ser educado para enfrentar no cotidiano, os problemas do dia a dia: ver na verdade ( e nela – e só nela) um instrumento a ser descoberto para resolvermos os nossos problemas. Ou na fé o instrumento que ninguém sabe como manipular, para se seguir sonhando com os Céus e tropeçar na Terra? Qual das duas virtudes – se a segunda faz parte das virtudes- é mais eficiente para se construir um país?
Com crianças sendo acusadas de feiticeiras, sofrendo violências de todos os tipos, sendo estupradas; e com a violência doméstica que se transformou quase num direito de quem tem o maior poder dentro de um lar; é verdade que a sociedade angolana atual está longe de dar exemplos de civilidades. Mas é engano pensar que a “perfeição” e a introdução de valores que nos tornarão menos bárbaros virão de uma suposta evangelização. E é baseado nesse toque filosófico que não podemos desprezar nem omitir a presença do Estado, da razão, da verdade e das leis que servem para organizarem os homens; e exigimos a sua máxima presença ( do Estado) e alerta aí onde mais se sente a sua falta: na Educação. Nesse país ( Angola) cada falha, cada erro, cada aberração ( incluindo todas aquelas trazidas pelas religiões) terá sempre um responsável. Que será sempre julgado no passado, no presente e no futuro. E esse responsável chama-se o Estado.
Os habitantes da cidade de Luanda há tempos que se surpreendem com o papel da mesma rádio ( a Eclésia). Há quem diga, que a sua mais mínima função de evangelizar e sacerdotisar – função contestada por nós aqui- vem sendo descuidada. A mesma passou a ser um instrumento eficaz de agitação política da oposição e daqueles que se sentem na pele dos malfeitores que esse país ainda tem. Que bom!!!!!!!! A rádio Eclésia tem todo o direito de fazer política e apoiar os políticos que quiser. Mas então é preciso definir bem a sua posição, assim os adversários da mesma não estarão despercebidos, e tendo a mesma como amigos e parceiros. Além disso, com o fim da guerra, uma das promessas da mesma rádio, promessa vinda de Roma ( do Vaticano), era a de pacificar os espíritos. Vozes por aí, dizem: que isso tem se perdido de vista. E o papel da mesma rádio, num país como Angola, está posto em dúvida. Ela é tão reacionária e traiçoeira quanto o da Igreja que a sustenta!
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